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Internacional
Terça - 17 de Agosto de 2004 às 18:16

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O presidente Hugo Chávez, da Venezuela, recebeu uma injeção de ânimo na sua "revolução" e legitimou suas credenciais de democrata graças à estrondosa vitória no referendo de domingo. Aos seus desarvorados adversários, que passaram a campanha inteira martelando que Chávez é um ditador incompetente e avesso a eleições, só resta agora melhorar sua imagem, que sai abalada, e se unir para desafiar Chávez na eleição presidencial de 2006.

"Este é um triunfo de Chávez. Certamente renova suas credenciais em curto prazo, mas ele ainda precisa trabalhar nas políticas econômicas e petrolíferas, reduzir a polarização política e buscar uma reaproximação com o setor privado", disse o analista político Michael Penfold, professor da escola de administração Iesa, em Caracas.

Aproveitando-se do reconhecimento internacional de sua vitória, Chávez prometeu acelerar as medidas para distribuir de forma mais justa os dividendos do petróleo entre a população pobre.

"A Venezuela mudou para sempre. O país nunca vai retornar àquela falsa democracia do passado, na qual as elites mandavam", disse Chávez, após receber 58 por cento dos votos no domingo.

A oposição aponta fraude na votação, mas os observadores internacionais disseram que a vitória do governo foi legítima.

"Por que ele ganhou? Porque os eleitores gostaram dos programas sociais dele, as pessoas querem melhorias sociais", disse Penfold. "A oposição não ofereceu uma alternativa estável e as pessoas procuram estabilidade".

A cotação do petróleo, que está em níveis recordes, inicialmente deve ajudar o governo nacionalista de Chávez a manter os generosos programas sociais, que são sua marca desde que o ex-militar foi eleito pela primeira vez, em 1998.

Os mercados internacionais receberam com alívio a vitória de Chávez, por considerarem que seu governo oferece menos riscos em curto prazo.

No passado, os investidores viam com desconfiança a retórica anticapitalista de Chávez, mas agora admitem que o governo da "Revolução Bolivariana" honra suas dívidas pontualmente e tem uma política financeira pragmática.

Mesmo assim, a pequena Bolsa de Caracas fechou com queda de 4,3 por cento na terça-feira, puxada por um movimento de venda das ações mais importantes.

POUCAS MANIFESTAÇÕES

A oposição diz que o governo manipulou as urnas eletrônicas e exigiu uma recontagem dos comprovantes emitidos pelas máquinas.

Mas a convocação de protestos contra o governo foi praticamente ignorada pela população, cansada dos mais de dois anos de conflito político.

"Estou desapontada. Eles convocam o protesto e ninguém vem", disse Carmen Marcano, 55, que votou contra Chávez e na segunda-feira participou de uma pequena passeata em Caracas.

O descontentamento da oposição cresceu depois que atiradores abriram fogo contra a manifestação, matando uma mulher e ferindo seis pessoas.

Mas os líderes da oposição descartam qualquer futura tentativa de tirar Chávez do poder pela força. Em 2002, o presidente ficou dois dias afastado da presidência por causa de um golpe de Estado. Depois, ele enfrentou uma greve geral de dois meses, que praticamente paralisou o país.

Chávez acusa os Estados Unidos de terem participado da tentativa de golpe, o que Washington nega.

Os Estados Unidos, maior importador de petróleo venezuelano, qualificaram o plebiscito como "um importante final para a crise política na Venezuela", nas palavras do porta-voz do Departamento de Estado, Adam Ereli. O governo norte-americano apoiou, inicialmente, a idéia de investigar as denúncias de supostas fraudes, de maneira que não permanecesse qualquer dúvida, acrescentou Ereli.

Outro funcionário do Departamento de Estado, que pediu para não ser identificado, reclamou que a oposição não conseguiu comprovar as denúncias. "O ponto central é que a oposição deve provar o que diz ou, então, se calar", disse a fonte.

A Igreja e os empresários, adversários constantes de Chávez, pediram reconciliação nacional.

Nos programas de entrevista do rádio e da TV, eleitores contrários a Chávez já expressam sua irritação com os líderes da oposição. Muitos os criticam por terem passado tempo demais falando na TV, em vez de fazer campanha nas favelas e aldeias rurais, que representam a maior base de apoio a Chávez.

Penfold disse que a oposição, que reúne os partidos tradicionais que foram atropelados por Chávez na eleição de 1998, sindicatos, patrões e militares dissidentes, precisa modificar sua atuação para ter chance na sucessão de 2006. "Eles têm de construir um partido com uma base nos setores de baixa renda, têm de alcançar esses grupos".




Fonte: Reuters

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