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Um caso emblemático do que ocorre nas nossas redações
Em Cuiabá (MT), ocorre um atentado à liberdade de expressão que passa batido na quase totalidade das esferas de discussão. Nenhum meio de comunicação de Mato Grosso se dignou a falar do assunto e a academia, em sua maioria, desconhece o tema.
É o seguinte: Gibran Luis Lachowski, jornalista e estudante do curso de especialização em Ciências da Comunicação do Instituto Várzea-grandense de Educação, está impedido pelo poder judiciário de entregar sua monografia na íntegra.
O estudo diz respeito a uma cobertura jornalística feita pelo Jornal A Gazeta, com sede em Cuiabá, que resultou na página política A8 da edição de 31 de maio de 2001. Foram vários textos sobre a denúncia de que a então deputada estadual do PT, Serys Slhessarenko, havia sido a responsável pelo mando de assassinato de Sivaldo Dias Campos em 10 de outubro de 2000, época em que ele ocupava a presidência do diretório do PT de Cuiabá.
A cobertura foi baseada, quase que exclusivamente, numa fita de vídeo em que a irmã de Sivaldo, a então funcionária pública Silvana Dias Campos, apresentava a acusação citada e outras tantas, como compra de votos, esforço para prejudicar a candidatura de Sivaldo a vereador, posto a que concorreu em 2000. A denunciante disse em entrevista coletiva na sala de imprensa da Assembléia Legislativa de MT que fora vítima de uma filmagem escondida, não-autorizada, porém que confirmava todas as acusações.
A cobertura jornalística teve repercussão municipal, estadual e nacional. Slhessarenko, que hoje é senadora, se defendeu no dia 31 de maio mesmo, negando as acusações e criticando o jornal "A Gazeta" por não tê-la escutado antes da veiculação do material.
Gibran, na posição de estudante de especialização, escolheu o episódio como tema de sua monografia para saber se o jornal acertou ou errou. Numa das fases de sua pesquisa passou a fazer entrevistas com os profissionais que participaram da cobertura. Uma delas, Margareth Botelho, diretora de redação na época em que foi entrevistada (maio de 2002) e secretária de redação no período em que as denúncias geraram repercussão. Ela assumiu que editou o material.
Margareth decidiu proibir que sua entrevista fosse inserida na monografia depois que Gibran entrevistou o patrão dela, Dorileo Leal, confrontando informações dela com as dele. A jornalista alega no processo que por conta disto (do confrontamento) foi advertida pelo chefe, sendo alertada de que se o assunto voltasse à tona seria castigada de forma mais incisiva. Ela conseguiu liminar favorável para que as fitas k-7 fossem retidas e sua entrevista, retirada do estudo.
Gibran contratou advogado, se defendeu dizendo que há necessidade da íntegra do material, pois deve ter o direito constitucional de liberdade de expressão. A audiência de julgamento do caso está marcada para setembro próximo.
Esse artigo se baseia no noticiário local sobre o episódio e no processo 350/2002, da 20a Vara Civil de Cuiabá, movido pela jornalista Margareth contra Gibran. O julgamento do caso na primeira instância ocorrerá dia 10 de setembro de 2003, às 15 horas, no Fórum Cível de Cuiabá, 20a Vara, 5o andar.
Abaixo, alguns trechos da entrevista de Margareth, anexada ao processo pelo advogado de Gibran, Dr. Francisco Anis Fayad, que é público e que ainda não está impedido por segredo de justiça, e que, portanto, pode ser reproduzido por qualquer cidadão no Brasil, menos por Gibran, que é a parte acusada:
Gibran: Você era favorável à publicação?
Margareth: Não. Quando tive conhecimento do material eu tive uma ordem de serviço pra editar uma página que estaria completo. Quando eu tive acesso ao material eu questionei o fato de que ele não estaria completo, não estava completo.
G.: Questionou junto a quem?
M.: Ao meu diretor (de redação), o Mauro Camargo. Ele alegou que tava tarde, que era pra fechar assim mesmo, que, se não me engano, ele havia determinado pro Romilson (repórter que escreveu as matérias) fazer alguns contatos no telefone, alguma coisa ... não sei se deu.
G.: ( E você) Como profissional, como jornalista?
M.: Como profissional, era de que o material estava incompleto. Mas a minha profissão enquanto secretária de redação, um cargo de chefia, foi a de editar o que ele (Mauro) me apresentou e como determinante de que fosse editado.
G.: Mas havia possibilidade de ela ser completada naquele dia?
M.: Naquele dia acho que não. Pelo tempo, não. Pelo processo industrial da Gazeta, acho que não. Teria que segurar e deixar pro outro dia.
G.: Eu li as matérias que o Romilson escreveu e que você editou ...
M.: Eu só fiz uma pergunta pro Romilson: "Romilson, você quer assinar essa matéria". Aí ele falou: "Pode assinar, porque eu não tenho que esconder que fui eu que fiz essa matéria".
G.: Por que fez essa pergunta?
M.: (Riso) Por que eu considerei que a matéria não estava apurada o suficiente, como eu já te falei.
G.: O que sabia sobre Silvana?
M.: Absolutamente nada. Nem sabia que o Sivaldo tinha irmã.
G.: Você enxergou Silvana como fonte de informação confiável?
M.: Como irmã, acho que sim. Uma gravação, sim.
G.: Você foi antiética?
M.: Talvez do ponto de vista da palavra estrita, sem analisar o contexto. Talvez tenha sido.
G.: Tem idéia formada a respeito de si quanto à ética nesse caso? v M.: Olha, tenho a minha realidade. Tenho um emprego, trabalho numa empresa privada, pelas leis trabalhistas sou obrigada a cumprir ordens dos meus superiores sob pena de ser mandada embora e eu te disse que eu não tava a fim de ser mandada embora.
G.: Você pensou nas conseqüências à imagem de Serys?
M.: Não. Não pensei em nada. Só fiz uma operação técnica.
Epílogo: Como se pode ver, pelo jeito de como o material foi preparado, havia uma clara armação em curso contra uma deputada. Nos parece que a jornalista Margareth se deixou ser usada. Não teve os cuidados necessários e recomendados pela ética dos jornalistas sérios. Claro que a culpa nestes casos, no fundo, são das administrações dos jornais, que além de truculentas, usam os jornalistas para atingir objetivos escusos.
Ademar Adams é Jornalista.
É o seguinte: Gibran Luis Lachowski, jornalista e estudante do curso de especialização em Ciências da Comunicação do Instituto Várzea-grandense de Educação, está impedido pelo poder judiciário de entregar sua monografia na íntegra.
O estudo diz respeito a uma cobertura jornalística feita pelo Jornal A Gazeta, com sede em Cuiabá, que resultou na página política A8 da edição de 31 de maio de 2001. Foram vários textos sobre a denúncia de que a então deputada estadual do PT, Serys Slhessarenko, havia sido a responsável pelo mando de assassinato de Sivaldo Dias Campos em 10 de outubro de 2000, época em que ele ocupava a presidência do diretório do PT de Cuiabá.
A cobertura foi baseada, quase que exclusivamente, numa fita de vídeo em que a irmã de Sivaldo, a então funcionária pública Silvana Dias Campos, apresentava a acusação citada e outras tantas, como compra de votos, esforço para prejudicar a candidatura de Sivaldo a vereador, posto a que concorreu em 2000. A denunciante disse em entrevista coletiva na sala de imprensa da Assembléia Legislativa de MT que fora vítima de uma filmagem escondida, não-autorizada, porém que confirmava todas as acusações.
A cobertura jornalística teve repercussão municipal, estadual e nacional. Slhessarenko, que hoje é senadora, se defendeu no dia 31 de maio mesmo, negando as acusações e criticando o jornal "A Gazeta" por não tê-la escutado antes da veiculação do material.
Gibran, na posição de estudante de especialização, escolheu o episódio como tema de sua monografia para saber se o jornal acertou ou errou. Numa das fases de sua pesquisa passou a fazer entrevistas com os profissionais que participaram da cobertura. Uma delas, Margareth Botelho, diretora de redação na época em que foi entrevistada (maio de 2002) e secretária de redação no período em que as denúncias geraram repercussão. Ela assumiu que editou o material.
Margareth decidiu proibir que sua entrevista fosse inserida na monografia depois que Gibran entrevistou o patrão dela, Dorileo Leal, confrontando informações dela com as dele. A jornalista alega no processo que por conta disto (do confrontamento) foi advertida pelo chefe, sendo alertada de que se o assunto voltasse à tona seria castigada de forma mais incisiva. Ela conseguiu liminar favorável para que as fitas k-7 fossem retidas e sua entrevista, retirada do estudo.
Gibran contratou advogado, se defendeu dizendo que há necessidade da íntegra do material, pois deve ter o direito constitucional de liberdade de expressão. A audiência de julgamento do caso está marcada para setembro próximo.
Esse artigo se baseia no noticiário local sobre o episódio e no processo 350/2002, da 20a Vara Civil de Cuiabá, movido pela jornalista Margareth contra Gibran. O julgamento do caso na primeira instância ocorrerá dia 10 de setembro de 2003, às 15 horas, no Fórum Cível de Cuiabá, 20a Vara, 5o andar.
Abaixo, alguns trechos da entrevista de Margareth, anexada ao processo pelo advogado de Gibran, Dr. Francisco Anis Fayad, que é público e que ainda não está impedido por segredo de justiça, e que, portanto, pode ser reproduzido por qualquer cidadão no Brasil, menos por Gibran, que é a parte acusada:
Gibran: Você era favorável à publicação?
Margareth: Não. Quando tive conhecimento do material eu tive uma ordem de serviço pra editar uma página que estaria completo. Quando eu tive acesso ao material eu questionei o fato de que ele não estaria completo, não estava completo.
G.: Questionou junto a quem?
M.: Ao meu diretor (de redação), o Mauro Camargo. Ele alegou que tava tarde, que era pra fechar assim mesmo, que, se não me engano, ele havia determinado pro Romilson (repórter que escreveu as matérias) fazer alguns contatos no telefone, alguma coisa ... não sei se deu.
G.: ( E você) Como profissional, como jornalista?
M.: Como profissional, era de que o material estava incompleto. Mas a minha profissão enquanto secretária de redação, um cargo de chefia, foi a de editar o que ele (Mauro) me apresentou e como determinante de que fosse editado.
G.: Mas havia possibilidade de ela ser completada naquele dia?
M.: Naquele dia acho que não. Pelo tempo, não. Pelo processo industrial da Gazeta, acho que não. Teria que segurar e deixar pro outro dia.
G.: Eu li as matérias que o Romilson escreveu e que você editou ...
M.: Eu só fiz uma pergunta pro Romilson: "Romilson, você quer assinar essa matéria". Aí ele falou: "Pode assinar, porque eu não tenho que esconder que fui eu que fiz essa matéria".
G.: Por que fez essa pergunta?
M.: (Riso) Por que eu considerei que a matéria não estava apurada o suficiente, como eu já te falei.
G.: O que sabia sobre Silvana?
M.: Absolutamente nada. Nem sabia que o Sivaldo tinha irmã.
G.: Você enxergou Silvana como fonte de informação confiável?
M.: Como irmã, acho que sim. Uma gravação, sim.
G.: Você foi antiética?
M.: Talvez do ponto de vista da palavra estrita, sem analisar o contexto. Talvez tenha sido.
G.: Tem idéia formada a respeito de si quanto à ética nesse caso? v M.: Olha, tenho a minha realidade. Tenho um emprego, trabalho numa empresa privada, pelas leis trabalhistas sou obrigada a cumprir ordens dos meus superiores sob pena de ser mandada embora e eu te disse que eu não tava a fim de ser mandada embora.
G.: Você pensou nas conseqüências à imagem de Serys?
M.: Não. Não pensei em nada. Só fiz uma operação técnica.
Epílogo: Como se pode ver, pelo jeito de como o material foi preparado, havia uma clara armação em curso contra uma deputada. Nos parece que a jornalista Margareth se deixou ser usada. Não teve os cuidados necessários e recomendados pela ética dos jornalistas sérios. Claro que a culpa nestes casos, no fundo, são das administrações dos jornais, que além de truculentas, usam os jornalistas para atingir objetivos escusos.
Ademar Adams é Jornalista.
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/380832/visualizar/
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