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Politica Brasil
Quarta - 04 de Agosto de 2004 às 14:44
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Esta semana, em um site de discussões do qual participo, surgiu o assunto participação das pessoas, em especial das mulheres, na política e o sistema de reserva de cotas.

A conversa iniciou quando um dos integrantes questionou a verdadeira militância partidária. No seu ponto de vista, a única coisa que move a pessoa rumo à participação, é o interesse financeiro. Daí entramos no gargalo da questão. A omissão do povo, a falta de vontade de participar da vida política e o descaso com os rumos nacionais. Na verdade o brasileiro se esqueceu que é um cidadão. Acostumou-se a não participar da vida política e passou a estereotipar todos que dela participam. Por puro preconceito e pela facilidade de ser omisso. As pessoas se escondem atrás de chavões como: "todos são iguais, nada muda, odeio política".

Dias atrás me encontrei com uma conhecida, uma mulher muito culta e preparada. Conversando, ela comentou que em sua cidade resolveu participar do movimento feminino do partido do qual é filiada, mas estava se sentindo frustrada. Explicou que se engajou por achar que fosse fazer política, mas que na verdade, as outras só se preocupavam em fazer chazinhos beneficentes. Perguntei qual atitude tomou para mudar isso e ela me respondeu que simplesmente se afastou, pois jamais conseguiria mudar essa mentalidade. Com certeza foi mais fácil para ela, mas, se no lugar de se omitir ela tivesse formado um grupo de mulheres que pensam da mesma forma que ela para trabalharem juntas, elas estariam iniciando um processo de mudança. As mulheres não podem se omitir quando surgem essas oportunidades de transformar algo. Não podemos nos acomodar em guetos partidários produtores de chás beneficentes.

O que acontece é que no Brasil os partidos políticos são, tradicionalmente, redutos masculinos, provavelmente herança do Código Civil Brasileiro de 1917, que afirmava que as mulheres "são incapazes, relativamente, a certos atos ou à maneira de o exercer", nos colocando no mesmo nível do menor. Talvez seja esse o motivo de que a maioria das mulheres que atuam politicamente o fazem seguindo os passos de seus maridos, quase nunca por iniciativa própria, pois encontram dificuldades em assumir que querem ou gostam. Esse é o pior machismo, o feminino.

A grande culpada disso tudo é a omissão da própria mulher, que parece ainda não ter percebido que é a política que coordena todas as formas de convivência humana, os preços do arroz, do feijão, dos remédios e, se isso servir de convencimento, até do cabeleireiro. Enquanto nós não nos enxergarmos como parte integrante do processo, continuaremos como mera "cota obrigatória". Acho isso irritante!

Bem, chegamos às cotas. Qual a utilidade das cotas? As políticas de reserva de cotas por gênero, raça ou condição social, são válidas até certo ponto, mas apenas até certo ponto. São estratégias utilizadas com a finalidade de possibilitar igualdade de oportunidades, que ajudam a romper com uma barreira, mas são ações afirmativas que devem ser adotadas com caráter meramente emergencial. Se não forem usadas apenas como complemento de políticas públicas de base e estruturais, tornam-se inúteis e servirão para nada, além de legalizar a discriminação.

O sistema de cotas para candidaturas de mulheres nas chapas partidárias foi instituído em 1995 e ainda podemos notar o sufoco por qual passam todos os partidos para preencherem essas vagas. Isso é humilhante! A mulher precisa começar a se ver como ser pensante capaz de atuar politicamente. Precisa se respeitar e deixar de ser machista, só assim conseguirá sair da insignificante posição de cota obrigatória.

Adriana Vandoni Curvo é professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. E-mail: avandoni@uol.com.br




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