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Meio Ambiente
Quinta - 29 de Julho de 2004 às 11:38
Por: Maurício Cardoso

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Brasília – O desmatamento e as queimadas na Amazônia estão alterando o ciclo de carbono deste ecossistema e fazendo com que a região deixe de ser um dos principais responsáveis pela absorção de dióxido de carbono da atmosfera. O alerta foi feito pelos pesquisadores Antônio Nobre (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e Michael Keller (Forest Servic University of New Hampshire), em palestras proferidas hoje na 3ª Conferência Cientifica do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia), que acontece em Brasília.

De acordo com dados oficiais, só no ano passado quase 24 milhões de hectares de florestas foram desmatados (área equivalente ao estado de Alagoas), sendo que 80% deste total são utilizados para a agropecuária. Nas duas últimas semanas, os satélites de monitoramento constataram a destruição de 2 mil quilômetros de florestas no chamado arco do desmatamento. “A ciência não tem como competir com o desmatamento de 1 Km² por semana. Precisamos de políticas efetivas capazes de conter este quadro e de incentivar processos sustentáveis de desenvolvimento”, afirmou o pesquisador do Inpa.

Segundo Antonio Nobre, no dia que o ciclo da água da Amazônia for totalmente alterado será tarde para reverter o processo e as consequências serão drásticas para o Centro-oeste, o Sul e o Sudeste do país – responsáveis por 80% do PIB brasileiro –, já que as águas que provocam chuvas nestas regiões vêm da Amazônia. “O projeto LBA já está começando a mostrar essas conexões e como o desmatamento pode afetar a circulação da água e o papel da floresta na manutenção do sistema”, enfatizou.

Michael Keller lembrou que a fumaça das queimadas na Amazônia já está aumentando a concentração de ozônio em cidades como São Paulo e Santa Catarina, por causa de mudanças na circulação atmosférica. O ozônio é muito benéfico na estratosfera, porque ele filtra os raios ultra-violeta, mas na atmosfera ele é um poluente muito poderoso. “Pesquisas do LBA já demonstraram que o transporte dessas fumaças está relacionada à elevada concentração de ozônio em São Paulo e até com chuvas ácidas nas serras nas divisa com o Rio de Janeiro”.

Industrialização e desenvolvimento sustentável

Antonio Nobre já propôs a criação de uma versão nacional do Protocolo de Kyoto, no qual os estados mais industrializados do Brasil financiariam projetos de desenvolvimento sustentável na região. Nobre ainda defende a industrialização da Amazônia como única alternativa de desenvolvimento com preservação ambiental. “O desenvolvimento da Amazônia é a única saída. Mas não o desenvolvimento com gado, madeira e soja, e sim o desenvolvimento industrial”, afirma o pesquisador, ressaltando que as principais economias do mundo conseguiram preservar suas florestas através da industrialização.

“O Japão, que tem o segundo PIB do mundo, mantém 70% da sua superfície coberta de floresta. A Alemanha e o nordeste dos Estados Unidos também estão cobertos de florestas”. Nobre destacou, ainda, que o Distrito Industrial de Manaus (a zona Franca) é responsável por 6% dos 7% da participação da Amazônia no PIB nacional: “e a floresta em volta de Manaus está intacta”, afirmou.

"Que tipo de associação é esta que se faz no Brasil de que desenvolvimento e riqueza saem do desmatamento das florestas?", questiona Antonio Nobre. Para ele, no dia que o Brasil conseguir desenvolver a Amazônia com indústrias, como em Manaus, estará criado um novo ciclo de desenvolvimento no país. “Um desenvolvimento que agrega valor aos produtos, gera empregos e combate o desmatamento”. Antonio Nobre é coordenador do Projeto Fênix – renascendo das cinzas da destruição – incorporado ao LBA.




Fonte: Agência Brasil

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