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Politica Brasil
Quarta - 09 de Junho de 2004 às 10:23

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Tratar de política é uma tarefa um tanto desagradável, pois é um tema "indigesto" para muita gente. As nossas decepções são muitas, o descrédito é grande, as esperanças estão se esmigalhando... provocadas, em grande parte, pela conduta nada ética de muitos políticos profissionais e também pelas promessas de mudança da realidade sócio-econômica que nunca acontece ou até piora.

Porém, fugir dessa problemática, omitir-se a discutir e a atuar é uma postura política que fortalece essa política que contestamos, negamos. Em outras palavras, a nossa indiferença ou a rejeição da política é um estimulante a mais para a prática da corrupção e da manipulação da vontade coletiva em proveito próprio ou da elite dominante, o que permite agravar a situação. Negar a política não é uma boa solução, uma vez que ela sempre existirá, pois é inimaginável uma sociedade complexa organizada sem política, sem poderes constituídos, sem governo.

Por outro lado, pensando teimosamente a política a partir do seu significado último e essencial, que é organizar a sociedade de uma forma tal que todos os seus habitantes se sintam incluídos, ou seja, que haja justiça social (nem estou pensando em igualdade social), essa perspectiva exige de nós uma postura de interesse pela política, o desejo ardente pelo resgate de sua razão última de ser. Nesse sentido, a nossa determinação em valorizar e discutir a política em sua complexidade e agir organizada e conscientemente nas diferentes frentes possíveis, pode proporcionar o surgimento de uma cultura política democrática e participativa (nova hegemonia) capaz de qualificar e moralizar a política. Claro, esse processo histórico deve ser pensado dentro do tempo de longa duração.

A história política brasileira, como sabemos, é altamente elitista, autoritária e conservadora. As oligarquias agrárias, a partir das relações de domínio exercidas no interior das grandes fazendas (domínio patriarcal com a utilização da mão-de-obra escrava), estenderam e possibilitaram essa dominação para toda a sociedade, sujeitando os trabalhadores a relações de favor, de tutela e de clientela. A grande propriedade rural se constituiu na grande fonte do poder político. A dominação imposta por essas oligarquias provocava a domesticação dos trabalhadores: "a dominação pessoal transforma aquele que a sofre numa criatura domesticada: proteção e benevolência lhe são concedidas em troca de fidelidade e serviços reflexos" (Carvalho Franco).

Historicamente, o autoritarismo político está vinculado ao autoritarismo social: "tendemos a não perceber que é a sociedade brasileira que é autoritária e que dela provêm as diversas manifestações do autoritarismo político" (Chauí).

A história dos trabalhadores, em grande medida e até recentemente, é uma história de não participação política, de perseguição e de repressão em suas lutas de resistência fora da política institucional ou de manipulação - já no período Republicano - por essas elites agrárias e também, posteriormente, pelas elites urbanas. Dentro dessa história dos trabalhadores, é vital lembrar os quase 400 anos de escravidão legalizada, cuja realidade ainda se reflete fortemente nas atuais relações sociais e políticas. Os direitos sociais e políticos conquistados pelos trabalhadores no decorrer do período republicano são o resultado de muitas lutas e de muitas mortes. Para entender os atuais privilégios, a insensibilidade social e a falta de ética no comportamento da maioria dos políticos e, em contrapartida, a dificuldade de organização e de mobilização política dos setores populares que sustentam essa estrutura de desigualdade social aviltante, essa polarização entre "a carência absoluta das camadas populares e o privilégio absoluto das camadas dominantes e dirigentes" (Chauí), é imprescindível lançar o olhar para as raízes que vêm do passado.

Os traços do passado ainda arraigados no presente e os novos problemas sociais e políticos que se apresentam na atualidade, constituem um gigantesco "entulho" a ser removido, tarefa impossível para apenas uma geração. No regime político atual, onde vigora a democracia liberal, há espaço e condições para o debate público dos nossos problemas sociais e políticos e para a atuação organizada e consciente na sociedade civil e na política institucional, mesmo que ainda limitados. Ocupando e ampliando esses espaços de participação é possível, dentro de um processo lento e conflitivo, desenvolver uma nova cultura política, alicerçada na democracia representativa e direta, no exercício da cidadania, na exigência dos nossos direitos, na utopia possível da construção da sociedade justa.

Dentro desse amplo movimento societário de renovação política, vai ganhando força o clamor popular que exige ética na política. As campanhas eleitorais e o exercício do poder do Estado nas esferas municipal, estadual e federal devem estar pautadas em determinados valores, princípios morais. Na política em seu sentido pleno, não cabem atos de poder abusivo, de traição aos interesses populares, de apropriação privada dos bens públicos (corrupção), etc. A ética na política exige dos cidadãos uma verdadeira "cruzada" em favor da moralização da política.

O grupo de estudo FILOPHIS (Filosofia Política na História) está organizando um CURSO DE EXTENSÃO para o período de 12 a 19 de junho próximo, no anfiteatro do Campus Universitário Rondonópolis/UFMT, para tratar dessa problemática, tendo como tema: "Ética e Política Municipal". Trata-se de um grupo informal de estudantes do Curso de História, organizado de forma descentralizado, que já tem uma história de dois anos, e que tem como objetivo estudar e discutir temáticas relacionadas à ampla área do conhecimento que abrange Filosofia, Política e Sociologia, vinculadas à perspectiva teórica da compreensão da História. O intuito principal com esse Curso de Extensão é propiciar um debate com um público mais amplo, convidar todas as pessoas interessadas da sociedade local para tratar de questões cruciais acerca da política, tendo como enfoque a ética. Como estamos em um ano eleitoral, o grupo decidiu circunstanciar a discussão em torno da política municipal. O grupo FILOPHIS está animado, trabalhando para que esse curso ocorra de forma organizada e de qualidade, bem como está aberto para acolher a todos os interessados. Sejam bem vindos!!!




Fonte: Primeira Hora

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