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Militares temiam represálias, diz Dante de Oliveira
O ex-deputado federal Dante de Oliveira (MT), 52, autor da emenda propondo a volta das eleições diretas para presidente, diz que Tancredo Neves (1910-1985) já previa que o projeto seria rejeitado por pressão dos militares: "A pressão que os militares vêm fazendo... Você não imagina. É monstruosa". Hoje no PSDB, Dante narra a história da campanha no livro "Diretas-Já: 15 Meses que Abalaram a Ditadura" (Record), escrito em co-autoria com o ex-deputado Domingos Leonelli. Leia trechos da entrevista:
Folha - A idéia da emenda das diretas foi sua ou de seu pai?
Dante de Oliveira - A idéia foi minha. Meu pai, que era advogado, me ajudou a redigir o projeto.
Folha - Na anticandidatura de Ulysses Guimarães à Presidência, de 1973 a 1974, já se falava nisso. Mas é curioso que esse projeto não tivesse sido apresentado antes.
Dante - Não. Alguns projetos foram apresentados antes de mim, mas foram arquivados, porque ficaram no âmbito do Congresso, dentro das paredes do Congresso. Quando resolvi apresentar o projeto, fui ao Prodasen no início de janeiro de 1983. Perguntei quantas emendas havia sobre eleições diretas. O funcionário me disse: "Não tem nada". A partir daí, eu corri para conseguir as assinaturas. Pegava assinaturas de deputado que não conhecia, de senador que não conhecia. Pedi até assinatura a um jornalista: eu não conhecia ninguém! Por que eu corri tanto? Porque tinha consciência de que um projeto restabelecendo as eleições diretas, na sucessão de João Baptista Figueiredo, iria ser muito discutido. Mas eu jamais pensei que iria tomar o volume que tomou. Ninguém imaginou.
Folha - Havia resistências à campanha dentro do PMDB?
Dante - Quando eu apresentei a emenda, em 2 de março, o PMDB estava fazendo uma reunião da bancada federal. No mesmo dia que eu apresentei o projeto, o Domingos Leonelli defendeu a idéia na reunião da bancada. O Ulysses Guimarães abençoou a idéia, mas não colocou a campanha de cara nas ruas. Ficamos chateados, mas só depois fomos compreender: ele tinha governadores recém-eleitos. Ele não podia colocar a campanha na rua porque esses governadores, embora tenham apoiado a idéia, não queriam entrar confrontando o governo federal.
Folha - Naquela época, o PDS tinha maioria muito firme no Senado. O sr. chegou a acreditar que a emenda pudesse ser aprovada?
Dante - A campanha pegou forte nas ruas. Milhões e milhões de pessoas, uma coisa fantástica. Isso levou a gente a pensar que ela podia ser aprovada. Mas me lembro bem de uma conversa no Hotel Nacional, em março de 1984, num domingo de manhã: eu, o João Herrmann, o Leonelli e o Tancredo. No final o Tancredo me pegou pelo braço e disse: "A pressão que os militares vêm fazendo... Você não imagina. É monstruosa. Monstruosa! É muito difícil a emenda passar. Mas vamos continuar tocando a campanha. Mas vai ser difícil". Eles estavam fazendo uma pressão brutal. O Figueiredo chamava um a um os deputados do PDS para pressioná-los.
Folha - Mas o governo ameaçava com um possível golpe militar?
Dante - Eles deveriam usar isso nas conversas com os deputados. Mas não havia clima para isso. Acho que ali houve muito mais o medo de um presidente eleito no arrastão da diretas. Eles sabiam que um presidente eleito no bojo daquele movimento seria muito forte e sofreria pressões terríveis para fazer mudanças profundas e para botar os próprios militares no banco dos réus pelos crimes, pelas torturas. No Colégio Eleitoral eles sabiam que o candidato teria que negociar, se articular. É outro caráter de candidatura.
Folha - Quando o sr. percebe que a emenda não iria passar?
Dante - Nós sempre achávamos que podia dar. A gente se alimentava das esperanças da pressão popular. Como ficariam os deputados que votassem contra um projeto tão popular? A gente acreditava que na hora H eles iriam votar com a rua. Mas isso mostra porque a ditadura demorou tanto: tinha uma base de apoio fisiológica que não agüentava a pressão [de cima]. E foi o que ocorreu.
Folha - A idéia da emenda das diretas foi sua ou de seu pai?
Dante de Oliveira - A idéia foi minha. Meu pai, que era advogado, me ajudou a redigir o projeto.
Folha - Na anticandidatura de Ulysses Guimarães à Presidência, de 1973 a 1974, já se falava nisso. Mas é curioso que esse projeto não tivesse sido apresentado antes.
Dante - Não. Alguns projetos foram apresentados antes de mim, mas foram arquivados, porque ficaram no âmbito do Congresso, dentro das paredes do Congresso. Quando resolvi apresentar o projeto, fui ao Prodasen no início de janeiro de 1983. Perguntei quantas emendas havia sobre eleições diretas. O funcionário me disse: "Não tem nada". A partir daí, eu corri para conseguir as assinaturas. Pegava assinaturas de deputado que não conhecia, de senador que não conhecia. Pedi até assinatura a um jornalista: eu não conhecia ninguém! Por que eu corri tanto? Porque tinha consciência de que um projeto restabelecendo as eleições diretas, na sucessão de João Baptista Figueiredo, iria ser muito discutido. Mas eu jamais pensei que iria tomar o volume que tomou. Ninguém imaginou.
Folha - Havia resistências à campanha dentro do PMDB?
Dante - Quando eu apresentei a emenda, em 2 de março, o PMDB estava fazendo uma reunião da bancada federal. No mesmo dia que eu apresentei o projeto, o Domingos Leonelli defendeu a idéia na reunião da bancada. O Ulysses Guimarães abençoou a idéia, mas não colocou a campanha de cara nas ruas. Ficamos chateados, mas só depois fomos compreender: ele tinha governadores recém-eleitos. Ele não podia colocar a campanha na rua porque esses governadores, embora tenham apoiado a idéia, não queriam entrar confrontando o governo federal.
Folha - Naquela época, o PDS tinha maioria muito firme no Senado. O sr. chegou a acreditar que a emenda pudesse ser aprovada?
Dante - A campanha pegou forte nas ruas. Milhões e milhões de pessoas, uma coisa fantástica. Isso levou a gente a pensar que ela podia ser aprovada. Mas me lembro bem de uma conversa no Hotel Nacional, em março de 1984, num domingo de manhã: eu, o João Herrmann, o Leonelli e o Tancredo. No final o Tancredo me pegou pelo braço e disse: "A pressão que os militares vêm fazendo... Você não imagina. É monstruosa. Monstruosa! É muito difícil a emenda passar. Mas vamos continuar tocando a campanha. Mas vai ser difícil". Eles estavam fazendo uma pressão brutal. O Figueiredo chamava um a um os deputados do PDS para pressioná-los.
Folha - Mas o governo ameaçava com um possível golpe militar?
Dante - Eles deveriam usar isso nas conversas com os deputados. Mas não havia clima para isso. Acho que ali houve muito mais o medo de um presidente eleito no arrastão da diretas. Eles sabiam que um presidente eleito no bojo daquele movimento seria muito forte e sofreria pressões terríveis para fazer mudanças profundas e para botar os próprios militares no banco dos réus pelos crimes, pelas torturas. No Colégio Eleitoral eles sabiam que o candidato teria que negociar, se articular. É outro caráter de candidatura.
Folha - Quando o sr. percebe que a emenda não iria passar?
Dante - Nós sempre achávamos que podia dar. A gente se alimentava das esperanças da pressão popular. Como ficariam os deputados que votassem contra um projeto tão popular? A gente acreditava que na hora H eles iriam votar com a rua. Mas isso mostra porque a ditadura demorou tanto: tinha uma base de apoio fisiológica que não agüentava a pressão [de cima]. E foi o que ocorreu.
Fonte:
Folha de São Paulo
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/384968/visualizar/
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