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Cultura
Sábado - 19 de Fevereiro de 2005 às 11:00

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Na próxima semana, nos dias que antecedem a 77ª cerimônia anual de entrega dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o que não vai faltar são previsões sobre o Oscar.

Mas prever o rumo do pensamento coletivo da Academia não é tão difícil assim. Muitas vezes as coisas se resumem a um fato simples: quando o assunto é Oscar, quem manda são os atores. De longe a maior presença entre os eleitores da Academia, os atores formam 1.277 dos 5.808 membros desta que têm direito ao voto.

Isso não é boa notícia para a cinebiografia O Aviador, provavelmente a obra de entretenimento mais acessível criada por Martin Scorsese em toda sua carreira. O filme poderia ter tranqüilamente garantido os prêmios de melhor filme e melhor diretor, não fosse a entrada na disputa do comovente Menina de Ouro, de Clint Eastwood. Agora os dois filmes disputam as honras de melhor filme e melhor direção.

Normalmente os grandes épicos levam vantagem na disputa por melhor filme, porque a Academia tende a premiar os trabalhos mais ambiciosos, como atestam O Senhor dos Anéis -- O Retorno do Rei, Gladiador, Titanic, O Último Imperador e Gandhi.

Foi por isso que o filme de Scorsese sobre o bilionário playboy Howard Hughes recebeu 11 indicações e certamente receberá muitos votos nas categorias técnicas: diretores de arte (374 eleitores), editores (224), diretores de fotografia (183), efeitos de som (417) e visuais (242), além de música (239) e diretores (375).



Poder dos atores

Mas a Miramax, a distribuidora responsável por Shakespeare Apaixonado, que surpreendeu ao levar o Oscar de melhor filme em 1998, compreende que os atores podem facilmente fazer a balança pender em favor de trabalhos menores, mas que dão mais espaço para os atores, como Marty, Gente Como a Gente e Beleza Americana.

Por que os atores provavelmente votarão em Menina de Ouro? Entre Umas e Outras (Sideways), favorito da crítica e do Sindicato de Atores (deste, na categoria elenco total), tem apoio de atores. Mas muitos atores podem votar em Menina de Ouro porque o filme foi produzido, dirigido e representado por um ator.

Infelizmente para Scorsese, o setor dos atores que conduziu atores-diretores como Robert Redford (Gente Como a Gente), Warren Beatty (Reds), Kevin Costner (Dança Com Lobos) e Mel Gibson (Coração Valente) à vitória de melhor direção provavelmente também vai apoiar Eastwood. Não apenas ele levou para casa o Oscar de melhor direção por Os Imperdoáveis, de 1992, como recebeu o prêmio de direção, este ano, de seus colegas no Sindicato dos Diretores.

A idade também representa um ponto a favor de Clint Eastwood. Aos 74 anos, Eastwood vai receber votos de empatia por sua idade e sua perseverança. Diferentemente do nova-iorquino Scorsese -- que, com 62 anos, ainda é visto como relativamente jovem --, Eastwood é um ícone de Hollywood. O fato de que ainda teve que lutar para conseguir financiar seu trágico drama sobre figura paterna e figura de filha lhe vale pontos adicionais.

Oscars de atuação ainda são incógnitas Quando o assunto é a disputa pelos Oscar de atuação, porém, os resultados são menos previsíveis.

Ironicamente, a disputa na qual se prevê que Eastwood perca é justamente a de melhor ator, na qual Jamie Foxx é visto como o favorito por seu trabalho em Ray. Mesmo assim, Eastwood é um candidato sério porque nunca ganhou um prêmio de atuação, e alguns eleitores podem querer consertar essa falha. É difícil, porém, imaginar que os eleitores mandem Clint Eastwood ao pódio três vezes numa só noite.

Nas últimas semanas Don Cheadle vem ganhando ímpeto pelo papel principal de Hotel Rwanda, drama sobre o genocídio em Ruanda. Mas ele teria de superar obstáculos poderosos nas pessoas de Foxx e Eastwood.

Mas Menina de Ouro deve se afirmar na categoria ator coadjuvante. Morgan Freeman é um ator veterano e amado que ainda não recebeu um Oscar em sua carreira. Sua quarta indicação tem grandes chances de finalmente lhe valer a estatueta.

Menina de Ouro também tem chances de valer um Oscar de melhor atriz a Hilary Swank, com a ajuda dos votos dos eleitores mais jovens da Academia. Mas os atores mais velhos, lembrando como ela derrotou Annette Bening, de Beleza Americana, em 2000, por sua atuação em Meninos Não Choram, podem optar por premiar Bening desta vez (por Being Julia).

Se Swank e Bening empatarem pela preferência dos eleitores, Imelda Staunton, ganhadora do troféu Bafa (Academia Britânica de Cinema) de melhor atriz por Vera Drake, tem chances de levar o Oscar para casa, com a ajuda dos cerca de 500 membros da Academia residentes na Europa.

E sua colega ganhadora do Bafa, Cate Blanchett, leva vantagem na categoria melhor atriz coadjuvante e tem tudo para conquistar o único Oscar de atuação de O Aviador, por sua brilhante atuação no papel de Katharine Hepburn.

Existe um último fator que pode influir sobre os votos pelo Oscar. Menina de Ouro já mostrou que é capaz de fazer até homens adultos chorarem. Filmes que suscitam tanta emoção assim muitas vezes têm vitórias arrasadoras.





Fonte: Reuters

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