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Cultura
Terça - 20 de Abril de 2004 às 17:16
Por: Raquel Teixeira

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BARRA DO BUGRES, MT - Buscando a integração entre comunidade indígena e não-índios, foi realizado na aldeia Umutina, localizada no município de Barra do Bugres (168 km ao Norte de Cuiabá), nesta terça-feira (20.04), o 1º Torneio Interétnico de Arco e Flecha Nativo. O evento, organizado pelos Umutina, foi dividido em duas categorias – juvenil e adulto – entre índios e não índios.O evento marcou as comemorações do Dia do Índio e contou com a participação do Superintendente de Política Indígena do Estado, Idevar Sardinha, do prefeito do município, Arnaldo Pereira, e de secretários municipais.

De acordo com Valdeci Quezo, organizador do torneio, a idéia do evento é mostrar aos não-índios a cultura da etnia.”Com o torneio queremos a integração de todos e o fortalecimento da nossa cultura”. Segundo Quezo, a idéia é que o evento, a partir de 2005, faça parte do calendário de aniversário de Barra do Bugres.

“Temos que lutar pela preservação da cultura tradicional de nosso povo”, afirmou a cacique da aldeia, Creuza Soripa, que na ocasião agradeceu a colaboração do Estado pelo esforço que tem feito para auxiliar os povos indígenas. Creuza é uma das poucas índias dentro das etnias existentes no Estado que exerce o papel de cacique em uma aldeia.

O prefeito de Barra do Bugres, Arnaldo Pereira, destacou a parceria do município com a aldeia, como a doação de insumos agrícolas e construção de salas de aula, além do apoio ao artesanato indígena. “O torneio é importante pela integração e pela motivação dentro da aldeia entre os índios e a sociedade”. Arnaldo garantiu ainda que o torneio fará parte da programação de aniversário da cidade a partir do próximo ano.

O superintendente de Política Indígena, Idevar Sardinha, destacou o papel do Governo na condução de uma nova política para os indígenas em Mato Grosso.”O Estado não tem medido esforços em traçar uma nova política indigenista, indo pessoalmente às aldeias, buscando meios para a construção de um processo de paz”, finalizou.

Para a Umutina Adriana Boroponepá (20), que participa de um torneio de arco nativo pela primeira vez, o evento é importante para que possa desenvolver a cultura tradicional. Já o índio Jovair Amajorepá, comporta-se como um verdadeiro guerreiro no momento do torneio, com os acessórios e pinturas típicas.

Salete da Silva Quezo, casada com um Umutina, competiu na categoria dos não-índios e participa pela primeira vez.”Não sou índia mas é como se fosse. É uma experiência”.

Antes do início do torneio, aconteceram apresentações de danças nativas. O torneio contou com a participação de cerca de 80 pessoas, entre adultos e crianças. O prêmio para o primeiro lugar foi uma bicicleta, no masculino; e uma máquina de lavar para o feminino.

ESTRUTURA DA ALDEIA – Atualmente na aldeia Umutina vivem cerca de 370 índios. No local há um posto de saúde com consultório dentário. Atualmente, segundo o coordenador do posto, José Felisberto Kupudunepá, os índios são acometidos com viroses, vômito e diarréia.

Na educação, uma parceria entre a prefeitura de Barra do Bugres e o Estado está garantindo atendimento a alunos do Ensino Básico ao Médio. Dos 12 professores - oito do município e quatro do Estado - 10 estão cursando 3º Grau na Universidade Indígena.

Segundo a professora Maria Alice Souza Kupudunepá, uma das principais metas do ensino na aldeia é trazer para a comunidade os indígenas que vivem na cidade de Barra do Bugres. "Temos que evitar a perda da cultura indígena. Não foi chegar onde chegamos", disse a professora.

Há cerca de três meses, os Umutina perderam o índio Julá Pare, último remanescente que falava a língua umutina. De acordo o professor Aryon Rodrigues, coordenador do Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade de Brasília (UnB), com a morte do índio a língua será extinta. Atualmente, no País, existem aproximadamente 180 línguas. O número representa apenas 15% das mais de mil línguas que se calcula terem existido aqui na época em que os portugueses chegaram, em 1500.

HISTÓRIA - Os índios Umutina viviam em grandes malocas, espalhadas pelas matas da região do vale do Seputuba até o Alto Paraguai. Eram nômades, mudavam sempre quando a caça e a pesca ficavam escassas. Havia muitos índios antes do contato, segundo conta os mais velhos. O contato com esses índios deu-se por volta do ano de 1911, pelo extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI).

Com a chegada do SPI, também vieram as epidemias e as doenças como: tuberculose, sarampo e coqueluche, que quase dizimou a população indígena, restando apenas 23 índios órfãos que foram levados ao Posto Indígena criado pelo SPI.

RECUPERAÇÃO – Os índios que vivem na aldeia Umutina querem o tombamento do patrimônio arquitetônico de 11 imóveis do local. As casas foram construídas entre os anos de 1943 e 1945 pelo extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI), sob o comando do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Além das moradias ultilizadas pelos índios, algumas das casas abrigam o posto de saúde, salas de aula e posto indígena.

Segundo José Seixas da Silva e Arnaldo Borges Filho, responsáveis pelos projetos especiais e pela área de saúde dos índios, da Superintendência de Política Indigenista, respectivamente, o Governo do Estado, através da Casa Civil, não medirá esforços para concretizar um sonho não só das nações indígenas, como da população de Mato Grosso.




Fonte: Redação/Secom - MT

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