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Politica Brasil
Segunda - 31 de Maio de 2004 às 07:40
Por: Vitor Gomes Pinto

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Nos cinco países andinos a democracia corre risco. A instabilidade política ameaça irromper em vulcões de lava que a muito custo estão contidos. Embora as situações de Colômbia e Venezuela sejam as mais críticas, os problemas de Peru, Equador e Bolívia permanecem complexos e de difícil solução.

As Farc – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia –, sob o comando astuto de Manuel Marulanda Véliz, o Tirofixo (o mais antigo revolucionário do mundo em atividade), comemoram seus longos 40 anos de existência com uma onda de atentados que nos últimos dias deixaram quarenta municípios sem energia.

O presidente Álvaro Uribe partiu para soluções de força com apoio logístico e financeiro norte-americano, aumentou a presença governamental em áreas de tradicional domínio da guerrilha, do tráfico e dos paramilitares, forçando o recuo das Farc que, no entanto, ainda dominam a maior parte do país.

De volta às selvas e aos pântanos, terreno no qual tem sido imbatível, a guerrilha repete a estratégia que tantas vezes já lhe deu bons resultados, encolhendo-se à espera de que a ofensiva do governo arrefeça. A proposta de troca de prisioneiros não avança e a prática de seqüestros se generalizou. Uribe iniciou um processo de entendimento específico com as Autodefesas Unidas da Colômbia, uma espécie de esquadrão da morte, que resultou na desmobilização inicial de um bloco de 850 militantes (muitos dos quais, na verdade, eram desempregados e sem-terras), cerca de 4% do total, num processo que não teve continuidade.

A ameaça de extradição para os EUA dos líderes da esquerda e da direita está provocando negociações entre as Farc e as AUC visando unir forças para combater o inimigo comum, o que provocaria uma nova e perigosa escalada na guerra colombiana. Hugo Chávez Frias debate-se incansável na sua luta por manter o poder apesar da rejeição da grande maioria dos venezuelanos. “O pesadelo (Chávez) está terminando” declarou Enrique Mendoza, governador do estado de Miranda e líder do movimento oposicionista Coordenadora Democrática que de sexta a domingo tentou revalidar assinaturas já antes coletadas para aprovar o referendo revogatório do mandato presidencial. São necessárias 2,43 milhões de assinaturas para que o plebiscito aconteça até a data limite de 8 de agosto. 1,9 milhão foi considerado válido, mas outro 1,19 milhão de cédulas viu-se colocado em dúvida pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral) que é chavista.

O eleitor cuja rubrica foi objetada deve apresentar-se e ratificar diante de mesários que de fato assinou a favor da consulta revogatória. Pode também pedir sua exclusão e para isso o Executivo tem pressionado de todas as formas, respaldado pelo dinheiro do petróleo que, em alta contínua, já está a 40 dólares o barril. O secretário-geral da OEA, César Gaviria, e o ex-presidente Jimmy Carter estão em Caracas tentando garantir a idoneidade da coleta de assinaturas, numa missão provavelmente inglória. Chávez tem repetido à exaustão que não quer o referendo e deverá encontrar novas desculpas para iludi-lo. Como disse o principal editorialista do jornal El Nacional, referindo-se à chamada V República venezuelana, “uma revolução não negocia nem se submete a votações”.

O Peru vive num mar de protestos, alguns violentos, há muito desiludido com Alejandro Toledo que, com 6% de aprovação popular, é o mais desprestigiado líder latino-americano. Convive diariamente com a eventualidade de “impeachment”, da mesma maneira que seu colega equatoriano Lucio Gutierrez bombardeado por acusações de corrupção interna. Para substituir Patricio Acosta, ministro do Bem-Estar Social que teve o visto de entrada nos EUA revogado, foi nomeado o líder indígena Antonio Vargas hoje considerado um oportunista por boa parte de sua raça. Uma marcha prevista para a segunda semana de junho tentará forçar a queda de Gutierrez.

Na Bolívia, depois da queda de Sánchez de Lozada, assumiu o vice Carlos Mesa que já tem só 37% de apoio popular e volta a sofrer pressão dos cocaleros e do Movimento Ao Socialismo (MAS) chefiado pelo aimará Evo Morales. Tentando desviar a atenção dos graves problemas nacionais (crise econômica, dificuldades de exportação do gás), Mesa reacendeu a disputa com o Chile pelo acesso ao mar, sem qualquer resultado prático.

Os povos andinos, exaustos com seus políticos, querem democracia mas fazem questão de dias melhores enquanto aguardam que a pressão diminua acalmando seus vulcões.

*Vitor Gomes Pinto Escritor, analista internacional Autor do livro “Guerra nos Andes” Vitor.gp@persocom.com.br




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