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Repórter News - reporternews.com.br
Politica Brasil
Quinta - 22 de Abril de 2004 às 18:19

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O jornal norte-americano “The New York Times” publicou nesta quinta-feira (22.04), um artigo sobre desmatamento da região amazônica e o que produtores rurais da região amazônica e de Mato Grosso estão fazendo para salvar as regiões degradadas.

Confira abaixo o artigo na íntegra:

Produção agrícola poderá salvar a floresta amazônica

Deixar região intocada não impede desmatamento nem atende as demandas sociais

BRIAN KELLY E MARK LONDON* Em Washington

O brado "Salve a Amazônia!" ecoou novamente neste mês, quando o governo brasileiro divulgou que o desmatamento na floresta tropical atingiu um nível quase recorde -com uma área maior do que o Estado de Nova Jersey desaparecendo no ano passado.

Neste Dia da Terra, grupos ambientalistas de todo mundo estão cobrindo seus sites na Internet com as previsões de costume sobre quanto tempo levará para todas as árvores de lá desaparecerem (20 a 50 anos). Recentemente, o governo anunciou mais outra iniciativa para tratar seriamente do problema.

Mas as notícias foram bem recebidas por outros que também se importam profundamente com o meio ambiente. A maioria deles vive de fato na Amazônia.

Os motivos para o aumento do desmatamento são mais complicados do que costumavam ser, e a solução para salvar a floresta tropical pode ser mais desenvolvimento, e não menos.

Os fatos mudaram, como descobrimos enquanto percorremos milhares de quilômetros através da Amazônia neste ano. No passado, uso e abuso da região eram sinônimos. Em muitos casos, o melhor desenvolvimento era nenhum desenvolvimento: havia poucos usos alternativos para a floresta que justificavam sua destruição.

Não mais. Fazendeiros brasileiros com bom conhecimento técnico criaram fazendas lucrativas de criação de gado e de plantação de soja em grande escala, que se estendem até o horizonte. Algodão, milho e arroz, quando o rodízio é feito de forma apropriada, prosperam no solo delicado. No ano passado, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos em exportação de soja.

Os fatos em terra dão todo indício de que a Amazônia pode ser usada para múltiplos propósitos. Talvez 60% a 70% do território -o equivalente a 2,6 milhões de quilômetros quadrados- deva ser deixado intocado, colocado de lado porque o solo é pobre demais e a biodiversidade é rica demais.

Mas o restante pode ser usado. Há muito lá: uma nova fronteira promissora para a agricultura, depósitos gigantes de minério de ferro e bauxita, criação de peixes, energia hidrelétrica e até mesmo reservas substanciais de petróleo e gás natural.

Adotar uma posição "não toque" ignora a realidade e torna impossível o trabalho com aqueles que possuem capital para realizar mudanças produtivas no ambiente. Apesar das recentes discussões entre organizações de ajuda, o setor privado e o governo brasileiro sobre novo desenvolvimento de estradas terem se mostrado promissoras, grande parte do debate permanece preso a velhas mitologias.

O Banco Mundial e a Comunidade Européia, por exemplo, desejam a preservação severa ou, às vezes, o "desenvolvimento sustentável", um termo que é tão aberto à interpretação a ponto de não ter sentido nenhum.

Além disso, os governos ocidentais têm sido lentos demais em ajudar o Brasil em uma área de real importância: a manutenção da lei. O Brasil tem leis ambientais modernas, mas carece de recursos para assegurar que sejam cumpridas. O desenvolvimento é caótico.

Os brasileiros há muito disputam sobre como lidar com a Amazônia e se tornaram defensivos na discussão do assunto com estrangeiros. Ao mesmo tempo, eles têm razão.

Os europeus e os americanos "choram quando cortamos uma árvore, mas não choram quando crianças morrem ou não recebem ensino", disse Blairo Maggi, um grande produtor de soja e governador do Estado do Mato Grosso, no Sul da Amazônia. "Se querem nos ajudar", ele acrescentou, "então nos ajudem a nos ajudarmos".

E o que dizer para as famílias pioneiras que cortam e queimam seu avanço pela floresta em busca de uma vida melhor? Que a fronteira está fechada? Que devem voltar para casa, para as favelas que cercam o Rio e São Paulo?

A verdadeira notícia da Amazônia é que a notícia não é tão ruim. A região tem o potencial de ser a próxima fonte de alimentos do mundo -e continuar a mais importante floresta tropical virgem do planeta.

Mas para que isto aconteça, as pessoas precisam atualizar suas suposições sobre a região, as colocando em sintonia com a realidade, e não com fantasias.

*Brian Kelly, o editor executivo da "U.S. News & World Report", e Mark London, um advogado, são co-autores de "Amazon"

Tradução: George El Khouri Andolfato




Fonte: Redação/Secom - MT

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