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Meio Ambiente
Segunda - 11 de Outubro de 2004 às 16:25

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Uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) abriu um inquérito para descobrir se a indústria açucareira financiou uma importante conferência que recomenda a quantidade de açúcar a ser consumida pela população mundial. As acusações foram feitas no programa da BBC Panorama, que mostrou documentos que denunciam que a Organização Mundial de Pesquisa sobre Açúcar e o Instituto Internacional de Ciências da Vida, ambos fundados pela indústria açucareira, ajudaram a pagar pela Conferência de Especialistas sobre Carboidratos na Nutrição Humana.

O programa também revela que o instituto teve a oportunidade de indicar membros do comitê e escolher o presidente, assim como de rever a programação da conferência.

Desde a sua publicação, a pesquisa vem sendo usada pela indústria açucareira para fazer lobby contra qualquer insinuação em associar o açúcar a problemas de saúde.

Açúcar x Saúde

Agora, o Fundo para Agricultura e Alimentos das Nações Unidas (FAO) disse que pretende reunir-se urgentemente com o comitê de pesquisa.

A consulta especializada foi encomendada em conjunto pela FAO e pela Organização Mundial de Saúde e deveria analisar de forma imparcial questões fundamentais como, por exemplo, se o açúcar é prejudicial à saúde humana.

Porém, um nutricionista renomado da Nova Zelândia, Jim Mann, contou ao programa que sempre teve dúvidas sobre a autonomia da consulta.

"Quando nós chegamos (à conferência), alguns de nós foram convocados por uma das autoridades envolvidas na organização, que disse claramente que seria inapropriado nós falarmos mal sobre a relação do açúcar com o ser humano".

Outro convidado que participou da conferência, o professor John Cummings, disse ter sentido que a ciência não era a força condutora do evento.

Segundo ele, o presidente do comitê já tinha sido escolhido antes mesmo de o grupo começar seus trabalhos e havia um observador que interrompeu o debate quando a questão do açúcar estava sendo discutida.

Despesas

Os especialistas não souberam dizer quanto a indústria açucareira estava pagando para eles participarem dos trabalhos em Roma, na Itália.

Mas o Panorama descobriu uma série de documentos que mostram exatamente de onde veio o dinheiro.

A Organização Mundial de Pesquisa sobre Açúcar - financiada pela indústria açucareira - contribuiu com US$ 20 mil com as despesas da conferência e o Instituto Internacional de Ciências da Vida - financiado por empresas como a Coca-Cola e Tate & Lyle - desembolsaram US$ 40 mil.

O Panorama também revela que o instituto foi convidado para sugerir os nomes dos consultores e teve o direito de nomear o presidente do comitê meses antes de os especialistas chegarem a Roma.

Esse acordo financeiro foi aprovado pelo então diretor de Alimentos e Nutrição da FAO John Lupien.

Açúcar sem limites

Outro fato chocante foi revelado na conversa do Panorama com os especialistas que participaram da pesquisa.

Segundo eles, todos concordaram em definir um limite entre 55 e 75% de carboidratos a serem ingeridos, mas quando o relatório foi divulgado, a margem superior tinha sumido.

O professor Mann afirmou que um relatório que não mostrava um limite de carboidratos - ou de açúcar - estava sujeito a abusos e acrescentou: "Acho que o fato de não exisitir uma margem superior serviu claramente para favorecer a indústria, já que estão sendo produzidos produtos com gordura reduzida e uma forma de compensar a gordura é aumentando a quantidade de açucar".

"Assim, obviamente pode-se adicionar açúcar impunemente a uma série de produtos alimentícios."

Reunião urgente

Um comunicado emitido pela FAO confirmou que foi pedido ao Instituto Internacional de Ciências da Vida e à Organização Mundial de Pesquisa sobre Açúcar que propusessem nomes para a conferência, mas que a FAO teria a decisão final.

Ainda segundo o documento, a falta de regras rígidas significava que a pesquisa não era ilegal mas "contradizia normas de transparência de bom senso e a anulação de conflitos de interesses".

A FAO disse que o lobby do açúcar interpretou de forma errônea as recomendações do estudo de 1998 e acrescentou que a OMS estava articulando um novo estudo sobre carboidratos e que esta questão agora era "encarada como urgente".

O Instituto Internacional de Ciências da Vida disse que apenas sugeriu nomes de especialistas para o comitê e não para a presidência, pois "esta decisão deveria ser feita pelos próprios especialistas".

O instituto declarou não ver razões "para seu apoio parcial no estudo e sua participação no processo colocar em dúvida a credibilidade da consulta".




Fonte: BBC Brasil

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