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Politica Brasil
Sábado - 19 de Fevereiro de 2005 às 20:13
Por: Onofre Ribeiro

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Na semana passada aconteceu um acidente gravíssimo na rodovia BR-163, no trecho entre Trevo do Largarto e Jangada. Morreram 13 pessoas no local. No dia seguinte os jornais publicaram o acidente na sua manchete principal anunciando as mortes que as emissoras de televisão e os sites de notícias já haviam mostrado à exaustão no dia anterior, com imagens e com fotos.

Claro que é dever dos jornais impressos registraram o acidente, ainda que carregando o prejuízo de 24 horas desde o acontecimento. Mas se têm essa perda, em contrapartida têm mais tempo para aprofundar no assunto.

Não foi o que aconteceu. Os jornais trataram o assunto da mesma forma que a televisão e os sites. Deram a mesma informação: morreram 13 pessoas.

O leitor teve que se contentar com as fotografias dos destroços do microônibus e da carreta do acidente e com os corpos das vítimas espalhados no local.

O leitor esperava outro tipo de informação, já que isso ele vira no dia anterior. Ele certamente esperava ler a história do acidente. E a história é rica. Uma das passageiras sonhou com o acidente e, por isso, sentou-se na última poltrona do ônibus. Salvou-se. Outra, grávida de quatro meses sofreu traumatismos, está internada na UTI, mas seu filho salvou-se. Cada um dos passageiros teria a sua estória naquela viagem fatal. Muitas poderiam ser resgatadas para dar ao leitor a dimensão humana da tragédia.

A estória dessas pessoas, a do sonho, da grávida, atenderiam á necessidade lúdica dos leitores em episódios como esse. Basta nos lembrarmos de que quando passamos por um acidente, detemo-nos longamente nos detalhes, em busca de consolo, de explicação ou de estabelecer uma linha de compreensão.

Por outro lado, o motorista da carreta, um rapaz de 22 anos, tem a sua própria estória. Com toda a certeza ele estaria usando os famosos estimulantes para tirar o sono, conhecidos de todos os motoristas das estradas brasileiras como “rebites”. Seria o caso de se aprofundar no uso dos “rebites”. Mas, talvez, mais importante, fosse entender porque esses motoristas não param para dormir, como todo mundo. Todo mundo sabe que eles vivem sob pressão extrema para cumprir prazos na entrega das cargas e na recarga, apesar das péssimas estradas.

chega a ser covardia e escapismo. Ele é tão vítima quanto os que morreram no ônibus. Logo, a questão dos motoristas “rebitados” precisaria ser tratada no desdobramento do assunto nos dias seguintes, para que a tragédia também não morra na memória da sociedade. E, principalmente, não se repita mais. No trecho onde ocorreu o acidente, em 2003 circulavam 7.500 veículos por dia, dos quais 70% eram carretas. Hoje deve ter aumentado, e aumentou progressivamente o risco de quem trafega nas estradas.

O tratamento burocrático que a imprensa cuiabana e várzea-grandense deu ao acidente foi digno de uma repartição pública: bateu o carimbo e passou o problema adiante. Os leitores ficaram frustrados e os acidentes se repetirão porque este que foi o maior dos últimos anos só repercutiu mesmo nas famílias das vítimas. O poder público, mais uma vez, escondeu-se no silêncio incompetente, e ninguém entendeu porque se morre tanto nas estradas.

Faltou a estória do acidente. Ela é quem comove e produz mudanças.

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM

onofreribeiro@terra.com.br




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