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Brizola e o seu tempo
O engenheiro Leonel de Moura Brizola define um marco na vida pública do Brasil e será, com certeza, referência de seriedade e amor pelo seu país – para a geração presente e os nossos pósteros, assim como também são reverenciados os legendários Tancredo Neves e Ulisses Guimarães.
Sempre manifestei grande respeito e admiração por Leonel Brizola, independentemente de seguirmos caminhos diferentes na política partidária. Mesmo assim, tive um bom relacionamento com ele e, por pouco, não estivemos juntos na eleição de 1989, para presidente.
Nessa eleição, Brizola deixou de disputar o segundo turno com Fernando Collor de Melo por uma diferença de apenas 105 mil votos para o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
O problema todo para não fecharmos uma coligação com Brizola em Mato Grosso foi César Maia, hoje prefeito do Rio de Janeiro e integrante dos quadros do PFL. Eu, particularmente, tinha um bom entrosamento com Brizola, mas César Maia bateu o pé, dizendo que não aceitava coligação com “malufistas”.
Caso tivéssemos definido a coligação, Mato Grosso faria a diferença e levaria o líder do PDT para disputar com Collor. Certamente que a história seria outra com Brizola presidente do Brasil, sem dúvida.
Fui governador no mesmo período que Brizola também governava o Rio de Janeiro. Embora de partidos adversários, nossa linha de trabalho era semelhante. Centrei o governo de Mato Grosso nos três “E’s”: Educação, Estrada e Energia, sendo que na educação construímos 32 grandes colégios, os famosos JC’s.
Brizola elogiava minha linha de trabalho, e isso eu sempre tive como um orgulho. E dentro de uma amizade que ia se consolidando, consegui aproximá-lo do presidente João Batista Figueiredo.
No governo Figueiredo investimos pesado em programas de infra-estrutura, preparando Mato Grosso para o processo de desenvolvimento que hoje se consolida.
Minha convivência com Brizola, porém, vem das eleições de 1985, para a prefeitura de Cuiabá. Ocorreu aí um fato histórico, quando Brizola e Roberto Campos, grandes adversários, subiram no mesmo palanque pela coligação PDS (com Gabriel Novis) e PDT (com Silva Freire). Os adversários Dante e Coronel Torquato terminaram por vencer, mas foi uma eleição disputadíssima.
Vai-se o homem e fica a sua obra. Assim, hoje, mesmo afastado da política partidária, tive a iniciativa de propor à Mesa do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso um Voto de Pesar pelo falecimento deste grande brasileiro que foi Leonel Brizola. Será uma homenagem em reconhecimento aos relevantes serviços prestados ao País, o nacionalismo e luta pela democracia, que a presidência do TCE encaminhará à família Brizola, aos governos dos estados do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, sua terra natal, e ao Diretório Nacional do PDT.
O incansável Brizola foi um exemplo de perseverança, de luta, de lealdade e passará a ser a memória do nosso fulgor, como diria o cineasta Glauber Rocha. Exemplo maior do amor que recebia do povo brasileiro é a transformação do seu sobrenome em nome.
Isso mesmo, Brizola passa a ser nome próprio, imortalizando sua passagem para a história.
Da resistência pela legalidade, em 1961, até a volta do exílio, sofreu bastante. Partiu, como diz uma canção, num rabo de foguete, e ao regressar chorou o mesmo choro do seu povo.
A defesa da legalidade, movimento liderado por ele em defesa da Constituição, não foi um fato isolado, e sim um princípio que o acompanhou por toda a sua vida. Perdeu amigos, mas não traiu seus conceitos.
A educação do povo foi sua principal obsessão. E alcançou muitas vitórias. Derrubou barreiras mesmo não tendo chegado à Presidência da República e fez com que se edificassem Ciep’s em quase todo esse imenso Brasil. Escolas que estão aí, funcionando, exemplo de uma iniciativa bem-sucedida.
Seus mais ferrenhos adversários não encontraram sequer um indício de irregularidade que tivesse cometido em toda sua trajetória de mais de 50 anos na vida pública. Essa seriedade o credenciava a propalar os mais eloqüentes pronunciamentos, e tornou-se cidadão universal ao compor a Internacional Socialista.
Brizola jamais será esquecido. Quem conhece a história política contemporânea do Brasil, da qual Brizola participou como um dos seus principais protagonistas, tem, no mínimo, a obrigação de respeitar sua memória.
*JÚLIO CAMPOS é conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas de Mato Grosso. Governou o Estado (1983/87), foi senador (1991/98).
Sempre manifestei grande respeito e admiração por Leonel Brizola, independentemente de seguirmos caminhos diferentes na política partidária. Mesmo assim, tive um bom relacionamento com ele e, por pouco, não estivemos juntos na eleição de 1989, para presidente.
Nessa eleição, Brizola deixou de disputar o segundo turno com Fernando Collor de Melo por uma diferença de apenas 105 mil votos para o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
O problema todo para não fecharmos uma coligação com Brizola em Mato Grosso foi César Maia, hoje prefeito do Rio de Janeiro e integrante dos quadros do PFL. Eu, particularmente, tinha um bom entrosamento com Brizola, mas César Maia bateu o pé, dizendo que não aceitava coligação com “malufistas”.
Caso tivéssemos definido a coligação, Mato Grosso faria a diferença e levaria o líder do PDT para disputar com Collor. Certamente que a história seria outra com Brizola presidente do Brasil, sem dúvida.
Fui governador no mesmo período que Brizola também governava o Rio de Janeiro. Embora de partidos adversários, nossa linha de trabalho era semelhante. Centrei o governo de Mato Grosso nos três “E’s”: Educação, Estrada e Energia, sendo que na educação construímos 32 grandes colégios, os famosos JC’s.
Brizola elogiava minha linha de trabalho, e isso eu sempre tive como um orgulho. E dentro de uma amizade que ia se consolidando, consegui aproximá-lo do presidente João Batista Figueiredo.
No governo Figueiredo investimos pesado em programas de infra-estrutura, preparando Mato Grosso para o processo de desenvolvimento que hoje se consolida.
Minha convivência com Brizola, porém, vem das eleições de 1985, para a prefeitura de Cuiabá. Ocorreu aí um fato histórico, quando Brizola e Roberto Campos, grandes adversários, subiram no mesmo palanque pela coligação PDS (com Gabriel Novis) e PDT (com Silva Freire). Os adversários Dante e Coronel Torquato terminaram por vencer, mas foi uma eleição disputadíssima.
Vai-se o homem e fica a sua obra. Assim, hoje, mesmo afastado da política partidária, tive a iniciativa de propor à Mesa do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso um Voto de Pesar pelo falecimento deste grande brasileiro que foi Leonel Brizola. Será uma homenagem em reconhecimento aos relevantes serviços prestados ao País, o nacionalismo e luta pela democracia, que a presidência do TCE encaminhará à família Brizola, aos governos dos estados do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, sua terra natal, e ao Diretório Nacional do PDT.
O incansável Brizola foi um exemplo de perseverança, de luta, de lealdade e passará a ser a memória do nosso fulgor, como diria o cineasta Glauber Rocha. Exemplo maior do amor que recebia do povo brasileiro é a transformação do seu sobrenome em nome.
Isso mesmo, Brizola passa a ser nome próprio, imortalizando sua passagem para a história.
Da resistência pela legalidade, em 1961, até a volta do exílio, sofreu bastante. Partiu, como diz uma canção, num rabo de foguete, e ao regressar chorou o mesmo choro do seu povo.
A defesa da legalidade, movimento liderado por ele em defesa da Constituição, não foi um fato isolado, e sim um princípio que o acompanhou por toda a sua vida. Perdeu amigos, mas não traiu seus conceitos.
A educação do povo foi sua principal obsessão. E alcançou muitas vitórias. Derrubou barreiras mesmo não tendo chegado à Presidência da República e fez com que se edificassem Ciep’s em quase todo esse imenso Brasil. Escolas que estão aí, funcionando, exemplo de uma iniciativa bem-sucedida.
Seus mais ferrenhos adversários não encontraram sequer um indício de irregularidade que tivesse cometido em toda sua trajetória de mais de 50 anos na vida pública. Essa seriedade o credenciava a propalar os mais eloqüentes pronunciamentos, e tornou-se cidadão universal ao compor a Internacional Socialista.
Brizola jamais será esquecido. Quem conhece a história política contemporânea do Brasil, da qual Brizola participou como um dos seus principais protagonistas, tem, no mínimo, a obrigação de respeitar sua memória.
*JÚLIO CAMPOS é conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas de Mato Grosso. Governou o Estado (1983/87), foi senador (1991/98).
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/379410/visualizar/
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