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Politica Brasil
Domingo - 13 de Junho de 2004 às 12:39
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Nos últimos anos as empresas, sejam de qualquer natureza, vivem mudando suas estratégias, redefinindo seus mercados, repensando suas estruturas. A razão disso é a velocidade com que o mundo está mudando, a velocidade com que surgem disfunções no modelo de desenvolvimento e surgem novos valores pessoais e, conseqüentemente a emergência de novos paradigmas.

E continuam me perguntando: “Adriana, de onde?”. Quem ainda não passou por isso? Liguei para um conhecido na semana passada e sua linha de frente me perguntou: “Adriana, de onde?”, “Daqui de casa mesmo”, respondi, “Estou na sala, sentada no sofá, daqui a pouco vou almoçar, Fulano está?”. Não sei o que devo responder. Sempre, antes de ligar para algum lugar fico traçando estratégias para me sair bem dessa fatídica pergunta. Nunca funcionou nada do que armei. A pergunta sempre me pega de supetão.

Já pensei em dizer: “do banheiro, da sacada, da rua, do cemitério, da polícia”. Outro dia liguei para um banco no qual tenho conta querendo falar com a gerente, a funcionária, que de tão bem treinada até parece uma gravação, perguntou: “Adriana, de onde?”, perguntei a ela se era preciso ser de algum lugar para falar com a gerente. Claro que desarmei a estrutura organizacional do manual que, com certeza ele deve ter decorado.

Dias atrás um telefonema me surpreendeu. Liguei no gabinete de um político do estado e a básica pergunta não veio primeiro. Antes dela, a eficiente funcionária, que me deu a impressão de estar comendo uma ventrecha de pacu, usando o moderno sistema de comunicação do gabinete gritou: “Fiinha, fuláno taí?, tcháma ele lá.”, só depois veio a pergunta: “Adriana, de onde?”, só que nessa altura eu já estava me desmanchando de tanto rir e não tive forças pra responder.

Achei que só eu me aborrecia com isso, mas conversando com as pessoas descobri que todos se sentem incomodados com a pergunta. Descobri casos ótimos como o de um advogado bem sucedido da cidade que costuma responder à indagação que “aqui é o professor de dança rítmica dele”, nada mal. Sem contar um caso de uma pessoa que respondeu com a tão comum gracinha: “é o professor de balé dele”, mas que tomou proporções enormes em uma certa época, com duas certas pessoas.

Alguns empresários, mesmo tendo uma visão global das coisas, são sucumbidos pela velha máxima de dificultar para aumentar a importância. Assim que conquistam o espaço desejado, tratam de construir as trincheiras que um cidadão comum deverá ultrapassar se com ele tiver que falar.

Sem dúvida que a tal pergunta “de onde?” é uma barreira para evitar as ligações daqueles indesejáveis, como os vendedores de consórcio que tentam forjar intimidade com a vítima, mas, nós que não queremos vender nada, vamos continuar submetidos a tão constrangedora pergunta.

Mas já vou avisando, de agora em diante se para a pergunta vocês escutarem um: “é da AVC”, não sejam engraçadinhos de perguntarem se é Acidente Vascular Cerebral, sou eu dizendo as iniciais do meu nome.

Adriana Vandoni Curvo é professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. E-mail: avandoni@uol.com.br




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