Valeu PT!

Tinham como lastro o governo federal, como cabo-eleitoral o Presidente da República, como apelo publicitário a promessa de envio de recursos federais. Mesmo assim perderam!

Faltou-lhes coisas que eles não julgavam importantes. Faltou-lhes conhecimento, competência, experiência, crédito, argumento. Faltou-lhes, acima de tudo, humildade. A arrogância que usavam nas portas de fábricas quando enfrentavam policiais, que era interpretada pela população como coragem e audácia, hoje agride o povo.

Essa postura rancorosa pesou mais que as promessas não cumpridas pelo presidente Lula. Pesou mais que o episódio do Sr. Cândido. Digo isso pelo que ouvi de uma conhecida ontem: “Eles (o PT), mexeram com o nosso brio”. Foi isso. Essa agressividade, muito útil como arma contestatória, insultou a população e a convocou a participar. E que participação! A população deu exemplo de que está a postos e que, quando convocada, comparece!

Tive a oportunidade de assistir, in loco, aos debates organizados pela Gazeta. No último eu não entrei no estúdio, assisti de um auditório, por um telão. Lá estavam alguns assessores e convidados do PSDB e do PT. Na coluna do meio se acomodaram altas personalidades do partido dos trabalhadores, o que me fez acreditar que iria predominar um clima de racionalidade. Bastou o candidato petista falar a primeira frase para eu ver que estava enganada.

O espírito de soberba e presunção, em uma baderna enrustida que às vezes se manifestava em arrogante pseudo-sabedoria, ainda ocupa as mentes dos ex-reivindicadores. De nada adiantou a presença, que cheguei a imaginar de alto nível, de um deputado federal, uma estadual e uma vereadora. Nada! A evolução nesses vinte anos foi ínfima. O grande problema do PT é que eles não buscam a verdade, pelo fato de acreditarem que “são” a verdade.

Como “são” a verdade, não existe corrupção no obsceno relacionamento do José Dirceu com Waldomiro, não são fraudulentas as licitações das coletas de lixo em São Paulo, não foi despudorada a entrega do terminal portuário de Porto Murtinho em Mato Grosso do Sul para a família do governador Zeca do PT, e tantos outros.

Mas, valeu PT! Valeu a implementação do seu mais bem sucedido programa social de distribuição de renda, o Bolsa-eleição. Foi um exemplo de que existem “meios” que podem, perfeitamente, serem utilizados na assistência à população carente. Claro, falharam no de sempre, na contrapartida. Se para ser um beneficiado pelo Bolsa-eleição era necessário o voto...teria essa área ficado a cargo do Ministro Patrus?

Adriana Vandoni Curvo é professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ.

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