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Politica Brasil
Segunda - 21 de Junho de 2004 às 09:48
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Anos atrás, quando fazia especialização na FGV do Rio de Janeiro, tive um colega, político experiente, astuto, aquele tipo que podemos chamar de raposa velha. Já tinha sido governador duas vezes, prefeito de capital, deputado constituinte e de uma vivência e sabedoria invejáveis. Esse amigo vivia a me mostrar o lado prático da política, “o lado real” como dizia ele. Em meio a estudos profundos da teoria política, da filosofia e ideologia dos partidos brasileiros, ele sempre tinha um toque de realidade a ensinar.

Certa vez, em plena campanha presidencial de 2002, estávamos em uma calorosa discussão sobre qual seria o resultado das eleições. Fazia parte da nossa turma, dois ex-secretários de Estado do tempo da Benedita (aquela que foi rezar na Argentina e sumiu). Eu dizia que o PT jamais deveria ser governo, pois representaria uma grande perda para o Brasil. Naquela época ainda não era possível detectar o desastroso dom administrativo do PT revelaria. Me referia a eficiência de se ter uma oposição bem estruturada e organizada. Achava que uma possível vitória do PT iria desarticular a oposição, ou os detentores das lutas sociais (como de fato aconteceu). O Brasil então viveria uma crise ideológica. Disse também, que Lula jamais conseguiria governar, pois não teria maioria no Congresso Nacional. Naquele momento, meu amigo disse: “Filhinha, em um sistema presidencialista como o nosso, a maioria é sempre do Presidente”. Isso jamais eu esqueci, acho até que por indignação.

Quando houve a votação da reforma previdenciária, com toda aquela onda expulsão de correligionários, perseguição a familiares de petistas tidos como rebeldes, lágrimas no senado e, por fim, a aprovação conforme a vontade do governo, eu pensei: “é, ele tem razão. A maioria é sempre do Presidente”.

Mas, esta semana, na votação do salário mínimo no Senado, a postura de alguns parlamentares me surpreendeu e me encantou. Justamente neste momento em que eu estava começando a ver uma grave desautorização do Parlamento pelo governo, o enfraquecimento de uma instituição tão importante, tudo em função do interesse em ser Presidente do Senado a partir do ano que vem. Já estava tão certa de que nada sairia desconforme à vontade do governo, que nem me interessei em acompanhar a votação. Para minha surpresa, apesar de ter havido choro, prevaleceu a convicção, a coerência com os ideais de outrora. Imperou a história de luta travada pela dignidade social.

Constatei que, se encontrasse meu amigo hoje, eu diria a ele: “Filhinho, o Brasil está mudando. Em um arranjo administrativo pelo qual estamos passando, a maioria é sempre atrelada ao ideal de cada parlamentar”.

No ano passado, comentei neste mesmo espaço, o “desbotamento” do vermelho petista, que ficou púrpura, passou para o violáceo, alaranjou, até que se tornou esmaecido. Hoje, sete meses depois que escrevi sobre a tonalidade pálida do vermelho, volto ao assunto, desta vez para comentar o retorno da pigmentação. Não quero, neste momento, entrar no mérito do impacto do valor do mínimo na economia, quero saudar e louvar o impacto que a volta da intensidade do vermelho pode causar na alma e na estima do povo brasileiro.

Adriana Vandoni Curvo é professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. E-mail: a href="mailto:avandoni@uol.com.br ">avandoni@uol.com.br




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