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Cultura
Terça - 11 de Maio de 2004 às 18:10
Por: Beatriz Coelho Silva

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Rio - A cantora Zélia Duncan dá seu grito de independência, às vesperas de completar 40 anos (em outubro) de idade e 23 de carreira. Ela lança o CD Eu me Transformo em Outras, o primeiro de seu selo e, também, no qual só canta músicas de outros compositores, tanto do passado (como Herivelto Martins, Ataulfo Alves e Wilson Batista) como atuais (José Miguel Wisnik, Lula Queiroga e Luiz Tatit). "Pela primeira vez, gravei depois de testar o repertório em shows, no Centro Cultural Carioca, no Rio, e nos Sescs da Vila Mariana e de Santo André, em São Paulo", conta Zélia. "De início, era só um show, para fugir do marasmo da indústria fonográfica. Quando decidimos gravar, estávamos azeitadíssimos e fizemos o disco em cinco dias."

O plural não é majestático. Desta vez, ela é não é solista, sente-se integrante de um grupo. E que grupo! Zélia queria cantar músicas que fazem sua história e chamou Bia Paes Leme, arranjadora que o grande público ainda vai descobrir, mas que tem um extenso currículo de trilhas para teatro e ensino de música, para encontrar a sonoridade adequada. Vieram o violonista Marco Pereira, para tocar um instrumento com oito cordas ("Dá a impressão de ter o baixo junto", salienta Zélia), o brasiliense Hamilton de Holanda no bandolim de dez cordas, Márcio Bahia para as percussões ("e pelo astral porque ele literalmente bate o tambor para tudo dar certo") e a gaita de Gabriel Grossi. "A Bia trouxe os arranjos, mas nos deixou soltos e encontramos soluções fantásticas", repara a cantora, que deixou de lado seu violão de aço. "Não tinha nada a ver com esse som e eu queria ficar só de canária mesmo. Não incluí nenhuma música minha, pois estava contando minha história e eu comecei cantando. Nunca achei que ia fazer sucesso como compositora, embora tenha acontecido assim e eu adore ouvir um estádio repleto entoando uma canção feita por mim."

Eu me Transformo em Outras tem uma unidade difícil de definir. Pode-se dizer que predominam os sambas tradicionais, suingados (Quando Esse Nego Chega, Nega Manhosa, Boca de Siri, Meu Rádio e Meu Mulato, Sábado em Copacabana e Eu não Sou daqui, todos anteriores à bossa nova) ou românticos (Nova Ilusão, Disfarça e Chora e Linda Flor), mas tem também choro (Doce-de-Coco), fox (Renúncia, do repertório de Nelson Gonçalves) e - heresia para os puristas - um clássico americano (Dream a Little Dream of me). "É para quebrar, para não ficar naquela história de resgate da música brasileira que, aliás, não precisa disso", avisa ela. "Tudo que está no disco, antigo ou novo, entrou pelo puro prazer de cantar com esse grupo me acompanhando e porque o público gosta de ouvir."

Outra marca do disco são os arranjos repletos de citações. Assim, Deusa da Minha Rua mistura-se com Rosa, de Pixinguinha, enquanto Janelas Abertas (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) recebe o auxílio luxuoso do tango El Dia Que me Quieras (clássico de Carlos Gardel), e Tô, de Tom Zé e Elton Medeiros, começa com o Corta-Jaca, de Chiquinha Gonzaga. "Começo a fazer shows amanhã (no Teatro Rival, no Rio, até o dia 23, e no o Sesc Vila Mariana, em São Paulo, em junho) e vou repetir o alto-astral do disco." Zélia só não sabe se vai incluir no repertório a regravação de Jura Secreta, que entrou no disco pelo sucesso que faz na trilha de Da Cor do Pecado, da Globo. "Gravei a pedido da emissora, com arranjo de cordas da Bia Paes Leme. Deu tão certo que a voz guia, aquela que a gente faz para os músicos gravarem o acompanhamento em cima, ficou ótima e foi a definitiva", lembra Zélia. "Mas fica meio estrangeira no meio desse repertório, enquanto a gente não encontrar o jeito certo de fazê-la."




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