Pires cede pressão e recua do pleito

O empresário Jorge Pires de Miranda anunciou ontem a desistência da pré-candidatura a prefeito de Cuiabá pelo PFL e a cúpula regional oficializou apoio à pré-candidatura de Sérgio Ricardo (PPS). Emocionado, o empresário justificou que a decisão visava evitar o esfacelamento do partido e a ruptura da Coligação Mato Grosso Mais Forte.

O anúncio, feito na sede do Diretório Municipal, foi acompanhado por dezenas de filiados, pré-candidatos a vereador, pela bancada de vereadores e por representantes das cúpulas estadual e municipal. Nos discursos, os dirigentes municipais expressaram um sentimento de frustração, o que explicitou o impasse interno que se instalou no partido.

A presidente do Diretório Municipal, Maria Adélia Sucena, chorou copiosamente durante todo o discurso de Jorge Pires. O empresário agradeceu a intervenção da dirigente pela defesa de um projeto de candidatura própria do partido, mas ponderou que sua candidatura não despertou entusiasmo e confiança dos dirigentes regionais. “Esta determinação só faria sentido se mantida a mesma conjunção de forças e, sobretudo, o mesmo espírito e o mesmo ânimo que catalisaram e empolgaram a população no pleito passado, mas não empolgou, agora, a nossa cúpula partidária”, alegou.

O empresário decidiu pelo recuo na reunião de quinta-feira à noite, realizada na casa do prefeito Jaime Campos, em Várzea Grande. Durante a noite, escreveu uma carta, que foi lida aos correligionários no ato de anúncio da desistência da disputa. Pires fez questão de ressaltar que manifestou interesse em concorrer à prefeitura “sem negociar nada”, sem pleitear cargos. “Talvez esta seja a principal e a mais forte razão pela qual não tenhamos conseguido angariar apoio nas cúpulas partidárias que compuseram o arco de alianças de 2002, salvo a honrosa exceção da direção estadual do PP”, discursou.

Por fim, anunciou que desiste “temporariamente” da pré-candidatura a prefeito de Cuiabá em nome do partido e da coligação, mas foi enfático ao declarar que será solidário com as candidaturas das lideranças do arco, como também com as que comungam dos mesmos valores que ele considera importante num processo democrático. No discurso, Pires explicitou as divergências políticas com o pré-candidato socialista, deputado estadual Sérgio Ricardo. “Abrimos mão de um projeto político, circunstancialmente, para não abrir mão de princípios com os quais não se pode transigir sob circunstância alguma”, concluiu.

A postura do empresário foi elogiada pela cúpula, especialmente pelo presidente do Diretório Regional, senador Jonas Pinheiro, que o tratou como “herói”. “Jorginho foi um herói em todos os momentos, nas reuniões com o governador, com o secretário Pagot”, disse. Pinheiro ressaltou que só avançou nas negociações com a cúpula do PPS porque Pires, avalizado pela direção municipal, garantiu que não tinha objeção em coligar com o PPS. Jorge Pires destacou, mais de uma vez, que prezava pela unidade do partido.

FRUSTRAÇÃO – O secretário-chefe da Casa Civil, deputado Joaquim Sucena, admitiu que o PFL passa por um momento de profunda frustração. “Na política, às vezes temos que nos render, ceder. Esse pode ter sido o seu momento. Mas a sua persistência é uma vitamina muito forte para todos nós”, arguiu. O vereador Barão Viegas, cotado para ser o vice de Sérgio Ricardo, disse que a pré-candidatura de Pires fortaleceu o partido, que precisava deixar o papel de coadjuvante na coligação.

“Sempre falamos que o PFL tem espaço, mas que era apenas virtual. Com você, tínhamos esperança de que marcaríamos o nosso espaço”, manifestou Viegas. Um dos maiores defensores da candidatura própria, o vereador Deucimar Aparecido, comoveu-se. “Foi muito triste pra mim. Dói no coração, mas fico feliz porque você fez o melhorem nome do partido”, disse.