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Politica Brasil
Sábado - 25 de Setembro de 2004 às 08:49
Por: Kleber Lima

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“Não aponte o dedo para Benazir Butho/ Seu puto/ Ela está de luto/ Pela morte do pai...”. Esta canção do Chico César não tem saído da minha cabeça nos últimos dias. Ela fala da intolerância, da insensibilidade. Mesmo em um caso onde se poderia imaginar que não há espaço para tolerância.

Como o leitor sabe, Benazir Butho é aquela política Paquistanesa cujo pai foi deposto da presidência daquele país e depois executado pelos opositores.

Mas não é propriamente a sua história, que aliás pouco domino, que tem me tocado. A história, ao contrário, tem-me feito observar a tragédia pessoal do ex-governador Dante de Oliveira, cujo pai também morreu não faz muito.

Tudo bem que o Dr. Paraná não foi deposto de nenhum cargo, tampouco foi assassinado. Ele morreu de causas naturais, o que não reduz nem um pouco a dor da sua perda para os seus.

Talvez não haja, na verdade, nenhuma semelhança entre Benazir e Dante. Exceto uma: ambos não tiveram o pleno direito de chorar a morte do pai, por causa das suas vicissitudes pessoais.

Tenho sido ao longo dos últimos anos um crítico contumaz e ácido do então governador Dante de Oliveira. Não o poupei de nenhuma crítica que julguei procedente. E não me arrependo de nenhuma delas (pelo menos não me lembro de nenhum arrependimento).

E não me arrependo de nenhuma crítica ao Dante porque nunca as fiz com propósito pessoal, motivado por ódio ou por veleidade. Fi-las, e isso é sincero, por acreditá-las consistentes, por achar que as atitudes do então governador destoavam do que eu naturalmente considerava coerente, ético, moral, legal, etc.

E é com esse mesmo desprendimento que hoje me ocupo de fazer essa advertência aos detratores do Dante de Oliveira. Confesso que esperei algum daqueles articulistas amistosos do ex-governador levantar a voz a seu favor. Como diz o ex-governador Júlio Campos, “os amigos do poder somem depois que a gente perde o poder”. Como eles não se habilitaram, então não vou me furtar a fazê-lo. Penso que tenho essa obrigação, porque estou vendo um homem ser esquartejado e linchado publicamente sem nenhuma condenação e por motivações inadequadas.

Não digo que o Dante seja inocente das acusações de envolvimento com o comendador Arcanjo. Mas também não posso garantir que ele seja culpado. Para usar um lugar comum, essas respostas quem nos dará será a Justiça. Ou pelo menos deveria. E essa é a razão fundamental pela qual considero injusta sua dilaceração.

Inclusive por sua história e pelo patrimônio político que o Dante representa a Mato Grosso e ao Brasil. E sei que isso até mesmo seus mais empertigados adversários hão de reconhecer.

Não se pode, em nome de motivações eleitoreiras que vão se dissipar no breve espaço de tempo, que são absolutamente voláteis e transitórias, destruir a imagem de alguém que foi símbolo do processo de recuperação da democracia neste país, que por tantos anos foi o farol e a referência das esquerdas e dos progressistas de Mato Grosso.

Hoje é o Dante que está no patíbulo sem culpa comprovada. E amanhã, quem será? Qual inocente ou qual culpado apenas presumido ocupará seu lugar?

Quem me conhece há mais tempo, e quem me acompanha profissionalmente, deve estar estupefato. Eu sei de todos os motivos que teria para silenciar e assistir de camarote à crucificação do Dante. Bastaria me lembrar das muitas vezes que fui mal recebido no Palácio Paiaguás por ser “jornalista de oposição”, no dizer deles. Independe, no meu dizer. Sei também quantas vezes minha cabeça foi pedida por seus representantes no poder. Enfim.

Mas sei que tenho um motivo mais forte para protestar contra essa encenação eleitoreira: um senso de justiça que compõe a essência da minha alma e das minhas convicções, e que ainda vai me guiar por muito tempo.

P.S: Devo fazer um pequeno registro quanto ao envolvimento de Paulo Ronan no “escândalo”. Sei que ele não é o alvo de nada disso. É um coadjuvante. Mas quero dizer que acredito plenamente no seu caráter e na sua honestidade. Além do quê, para mim meus amigos não têm defeito.

Kleber Lima é jornalista em Cuiabá

E-mail: kleberlima@terra.com.br




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