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Há duas décadas, emenda Dante de Oliveira foi rejeitada no Congresso
Há 20 anos os brasileiros choraram, mais que a derrota da emenda Dante de Oliveira, que restabeleceria eleições diretas no país, a perda da esperança de cidadania que cada uma daquelas milhares de pessoas alimentava e deixava transbordar em gritos de ''um, dois, três, quatro, cinco, mil, quero votar para presidente do Brasil'' que ecoavam nas praças públicas.
Vice-presidente do PSDB, Dante de Oliveira, autor da emenda, resume a frustração que tomou conta da nação na madrugada de 26 de abril:
- A emoção foi a tônica da campanha, a maior mobilização popular do país, que teve duas marcas: nem um tiro e sequer uma janela quebrada. Enchemo-nos de esperança. Por mais subserviente que fosse o Congresso, achávamos que seria aprovada a emenda. Mas, mesmo com a derrota da emenda, o Brasil passou a
ser outro. A Proposta de Emenda Constitucional, assinada por Dante, 176 deputados e 23 senadores, foi apresentada em 2 de março de 1983, na abertura do Congresso. No livro Diretas Já - Quinze meses que abalaram a ditadura, escrito a quatro mãos, por Dante e o ex-deputado federal Domingos Leonelli, que será lançado amanhã na livraria Argumento, no Leblon, o ex-ministro da Justiça Fernando Lyra credita a boa repercussão da emenda à sorte e ao preparo físico de Dante.
- Sabia que a sucessão de Figueiredo seria muito discutida no Congresso. Consegui as assinaturas antes da posse. Percorri aeroportos e restaurantes atrás dos parlamentares. A assinatura do Nelson Carneiro, peguei quando ele estava em casa, de pijama. Na abertura do Congresso, fiquei junto do microfone, logo pedi para falar e apresentei o projeto - conta Dante.
Diversos líderes políticos se mostravam céticos.
- Era natural. Ninguém acreditava em nada. A emenda só começou a tomar corpo no PMDB em julho - explica Lyra.
Debilitado por um câncer, Teotônio Vilela teve papel relevante para as diretas.
- A presença dele na Presidência do PMDB e a emoção na articulação política aceleraram a campanha - disse Leonelli.
Então presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva participou ativamente da campanha. Após a derrota da emenda, decidiu não apoiar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.
Foram cerca de 2.200 comícios no país, do primeiro, para 5 mil pessoas, em Goiânia, em 15 de junho de 1983, ao último, na Praça da Sé, em 16 de abril de 1984, com mais de 1,5 milhão de espectadores. O livro registra passagem envolvendo Tancredo. Ele subiu a rampa do Planalto, em outubro de 1983, convidado pelo presidente Figueiredo, que abriria diálogos com a oposição. Ganhou desde então a expressão ''rampeiro'', considerada pejorativa, usada para definir quem aceitava dialogar com o governo.
Dante e Leonelli relatam o clima no comício da Praça da Sé (SP), em 25 de janeiro de 1984, com mais de 300 mil pessoas. ''Atos de violência'', só contra os caixões de papelão que simbolizavam o enterro da ditadura. Passaram de mão em mão e terminaram destruídos. A atriz Fernanda Montenegro dirigiu-se a João Figueiredo, chorando: ''Senhor presidente, exigimos anistia total para o povo através de eleições diretas''. Franco Montoro, governador do Estado, que fora vaiado por militantes do PT, fez um discurso avassalador: ''Me perguntaram quantas pessoas estão nesta praça, 300 mil, 400 mil? A resposta é outra: Aqui estão 130 milhões de brasileiros''.
Em 10 de fevereiro de 1984, ministros advertiram para os riscos da mobilização pelas diretas. Governistas pediam que Figueiredo enquadrasse Aureliano Chaves. O vice-presidente não se deixou dobrar, manteve o apoio às diretas por se tratar de ''aspiração nacional'' e chegou a dizer que o povo estava ''contra o governo''.
Dois meses depois, o comício da Candelária foi o mais emocionante na opinião de Dante e de Leonelli.
- Era uma maré humana gigantesca. Extrapolou todos os limites - lembra Leonelli.
Dante de Oliveira recorda quando chegou para o comício:
- Os jovens estavam sentados na calçada da Presidente Vargas ouvindo Coração de estudante. Foi de arrepiar.
No dia da votação, 25 de abril de 1984, foi proibida a transmissão ao vivo da sessão pela TV. O ''sim'' sempre esteve à frente, porém, a cada ausência de um pedessista, crescia a certeza de que a emenda não passaria. Um dos momentos mais emocionantes foi quando o deputado Pedro Colim, do PDS, saiu do hospital em cadeira de rodas para votar a favor das diretas. Passava das 2h quando o presidente da Câmara, Moacyr Dalla, proclamou o resultado: ''298 votos sim, 65 contra e três abstenções. Os votos não alcançaram o quorum constitucional necessário à aprovação''. O país inteiro dormia sem saber que o sonho das diretas fora desfeito. Faltaram 22 votos. Eleição direta, só cinco anos depois. Mas essa é outra história.
Vice-presidente do PSDB, Dante de Oliveira, autor da emenda, resume a frustração que tomou conta da nação na madrugada de 26 de abril:
- A emoção foi a tônica da campanha, a maior mobilização popular do país, que teve duas marcas: nem um tiro e sequer uma janela quebrada. Enchemo-nos de esperança. Por mais subserviente que fosse o Congresso, achávamos que seria aprovada a emenda. Mas, mesmo com a derrota da emenda, o Brasil passou a
ser outro. A Proposta de Emenda Constitucional, assinada por Dante, 176 deputados e 23 senadores, foi apresentada em 2 de março de 1983, na abertura do Congresso. No livro Diretas Já - Quinze meses que abalaram a ditadura, escrito a quatro mãos, por Dante e o ex-deputado federal Domingos Leonelli, que será lançado amanhã na livraria Argumento, no Leblon, o ex-ministro da Justiça Fernando Lyra credita a boa repercussão da emenda à sorte e ao preparo físico de Dante.
- Sabia que a sucessão de Figueiredo seria muito discutida no Congresso. Consegui as assinaturas antes da posse. Percorri aeroportos e restaurantes atrás dos parlamentares. A assinatura do Nelson Carneiro, peguei quando ele estava em casa, de pijama. Na abertura do Congresso, fiquei junto do microfone, logo pedi para falar e apresentei o projeto - conta Dante.
Diversos líderes políticos se mostravam céticos.
- Era natural. Ninguém acreditava em nada. A emenda só começou a tomar corpo no PMDB em julho - explica Lyra.
Debilitado por um câncer, Teotônio Vilela teve papel relevante para as diretas.
- A presença dele na Presidência do PMDB e a emoção na articulação política aceleraram a campanha - disse Leonelli.
Então presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva participou ativamente da campanha. Após a derrota da emenda, decidiu não apoiar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.
Foram cerca de 2.200 comícios no país, do primeiro, para 5 mil pessoas, em Goiânia, em 15 de junho de 1983, ao último, na Praça da Sé, em 16 de abril de 1984, com mais de 1,5 milhão de espectadores. O livro registra passagem envolvendo Tancredo. Ele subiu a rampa do Planalto, em outubro de 1983, convidado pelo presidente Figueiredo, que abriria diálogos com a oposição. Ganhou desde então a expressão ''rampeiro'', considerada pejorativa, usada para definir quem aceitava dialogar com o governo.
Dante e Leonelli relatam o clima no comício da Praça da Sé (SP), em 25 de janeiro de 1984, com mais de 300 mil pessoas. ''Atos de violência'', só contra os caixões de papelão que simbolizavam o enterro da ditadura. Passaram de mão em mão e terminaram destruídos. A atriz Fernanda Montenegro dirigiu-se a João Figueiredo, chorando: ''Senhor presidente, exigimos anistia total para o povo através de eleições diretas''. Franco Montoro, governador do Estado, que fora vaiado por militantes do PT, fez um discurso avassalador: ''Me perguntaram quantas pessoas estão nesta praça, 300 mil, 400 mil? A resposta é outra: Aqui estão 130 milhões de brasileiros''.
Em 10 de fevereiro de 1984, ministros advertiram para os riscos da mobilização pelas diretas. Governistas pediam que Figueiredo enquadrasse Aureliano Chaves. O vice-presidente não se deixou dobrar, manteve o apoio às diretas por se tratar de ''aspiração nacional'' e chegou a dizer que o povo estava ''contra o governo''.
Dois meses depois, o comício da Candelária foi o mais emocionante na opinião de Dante e de Leonelli.
- Era uma maré humana gigantesca. Extrapolou todos os limites - lembra Leonelli.
Dante de Oliveira recorda quando chegou para o comício:
- Os jovens estavam sentados na calçada da Presidente Vargas ouvindo Coração de estudante. Foi de arrepiar.
No dia da votação, 25 de abril de 1984, foi proibida a transmissão ao vivo da sessão pela TV. O ''sim'' sempre esteve à frente, porém, a cada ausência de um pedessista, crescia a certeza de que a emenda não passaria. Um dos momentos mais emocionantes foi quando o deputado Pedro Colim, do PDS, saiu do hospital em cadeira de rodas para votar a favor das diretas. Passava das 2h quando o presidente da Câmara, Moacyr Dalla, proclamou o resultado: ''298 votos sim, 65 contra e três abstenções. Os votos não alcançaram o quorum constitucional necessário à aprovação''. O país inteiro dormia sem saber que o sonho das diretas fora desfeito. Faltaram 22 votos. Eleição direta, só cinco anos depois. Mas essa é outra história.
Fonte:
JB Online
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/384970/visualizar/
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