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Pra não dizer que não falei dos ipês
Todo ano é a mesma coisa. De repente, no mês de junho a cidade surge cor-de-rosa ou roxa com os ipês que escandalizam com a sua beleza franca. Em agosto, os amarelos, os pra-tudo e os brancos piritinga.
Assustei-me ontem, ao levantar os olhos do volante do carro ali na rua Comandante Costa, um pouco antes da descida forte que dá na Avenida Isac Povoas. Tem um morro à esquerda onde dois ipês rosa se desafiam para mostrar quem deslumbra mais. Um deles se deu ao luxo de florescer de um lado só, deixando o outro para alguma data que só ele mesmo sabe quando será.
A partir daí comecei a pesquisar ipês floridos em Cuiabá. O Morro da Luz, então! Ali tem pencas de ipês rosa pontuando o bosque.
Desde muito criança tenho mania de ipês. Herdei esse gosto do meu pai e de minha mãe. Nós tínhamos uma propriedade de café no interior de Minas. A propriedade era familiar e todos nós trabalhávamos ali. Como eu estudava nunca fui o mais solicitado, embora tenha ajudado com freqüência. Hoje guardo aquelas lembranças com um carinho especialíssimo. Entre as lembranças entram os ipês. Primeiro, os roxos. Nós costumávamos almoçar e merendar debaixo de dois grandes ipês que floriam escandalosamente no mês de julho. Talvez pelo clima frio de lá demorassem um mês mais do que aqui em Mato Grosso.
Minha mãe nos mandava pela manhã as vasilhas de comida. Nosso almoço era por volta das nove da manhã. E olhe que o estômago já estava pregado nas costas quando chegava a hora. Era uma festa especial almoçar debaixo dos ipês. Meu pai ou meu avô Tonico tinham sempre uma estória para contar. Hoje, tão distante no tempo, meu avô já foi, mas ouso afirmar para mim mesmo: se paraíso existir, ele morava ali.
No mês de agosto nós ainda estávamos agarrados na lida com a colheita do café. Era a vez dos ipês amarelos. Ali tudo era montanhoso. Lá do outro lado, além do córrego, o fazendeiro vizinho plantava milho na várzea e colhia naquela época. Do lado de cá, nós víamos os ipês amarelos floridos na encosta deserta onde o gado pastava solto na invernada, onde raramente alguém pisava.
E os carros de boi baldeavam o milho em longas e penosas jornadas morro acima, morro abaixo. O som mântrico “ôoooooooommmmmmmm” do eixo do carro atacava duro a solidão naquele fundão mineiro. E como pano de fundo, os ipês amarelos imponentes e solitários também na sua esplendorosa beleza apreciada, quem sabe, pelo meu pai, pela minha mãe, pelo meu avô Tonico e por mim, no deslumbramento dos meus 8, 9, 10, 11 e 12 anos.
Hoje continuo um pouco solitário como naqueles tempos da infância mineira. Aliás, é o meu temperamento. Meio silencioso e contemplativo. Talvez, nesta época do ano, os ipês consigam reconstruir e resgatar aquelas lembranças que marcaram e ainda marcam profundamente a minha personalidade.
Afinal, ipês são apenas ipês diriam alguns! Pode ser. Mas considero os ipês com suas flores amarelas, rosas ou roxas e brancas, como um esplendor que invade a mente contemplativa e sacode lembranças, vivências e anima para o ano que vem, quando velhos e novos ipês estarão aí. E nos dão uma lição de vida e de generosidade.
Assustei-me ontem, ao levantar os olhos do volante do carro ali na rua Comandante Costa, um pouco antes da descida forte que dá na Avenida Isac Povoas. Tem um morro à esquerda onde dois ipês rosa se desafiam para mostrar quem deslumbra mais. Um deles se deu ao luxo de florescer de um lado só, deixando o outro para alguma data que só ele mesmo sabe quando será.
A partir daí comecei a pesquisar ipês floridos em Cuiabá. O Morro da Luz, então! Ali tem pencas de ipês rosa pontuando o bosque.
Desde muito criança tenho mania de ipês. Herdei esse gosto do meu pai e de minha mãe. Nós tínhamos uma propriedade de café no interior de Minas. A propriedade era familiar e todos nós trabalhávamos ali. Como eu estudava nunca fui o mais solicitado, embora tenha ajudado com freqüência. Hoje guardo aquelas lembranças com um carinho especialíssimo. Entre as lembranças entram os ipês. Primeiro, os roxos. Nós costumávamos almoçar e merendar debaixo de dois grandes ipês que floriam escandalosamente no mês de julho. Talvez pelo clima frio de lá demorassem um mês mais do que aqui em Mato Grosso.
Minha mãe nos mandava pela manhã as vasilhas de comida. Nosso almoço era por volta das nove da manhã. E olhe que o estômago já estava pregado nas costas quando chegava a hora. Era uma festa especial almoçar debaixo dos ipês. Meu pai ou meu avô Tonico tinham sempre uma estória para contar. Hoje, tão distante no tempo, meu avô já foi, mas ouso afirmar para mim mesmo: se paraíso existir, ele morava ali.
No mês de agosto nós ainda estávamos agarrados na lida com a colheita do café. Era a vez dos ipês amarelos. Ali tudo era montanhoso. Lá do outro lado, além do córrego, o fazendeiro vizinho plantava milho na várzea e colhia naquela época. Do lado de cá, nós víamos os ipês amarelos floridos na encosta deserta onde o gado pastava solto na invernada, onde raramente alguém pisava.
E os carros de boi baldeavam o milho em longas e penosas jornadas morro acima, morro abaixo. O som mântrico “ôoooooooommmmmmmm” do eixo do carro atacava duro a solidão naquele fundão mineiro. E como pano de fundo, os ipês amarelos imponentes e solitários também na sua esplendorosa beleza apreciada, quem sabe, pelo meu pai, pela minha mãe, pelo meu avô Tonico e por mim, no deslumbramento dos meus 8, 9, 10, 11 e 12 anos.
Hoje continuo um pouco solitário como naqueles tempos da infância mineira. Aliás, é o meu temperamento. Meio silencioso e contemplativo. Talvez, nesta época do ano, os ipês consigam reconstruir e resgatar aquelas lembranças que marcaram e ainda marcam profundamente a minha personalidade.
Afinal, ipês são apenas ipês diriam alguns! Pode ser. Mas considero os ipês com suas flores amarelas, rosas ou roxas e brancas, como um esplendor que invade a mente contemplativa e sacode lembranças, vivências e anima para o ano que vem, quando velhos e novos ipês estarão aí. E nos dão uma lição de vida e de generosidade.
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