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Meio Ambiente
Quarta - 18 de Agosto de 2004 às 09:12

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Os cientistas que realizaram a primeira série abrangente de estudos no leito da Cordilheira Médio-Atlântica desembarcaram essa semana em Bergen, na Noruega, entusiasmados com a descoberta de várias possíveis novas espécies e uma incrível criatura misteriosa.

Com cores vivas, cerca de trinta centímetros de comprimento e um corpo claramente dividido em pata dianteira e cauda, o animal não se parece com nenhuma outra espécie marinha conhecida, afirma Olav Rune Godoe, do Instituto de Pesquisas Marinhas norueguês. O animal desconhecido foi encontrado rastejando no fundo do mar, a uma profundidade de quase 2 mil metros.

As tentativas de trazer o animal à superfície falharam, e portanto é impossível saber exatamente o que foi que os cientistas viram e fotografaram por lá.

A expedição internacional foi liderada por cientistas noruegueses e estudou durante dois meses os ecossistemas marinhos da Cordilheira Médio-Atlântica, uma cadeia de montanhas submarinas que se estende entre a Islândia e os Açores. A missão faz parte do Censo da Vida Marinha, um projeto de US$ 1 bilhão que deve durar dez anos e envolver cientistas de 16 países.

Embora o animal desconhecido seja "uma sensação", nas palavras de Godoe, encontrar novas e estranhas criaturas não foi surpreendente para os cientistas, que recolheram mais de 80 mil espécimes. Além disso, pouco se sabe sobre as regiões mais profundas do oceano. "É muito mais fácil observar a superfície da Lua ou de Marte", destaca o pesquisador.

Uma das regiões menos exploradas do planeta, a Cordilheira Médio-Atlântica impressionou os cientistas por se parecer mais com um recife de corais do que com um deserto. "Ficamos surpresos com as cores, os corais macios e duros e a diversidade de espécies de peixes e outros animais", disse Godoe.

Cerca de 300 espécies de peixes foram identificadas, com tamanhos que vão desde poucos milímetros até 4,2 metros de comprimento. Também foram capturados dois exemplares do Aphyonus gelatinosus, um peixe semitransparente que vive no leito oceânico, é recoberto por uma camada de gelatina e só havia sido visto uma vez no Atlântico Norte até então. Os cientistas também capturaram um peixe que usa uma isca pendurada para atrair sua presa. Ele provavelmente será identificado como uma nova espécie.

Das 50 espécies de lulas capturadas, pelo menos uma jamais havia sido vista.

A expedição usou um navio norueguês com equipamentos sofisticados de sonar. Um navio de arrastão, robôs com câmeras comandados por controle remoto e um submergível tripulado também foram usados.

"Estou muito entusiasmado com o resultado da expedição", disse Ron O'Dor, cientista-chefe do censo e professor de biologia na Universidade Dalhouse do Canadá. Um dos principais objetivos do censo é estabelecer uma linha-base de conhecimento sobre o que existe nos oceanos do planeta antes que as populações sejam alteradas significativamente pela ação do homem.

As novas tecnologias de sonar usadas na missão funcionaram perfeitamente, permitindo que os cientistas identificassem formas de vida e sua localização exata nas águas mais profundas e facilitando as operações de captura.

Embora uma breve expedição realizada por cientistas russos e americanos ano passado tenha revelado que a Cordilheira Médio-Atlântica está longe de ser uma região deserta, a nova missão comprovou a existência de uma grande diversidade biológica naquela parte do oceano. Os sonares também revelaram estranhos anéis de plâncton, estendendo-se por até 30 milhas náuticas (55 quilômetros), afirma Godoe. Esta é a primeira vez que o fenômeno é observado, e é provável que ele tenha se formado devido a fluxos de águas profundas em grande escala.

A missão revelou ainda a existência de fileiras perfeitamente retas e regulares de orifícios eqüidistantes no solo a 2 quilômetros da superfície. Os orifícios podem ser tocas de alguma espécie de lagosta ou caranguejo, mas não se sabe por que seriam escavados de forma tão simétrica. "Nunca tínhamos visto algo assim", conta Godoe.

Quanto à criatura misteriosa mencionada no começo dessa reportagem, O'Dor diz que ela pode ser muito comum no leito oceânico a grandes profundidades, mas essas regiões raramente foram vistas por olhos humanos. Na verdade, a missão russo-americana do ano passado tirou fotos de um animal semelhante. "Não saberemos se ambos são da mesma espécie ate que possamos pôr as mãos numa amostra", disse.

A resposta para esse mistério terá de esperar expedições futuras. Até lá, Godoe diz que ele e seus colegas do mundo todo ficarão ocupados. "Recolhemos material para muitos anos de análises", disse.




Fonte: Wired News

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