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Internacional
Quarta - 13 de Outubro de 2004 às 09:17
Por: Luciana Coelho

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Uma em cada quatro famílias americanas com emprego tem dificuldades em pagar as contas no fim do mês devido aos baixos salários, mostrou um relatório divulgado ontem nos EUA. Em alguns Estados, como Mississipi, a parcela de famílias de baixa renda dentro do total de famílias empregadas chega a 42%.

"Nos EUA, sempre se acreditou que, se você trabalhasse, pagasse seus impostos, fizesse tudo direitinho, você se tornaria financeiramente seguro e subiria de classe social. Nossos dados mostram que isso nem sempre é verdade", disse à Folha Tom Waldron, um dos autores de "Trabalhando duro, ficando para trás: Famílias trabalhadoras americanas e a busca da segurança econômica".

O estudo, o primeiro do gênero, usa parâmetros diferentes daqueles empregados pelo governo, o qual considera "não realista". Para os autores, famílias de baixa renda são aquelas compostas por pelo menos quatro indivíduos e com ganhos anuais, excluídos benefícios não-financeiros, inferiores a US$ 36,4 mil em 2002. É praticamente o dobro do parâmetro usado pelo governo, mas está bem abaixo dos US$ 62,7 mil anuais da renda média de uma família de quatro pessoas nos EUA.

Segundo o levantamento, muitos empregos, além de pagarem salários baixos, não oferecem nenhum benefício. Os dados levantados mostram que um em cada cinco empregos paga menos do que o necessário para manter uma família de quatro pessoas acima do nível de pobreza.

Além disso, diz o relatório, boa parte das pessoas que estão nessa situação está mal preparada para obter um emprego melhor.

"Não podemos dizer se a quantidade de famílias de baixa renda está crescendo ou não. Mas há números no relatório que mostram que as coisas não estão melhorando", afirmou Waldron. "O nível de pobreza nos EUA não mudou em 30 anos, e há um estudo do Fed em Boston segundo o qual não subiu o número de pessoas que conseguem sair dos níveis mais baixos da escala social."

O relatório não investiga causas --ele se limita a apresentar números e dados compilados em quatro anos de pesquisas. Mas, num país onde o peso da inflação sobre os salários é mínimo, fica claro que a competição estrangeira e a decorrente exportação de empregos é um motivo do achatamento, segundo Waldron.

Competição no exterior

Atraídas pelos custos mais baixos em países como a Índia, o Brasil e a Argentina, muitas empresas americanas têm transferido para lá seus centros de atendimento e suporte técnico a clientes. Com um índice de desemprego recorde nos EUA, a questão virou um dos principais temas da campanha presidencial deste ano, alvo de ataque freqüente do democrata John Kerry contra o presidente George W. Bush.

Entre as recomendações do relatório estão a melhora do sistema educacional e de desenvolvimento profissional, que "prepara as pessoas inadequadamente para o mercado de trabalho", a elevação do salário mínimo e a criação de uma comissão nacional apartidária para estudar os fatores que criaram tal situação e as medidas públicas e da iniciativa privada necessárias para superá-la.

O relatório foi patrocinado pelas fundações Annie E. Casey, Ford e Rockefeller e resulta do projeto "Working Poor Families", que existe há quatro anos e analisa as condições em 15 Estados. Em 2003, o estudo foi expandido para os 50 Estados a fim de atrair mais atenção e produzir um retrato mais preciso da situação no país. "As pessoas têm de falar mais disso. Não é só uma questão do governo, é também das empresas", disse Waldron.




Fonte: Folha de São Paulo/Nova York

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