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Politica Brasil
Terça - 11 de Maio de 2004 às 18:02
Por: Onofre Ribeiro

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A indicação do historiador João Carlos Ferreira para a Secretaria de Estado da Cultura foi ótima e traz um alento necessário no setor cultural de Mato Grosso.

Estamos vivendo, já faz muitos anos, um aparente conflito entre culturas no estado. A princípio, havia a cultura tipicamente mato-grossense enraizada em Cuiabá e no Pantanal, além das regiões garimpeiras e alguma coisa no nordeste, ali na região do baixo Araguaia, que envolve São Felix do Araguaia. Havia, também, Barra do Garças com sua forte influência goiana.

Era só que existia até a década de 1970 quando começaram as intensas migrações destinadas a ocuparem demográfica e economicamente a Amazônia. Mas essas pessoas não vieram só para o norte do estado. Ficaram ao sul e na capital, dando início a uma profunda transformação humana com todos os desdobramentos, em especial o cultural.

Foi assim que a viola de cocho cuiabana ficou conhecida dos migrantes que ensinaram o churrasco temperado com sal grosso, acompanhado de mandioca, no lugar do pão sulista. O siriri e o cururu foram enriquecidos com o ressurgimento do rasqueado. E, num mesmo salão de dança, se baila rasqueado, vanerão e a música caipira do sudeste, em perfeita harmonia.

Porém, aos poucos a matriz cuiabana, baseada na baixada do entorno da capital foi perdendo espaços para uma visão mais ampla da cultura e das gentes mato-grossenses velhas e novas. Assim, o pantanal foi ficando para trás, empobrecido e esquecido. Apesar de ser a raiz da identidade mato-grossense está engessado dos processos atuais.

Ontem, dizia-me o João Carlos Ferreira da sua preocupação em resgatar o pantanal desse papel histórico onde estão raízes como a navegação, a pecuária, a pesca, a culinária, as artes do couro, o folclore, a linguagem e a fala, a música e até mesmo as genéticas bovinas e eqüinas dos rebanhos históricos. E, mais do que tudo, o universo do homem pantaneiro.

Conversamos bastante a respeito. Concordo com ele nessa preocupação de se resgatar as raízes pantaneiras a fim de que o turismo futuro, que será uma das atividades econômicas futuras, tenha uma base de sustentação histórica legítima.

Essa visão de João Carlos de reconhecer a Baixada Cuiabana como a matriz cultural de Mato Grosso e do próprio Centro-Oeste é muito importante. Existem vários núcleos culturais e econômicos dentro do estado. Uns novos e muito ricos. Outros antigos e ricos. E alguns antigos e com a economia exaurida, em busca de uma nova identidade nesses tempos novos.

Ninguém, além da cultura, poderá traçar a união da nova identidade mato-grossense senão a cultura. Não a preservação exclusiva. Mas a soma de todas as manifestações em busca de uma síntese que represente a própria síntese do Mato Grosso atual onde vivem 2,5 milhões de pessoas nascidas aqui originariamente, nascidas de pessoas advindas e os filhos de ambos.

Por isso, vejo com enorme simpatia e esperança a escolha do historiador João Carlos, um profundo conhecedor de Mato Grosso, para ocupar esse setor público por onde trafegará nos próximos anos e no futuro a nova identidade desse imenso Mato Grosso formado por muitas identidades, muitas culturas e por muitas gentes. Foi uma bela escolha!

* Onofre Ribeiro é Jornalista em Cuiabá.




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