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Como se cuiabanos todos fôssemos...!
Gostaria de iniciar o ano com um artigo onde fale mais do coração do que da razão. No ano passado, mais do que em outro qualquer nesses 28 em que vivo em Mato Grosso, ouvi falar nesse termo que acabou tão popularizado na eleição municipal da capital: cuiabania.
Escrevi, outros escreveram, tantos discutiram, mas ainda ficou uma pendência histórica, humana, sentimental e sociológica para ser compreendida. No correr da semana que passou tive uma longa conversa com o jornalista Ramon Monteagudo, a respeito de cuiabania, e até mesmo desta tão questionada relação do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi com Cuiabá e, obviamente, com a cuiabania. A partir daí e daquelas conversas mal terminadas, decidi costurar mais um ponto nessa rede cuiabana que tanto se tece, mas nunca se termina de compreender a sua lavratura.
Ramon perguntou-me: “o que é cuiabania?, desejando, talvez, uma resposta político-cultural”. Em tese, cuiabania é o comportamento consolidado em Cuiabá e sua área de influência político-cultural ao longo dos últimos 283 anos, desde que ela se tornou o núcleo inicial da ocupação da Coroa portuguesa a Oeste da colônia brasileira.
Nesse tempo houve altos e baixos de todos os tipos, até que a vila de 1719 acabou se consolidando capital da Província e depois do estado de Mato Grosso. Mas esse vai-e-vem de gentes bandeirantes, de caboclos que os acompanhavam como mão-de-obra braçal, os índios bororos da vasta região dos cerrados e do pantanal, os negros escravos, formaram um núcleo inicial. Depois do fim da Guerra com o Paraguai e a regularização definitiva da navegação no rio Paraguai, levas de migrantes europeus chegaram à Cuiabá colonial de casas baixas geminadas, com alicerces e calçadas de pedra canga.
Trouxeram o ferro, arquitetos, engenheiros, novos costumes e influenciaram a cara da provinciana Cuiabá. Era de se esperar que esse miscigenar constante e gradual produzisse um modo de agir e de pensar, por mais modesto que fosse, ao longo desse tempo de tanto isolamento geográfico.
O fato de ser a capital a partir de 1848, gerou uma forma política de pensar e de se comportar, como pólo irradiador de influências sobre um vasto e quase desabitado território. Porém, a partir de 1960 os modestos 57 mil habitantes multiplicaram-se para quase 600 mil em 2004. Mudou, de certo modo, a forma de agir e de pensar. Mas com certeza não perdeu a forma original de se comportar conceitualmente. O poder financeiro mudou de mãos. Até a política mudou de mãos. Mas esses 543 mil novos cuiabanos, ou neo-cuiabanos como diriam alguns, nem são aqueles tradicionais, nem são mais aqueles migrantes. No geral, todos intercambiaram valores, o pensar e comportamentos.
Na metrópole, o pensar é coletivo-impositivo. Mas na mescla cosmopolita, o pensar é livre e tende a seguir onde a lógica determinar. Num clima tropical, de andar pausado,a lógica tem caminhado pelo meio termo. Quem era não deixou de ser. Quem não era também não deixou de ser. Mas ambos já não são mais os mesmos de antes.
Esta talvez seja a maior equação sociológica dos próximos anos para os estudiosos decifrarem, a partir de um termo que despertará discussões pelo futuro afora até um dia em que formos todos cuiabanos de agir e de pensar, como se cuiabanos fôssemos desde sempre. Aí, a cuiabania de então será a cultura vigente!
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
onofreribeiro@terra.com.br
Escrevi, outros escreveram, tantos discutiram, mas ainda ficou uma pendência histórica, humana, sentimental e sociológica para ser compreendida. No correr da semana que passou tive uma longa conversa com o jornalista Ramon Monteagudo, a respeito de cuiabania, e até mesmo desta tão questionada relação do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi com Cuiabá e, obviamente, com a cuiabania. A partir daí e daquelas conversas mal terminadas, decidi costurar mais um ponto nessa rede cuiabana que tanto se tece, mas nunca se termina de compreender a sua lavratura.
Ramon perguntou-me: “o que é cuiabania?, desejando, talvez, uma resposta político-cultural”. Em tese, cuiabania é o comportamento consolidado em Cuiabá e sua área de influência político-cultural ao longo dos últimos 283 anos, desde que ela se tornou o núcleo inicial da ocupação da Coroa portuguesa a Oeste da colônia brasileira.
Nesse tempo houve altos e baixos de todos os tipos, até que a vila de 1719 acabou se consolidando capital da Província e depois do estado de Mato Grosso. Mas esse vai-e-vem de gentes bandeirantes, de caboclos que os acompanhavam como mão-de-obra braçal, os índios bororos da vasta região dos cerrados e do pantanal, os negros escravos, formaram um núcleo inicial. Depois do fim da Guerra com o Paraguai e a regularização definitiva da navegação no rio Paraguai, levas de migrantes europeus chegaram à Cuiabá colonial de casas baixas geminadas, com alicerces e calçadas de pedra canga.
Trouxeram o ferro, arquitetos, engenheiros, novos costumes e influenciaram a cara da provinciana Cuiabá. Era de se esperar que esse miscigenar constante e gradual produzisse um modo de agir e de pensar, por mais modesto que fosse, ao longo desse tempo de tanto isolamento geográfico.
O fato de ser a capital a partir de 1848, gerou uma forma política de pensar e de se comportar, como pólo irradiador de influências sobre um vasto e quase desabitado território. Porém, a partir de 1960 os modestos 57 mil habitantes multiplicaram-se para quase 600 mil em 2004. Mudou, de certo modo, a forma de agir e de pensar. Mas com certeza não perdeu a forma original de se comportar conceitualmente. O poder financeiro mudou de mãos. Até a política mudou de mãos. Mas esses 543 mil novos cuiabanos, ou neo-cuiabanos como diriam alguns, nem são aqueles tradicionais, nem são mais aqueles migrantes. No geral, todos intercambiaram valores, o pensar e comportamentos.
Na metrópole, o pensar é coletivo-impositivo. Mas na mescla cosmopolita, o pensar é livre e tende a seguir onde a lógica determinar. Num clima tropical, de andar pausado,a lógica tem caminhado pelo meio termo. Quem era não deixou de ser. Quem não era também não deixou de ser. Mas ambos já não são mais os mesmos de antes.
Esta talvez seja a maior equação sociológica dos próximos anos para os estudiosos decifrarem, a partir de um termo que despertará discussões pelo futuro afora até um dia em que formos todos cuiabanos de agir e de pensar, como se cuiabanos fôssemos desde sempre. Aí, a cuiabania de então será a cultura vigente!
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
onofreribeiro@terra.com.br
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/362016/visualizar/
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