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Politica Brasil
Domingo - 05 de Dezembro de 2004 às 06:52
Por: Lígia Tiemi Saito

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O deputado federal Wellington Fagundes (PL), candidato derrotado pela segunda vez à Prefeitura de Rondonópolis, diz ter sido vítima do esquema de compra de votos. Move processo nesse sentido contra o prefeito eleito Adilton Sachetti (PPS). Fagundes, que no início da campanha liderava as pesquisas de intenção de votos, chegou na reta final com 27.931 votos, 3.001 votos a menos em relação ao eleito.

O liberal critica a administração do prefeito rondonopolitano, Percival Muniz (PPS). Para ele, o prefeito pecou pelo improviso. "Ele não se preocupou com a qualidade de vida da população". Em relação à gestão Blairo Maggi, diz que o governo não dá atenção suficiente ao micro e pequeno produtor. Além disso, alerta para o risco que o Estado sofre por focar a economia em commodities, principalmente na soja. "A economia fica muito vulnerável". Fagundes discorre sobre o processo eleitoral e garante que o governo federal, por meio do Ministério dos Transportes, está investindo na malha viária em Mato Grosso.

A Gazeta - O sr. perdeu pela segunda vez consecutiva as eleições em Rondonópolis. Tem intenção de disputar novamente?

Wellington Fagundes - Futuramente, depende. Em princípio sou candidato a reeleição para deputado federal.

A Gazeta - A coligação do sr. acusa o prefeito eleito Adilton Sachetti (PPS) de compra de votos. Há provas de abuso de poder econômico?

Fagundes - São vários processos. Teve abuso de poder econômico na campanha. Após a eleição foi feita a movimentação das pessoas dando testemunho. Foram mais de 500 pessoas, que através do movimento lá da cidade o denunciaram. E esse movimento denunciou a coligação.

A Gazeta - Mas Sachetti diz que essas acusações são "esperneio dos derrotados". Como o sr. avalia essa afirmação?

Fagundes - Isso é natural. Quando você está no jogo, cada um faz a sua defesa. Assim como ele diz isso, eu entendo que é a defesa dele. E ele está argüindo de acordo com a orientação da defesa.



A Gazeta - O que o sr. acha que contribuiu para a derrota nas eleições?

Fagundes - Ficou muito evidente que o terceiro candidato passou, de um dia para o outro, para primeiro lugar nas pesquisas. Então, não tenho dúvidas. Se você for procurar pela cidade, toda cidade sabe que o que mudou o resultado das eleições foi a compra de votos.

A Gazeta - O sr. foi duramente atacado durante a campanha?

Fagundes - Fui. Toda imprensa colocou, quer dizer eles usaram de todos os artifícios leais e desleais.

A Gazeta - Quais artifícios? E quais foram os leais e os desleais?

Fagundes - A nossa campanha não teve ataque pessoal. A deles foi feita na base do xingamento, todo tipo de ação, todo o tipo de jogo inclusive usando parte da imprensa de Cuiabá. Usaram sites, jornais que não têm circulação em Rondonópolis. A imprensa de Rondonópolis não entrou no jogo deles, então eles tiveram que usar a imprensa de fora, ou seja, jornais pagos de fora.

A Gazeta - Como o sr. avalia a administração de Percival Muniz, para quem o sr. perdeu em 2000?

Fagundes - Nenhuma administração tem só pontos negativos. A gestão de Percival pecou muito pelo improviso, foi muito na base da preocupação política e pouca preocupação com as pessoas. A qualidade de vida em Rondonópolis é muito ruim, a área de saúde é péssima.

A Gazeta - O sr. acredita, então, que não foi feito um trabalho efetivo para melhorar a vida da população?

Fagundes - Acho que o Percival fez o trabalho dele. Ele pegou a prefeitura em um momento de muita crise, aliás provocada por ele mesmo.

A Gazeta - Quais são os pontos positivos?

Fagundes - A capacidade política de envolver a tudo e a todos. A convergência, quer dizer ele conseguiu maioria absoluta da Câmara e isso facilitou muito o trabalho dele. Nunca fizemos oposição ferrenha. Ao contrário, quando ele entrou na administração procuramos ajudar. Quer dizer, como parlamentar eu nunca misturei a minha posição de disputa política.

A Gazeta - E quais seriam os pontos negativos?

Fagundes - O improviso, uma administração que não teve preocupação com a qualidade de vida, haja vista que a saúde hoje é um caos, o social é muito deficiente.

A Gazeta - O sr. acha que ele poderia ter feito mais pela cidade?

Fagundes - A falta de infra-estrutura é muito grande. Por exemplo, investiu-se R$ 5 milhões em um construção da sede da prefeitura, uma sede improvisada. Eu priorizaria outras áreas, principalmente saneamento básico e infra-estrutura. Cada governo tem a sua prioridade, a sua visão.

A Gazeta - Em relação ao Estado, como o sr. avalia a administração Blairo Maggi?

Fagundes - O Estado está vivendo um momento econômico forte no agronegócio. Mas com a temeridade de que nós produzimos poucos produtos. Hoje a economia nossa é de concentração de renda. Economia de produtos commodities, produtos que são de pouco valor agregado baseado em grandes produções para exportação. Então o governo por um lado é positivo, porque faz volume de movimento no Estado, só que esse recurso ele acaba bastante concentrado. Então, eu acho que deve dar atenção ao pequeno e micro-produtor, a atenção ao pequeno comerciante, que hoje está muito assoberbado da carga de impostos.

A Gazeta - Em geral, o sr. acha que o governador tem administrado bem?

Fagundes - Cada governo tem que ter seu foco. O foco do Blairo, como grande produtor, está sendo de abrir a esse grande produtor. Isso é um processo que tem resultado a curto prazo. A médio e a longo prazo ele tem que ver as consequências sociais que isso vai levar.

A Gazeta - Que nota o sr. atribuiria ao governo?

Fagundes - Eu não dou nota. Eu, como político de oposição, prefiro que a população dê a nota.

A Gazeta - O sr. concorda com o ex-governador Dante de Oliveira (PSDB), que afirmou que Blairo só pensa em estradas?

Fagundes - O governador determinou um foco da administração dele, mas o risco é grande quando você fica dependendo só dele.

A Gazeta - O governo fica vulnerável?

Fagundes - A economia é que fica. Talvez seja um dos estados mais vulneráveis, porque focou sua economia só em um segmento.

A Gazeta - Comparando o governo Maggi com o de Dante Oliveira, qual o sr. acha que foi melhor?

Fagundes - Cada um teve sua fase. Dante teve sua fase na questão energética. Ele fez isso com muita força, teve a competência de fazer a reforma e iniciar o apoio à solidificação do agronegócio. Quem colheu os frutos nesse aspecto foi o Blairo. Então, acha que não dá para fazer comparação e, principalmente, em termos de nota. O Dante teve a sua fase e foi julgado, o Blairo também está tendo a sua fase e será julgado. O Blairo pode viver uma crise com agronegócio, porque governo dele está muito voltado para isso. O médio e pequeno comerciante passa muita dificuldade hoje no Estado, porque não tem nada de incentivo, ao contrário, a sobrecarga é muito grande e maior do que em muitos estados do país.

A Gazeta - Maggi será imbatível no pleito de 2006?

Fagundes - Todos imaginavam que o Dante era imbatível para senador. Então, não existe político imbatível, muito menos dois anos antes da eleição. Ele está apenas na metade do governo.

A Gazeta - Que conclusão chega da vitória de Wilson em Cuiabá?

Fagundes - Como todos dizem, foram os apoios agregados no segundo turno. Não teria problema nenhum esse ou aquele dizer que apoiava, mas não podia estar incorporado no discurso e no projeto de governo, ou seja, com essa incorporação complicou o discurso do Alexandre e a linha que ele vinha seguindo no primeiro turno. Isso acabou deixando a população desconfiada e fortaleceu o discurso de Wilson Santos, inclusive com relação às tradições de Cuiabá, que acabaram no segundo turno indo para o lado do Wilson.

A Gazeta - Como avalia as críticas do governo Maggi ao Ministério dos Transportes, comandado pelo PL. Ele diz que as BRs de MT estão abandonadas?

Fagundes - O governo Lula pegou o Ministério dos Transportes com R$ 1,2 bilhões de dívidas. Então o primeiro e o segundo ano foram difíceis para o ministério colocar o atrasado em dia. O que se investiu nesses dois anos foi praticamente igual aos últimos anos do governo Lula, só que o investimento acabou servindo para pagar dívida e não para investimento novo. O volume de investimento novo realmente foi pouco. O volume de investimentos na área de infra-estrutura do Brasil deixa muito a desejar. Nesse momento, o governo Lula já pagou todos os atrasados, não tem dívidas em relação ao Ministério do Transportes. É bom lembrar que, na época do governo FHC, ele resolveu extinguir o DNER e criar o Dnit. O DNER era um órgão respeitadíssimo, uma marca muito forte no Brasil. O que aconteceu com isso? Desestruturou totalmente o órgão. Então, o governo Lula assumiu o Ministério dos Transportes sem nenhum planejamento e sem nenhum projeto.

A Gazeta - O sr. vê inoperância da UnitT em viabilizar recursos para as rodovias estaduais?

Fagundes - No ano passado MT teve um porte de recursos consideráveis. Na região sul, as estradas estão consideravelmente em condições de trafegabilidade. Lembra-se que quando o governo Lula assumiu estava um caos. Hoje a BR-151 está em condições de trafegabilidade e isso só foi possível graças aos convênios que fizemos com prefeituras. A BR-364 e a 163, tanto da divisa de MS quanto de GO, quando nós assumimos o Ministério dos Transportes, estavam em estado de caos, hoje estão em condições de trafegabilidade. Nós temos a construção da BR-364 que está avançando. Temos um problema em alguns trechos da BR-163, que inclusive foram feitos alguns convênios com as prefeituras de Nova Mutum, de Diamantino. Agora existe trechos que estão sendo licitados, que é do projeto do Crema. Hoje concertar uma estrada não é só ter dinheiro. Tem que ter todo o vencimento burocrático, que são as licitações.

A Gazeta - O PL vai continuar aliado ao PT nas eleições de 2006?

Fagundes - Em princípio sim. Hoje o PL faz parte da base aliada do governo. O PL tem dado toda sustentação ao governo.

A Gazeta - Como o sr. avalia a reduzida liberação de verbas do OGU para MT?

Fagundes - Não para MT, a reduzida liberação é para o Brasil inteiro. Nos últimos dois anos do governo FHC e o primeiro ano de Lula a liberação de recursos orçamentários têm sido cada vez menor. Porque o país está engessado ainda com a rolagem da dívida, com o FMI, compromissos externos. Há muita carência de investimentos, mesmo em algumas áreas o governo Lula investindo mais que os governos anteriores.




Fonte: A Gazeta

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