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Platão e a nossa política
No surgimento da análise política, Platão fez uma profunda descrição da suaimportância para a condução do Estado. Para ele o principal problema da
política é que todos os homens se acham aptos para exercê-la, o que
considera um equívoco, pois política é a mais complexa das artes, é uma
conjunção de dons.
O mais importante desses dons é a arte de tecer que engloba a sensatez para escolher o tecido, a escolha das peças que devem ser costuradas e, claro, quem pretende vestir. Se o indivíduo conseguir reunir essas habilidades, poderá tecer vestimentas fortes e protetoras.
Os que não conseguirem, não encontrarão o equilíbrio entre o tecido e a vestimenta. Nos dias atuais isso se traduz na arte de aglutinar, de compor, de negociar apoios, tudo dentro de uma imensidão de sutilezas. O bom político é aquele que consegue tudo isso, compor, aglutinar, negociar, enfim, aquele que se viabiliza dentro de um determinado grupo. O que não possui essa capacidade se isola e é rejeitado.
A movimentação política em Cuiabá está retratando muito bem a análise de Platão. A candidatura que deveria ser a mais forte, pois contaria com o apoio do atual prefeito e do governador vem sendo colocada em prova todos os dias. Pela quantidade de vezes que o PPS reafirmou seu apoio ao candidato deles mesmos, demonstra que não existe convicção nesse apoio.
Dentro da teoria de Platão, vamos analisar. O candidato do PPS aparece com uma grande vantagem nas pesquisas de intenções de voto, mas não tem apoio político, ou seja, não tem habilidade de aglutinar, de tecer. Foi oscilante na hora de escolher o tecido e escolheu mau as peças que deveriam ser costuradas. Adotou um posicionamento de independência e isso em política é uma falta grave.
O erro foi utilizar-se apenas da retórica, da arte da eloqüência que a sua formação de jornalista possibilitou, para agir como político. Um jornalista invariavelmente cria arestas, que nessa profissão não se caracteriza um defeito, mas, politicamente, o impede de tecer vestimentas fortes e protetoras. A deformidade de percurso nasceu, exatamente no momento que, enquanto jornalista, agiu como político e se agrava agora que, enquanto político, age como um repórter.
Para Platão, aquele que possui esse perfil de independência e chega ao poder através de sua habilidade, única e exclusivamente retórica, torna-se indiferente, pode fazer o que lhe convier. Tudo estará justificado pela ciência que ele próprio tem das coisas. Os ensinamentos de Platão servem para nos alertar que "ter compromisso com um grupo político" é um fator que delimita as ações, ao contrário de limitar.
Talvez lhe tenha faltado tempo, pela sua meteórica ascensão política para aprender a tecer, a escolher o tecido, saber determinar as peças que devem ser costuradas e, claro, para definir quem pretende vestir. Para não perder o humor, umas aulinhas de corte-costura podem ajudar.
Adriana Vandoni Curvo - È professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. E-MAIL: avandoni@uol.com.br
O mais importante desses dons é a arte de tecer que engloba a sensatez para escolher o tecido, a escolha das peças que devem ser costuradas e, claro, quem pretende vestir. Se o indivíduo conseguir reunir essas habilidades, poderá tecer vestimentas fortes e protetoras.
Os que não conseguirem, não encontrarão o equilíbrio entre o tecido e a vestimenta. Nos dias atuais isso se traduz na arte de aglutinar, de compor, de negociar apoios, tudo dentro de uma imensidão de sutilezas. O bom político é aquele que consegue tudo isso, compor, aglutinar, negociar, enfim, aquele que se viabiliza dentro de um determinado grupo. O que não possui essa capacidade se isola e é rejeitado.
A movimentação política em Cuiabá está retratando muito bem a análise de Platão. A candidatura que deveria ser a mais forte, pois contaria com o apoio do atual prefeito e do governador vem sendo colocada em prova todos os dias. Pela quantidade de vezes que o PPS reafirmou seu apoio ao candidato deles mesmos, demonstra que não existe convicção nesse apoio.
Dentro da teoria de Platão, vamos analisar. O candidato do PPS aparece com uma grande vantagem nas pesquisas de intenções de voto, mas não tem apoio político, ou seja, não tem habilidade de aglutinar, de tecer. Foi oscilante na hora de escolher o tecido e escolheu mau as peças que deveriam ser costuradas. Adotou um posicionamento de independência e isso em política é uma falta grave.
O erro foi utilizar-se apenas da retórica, da arte da eloqüência que a sua formação de jornalista possibilitou, para agir como político. Um jornalista invariavelmente cria arestas, que nessa profissão não se caracteriza um defeito, mas, politicamente, o impede de tecer vestimentas fortes e protetoras. A deformidade de percurso nasceu, exatamente no momento que, enquanto jornalista, agiu como político e se agrava agora que, enquanto político, age como um repórter.
Para Platão, aquele que possui esse perfil de independência e chega ao poder através de sua habilidade, única e exclusivamente retórica, torna-se indiferente, pode fazer o que lhe convier. Tudo estará justificado pela ciência que ele próprio tem das coisas. Os ensinamentos de Platão servem para nos alertar que "ter compromisso com um grupo político" é um fator que delimita as ações, ao contrário de limitar.
Talvez lhe tenha faltado tempo, pela sua meteórica ascensão política para aprender a tecer, a escolher o tecido, saber determinar as peças que devem ser costuradas e, claro, para definir quem pretende vestir. Para não perder o humor, umas aulinhas de corte-costura podem ajudar.
Adriana Vandoni Curvo - È professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. E-MAIL: avandoni@uol.com.br
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/383090/visualizar/
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