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Politica Brasil
Quarta - 10 de Novembro de 2004 às 08:40
Por: Carlos Martins

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Depois de dez horas de julgamento, Sebastião Gonçalves Bastos, 60 anos, foi absolvido ontem da acusação de envolvimento pela morte do índio Yaminerá Suruí, crime ocorrido durante um conflito entre colonos e indígenas no dia 16 de outubro de 1988. Segundo a denúncia, grupos armados teriam invadido a reserva Zoró, em Aripuana (1.010 Km a Noroeste de Cuiabá), o índio Suruí, então com 70 anos, acabou morto. A maioria dos jurados aceitou a tese da defesa de que não ficou comprovada a participação de Sebastião, que foi denunciado com mais cinco pessoas. Não houve também a materialidade do crime porque nenhum laudo provou que o corpo carbonizado encontrado mais tarde realmente era o de Yaminerá Suruí.

Foi o nono tribunal do Júri federal instalado desde a criação da sessão judiciária federal em Mato Grosso em 1967. O julgamento, que começou às 8h40, foi presidido pelo juiz federal da 3ª Vara, César Augusto Bearsi, e ocorreu no Hotel Paiaguás. A sentença saiu um pouco antes das 19 horas. O procurador da República Rodrigo Telles de Souza sustentou a acusação baseado em depoimentos de testemunhas que afirmaram que Sebastião teria participado do grupo armado que invadiu a reserva e disparado tiros contra os índios. A acusação apresentou como testemunhas o índio Celso Suruí, o funcionário da Funai João Gilberto da Silva Nogueira e o lavrador Florisvaldo dos Santos, que também depôs pelo lado da defesa juntamente com a prefeita de Colniza, Nelci Capitani.

Segundo a advogada Selma Pinto de Arruda Guimarães, de Juína, os colonos haviam se instalado numa área na região e seis anos depois a Funai decidiu que a terra pertencia aos índios. O cacique Paió, da tribo Zoró, teria se colocado a favor dos colonos diante dos benefícios conquistados como a abertura de estradas. “Talvez por ciúmes, por não estarem usufruindo dos benefícios, outras tribos, como a Gavião, Araras, Cinta-larga e Suruí, se revoltaram, o que motivou o conflito”, disse a advogada. Diante da notícia de que os índios estavam saqueando as casas dos colonos, Sebastião, que era empregado de um colono, teria saído com uma caminhonete em socorro.

“O que ocorreu foi um conflito e não se pode provar que o Sebastião foi quem atirou”, disse Selma, que ressaltou as dificuldades por que passa Sebastião, que continua morando em Aripuanã e não tem terra alguma. “Estamos fazendo sua defesa de graça”, disse ela, que atuou na defesa juntamente com o advogado José Marcílio Donegá. Oito índios vieram da Reserva 7 de Setembro, de Cacoal (RO), vizinha à reserva de Suruí. Liderados pelo cacique Henrique Yabadai Suruí, eles assistiram ao julgamento e não gostaram da postura da defesa, que além de ressaltar a agressividade dos indígenas, também sustentou que os índios também mentem. “Foram palavras pesadas”, disse o cacique.




Fonte: Diário de Cuiabá

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