Garimpo ilegal de ouro contamina águas da Indonésia com mercúrio
Nas montanhas da parte ocidental de Java, trabalhadores como David Mario Chandra, 15, fazem parte do setor de produção de ouro no país. Uma oficina vizinha à casa de sua família, em Cisitu, na província de Banten, tem máquinas que convertem minério de ouro em pepitas.
O minério esmagado é jogado, com outros ingredientes, em cilindros chamados bolas, até ficar amalgamado. Mas existe um material crucial e um passo final que preocupa especialistas ambientais e de saúde de todo o mundo.
"Colocamos 15 quilos de minério de ouro e água em cada bola e usamos cem gramas de mercúrio por bola", contou David. Em seguida, os trabalhadores purificam as pepitas sobre uma chama aberta, queimando o mercúrio em locais espalhados pelas áreas residenciais de toda a vila.
A ativista ambiental Yuyn Ismawati, que vive no Reino Unido, diz que as dimensões do problema são evidenciadas pela quantidade de mercúrio importada pela Indonésia, seu país natal. A maior parte das importações é feita ilegalmente, segundo ela.
Segundo as Nações Unidas, 368 toneladas métricas de mercúrio foram exportadas para a Indonésia em 2012 de países que incluem Cingapura, Estados Unidos, Japão e Tailândia. No entanto, as estatísticas oficiais admitem apenas a importação de menos de um metro cúbico.
Yuyun acredita que o mercúrio tem como destino garimpeiros ilegais, que atuam em pequena escala numa corrida ao ouro moderna que, para analistas e ativistas, está causando grandes crises ambientais e de saúde.
"É dinheiro rápido", disse Yuyun. "A pessoa escava, consegue dinheiro e é envenenada."
Rápido e sujo, o processo usado na produção de ouro emite mercúrio na atmosfera. O metal já infiltrou o solo, os rios, as lagoas de peixes e os arrozais.
Sabe-se que o mercúrio provoca problemas de saúde que podem levar anos para se manifestar e que incluem lesões cerebrais, problemas renais, dermatológicos e oculares, abortos e desenvolvimento neurológico disfuncional em bebês e crianças.
De acordo com o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), o garimpo de ouro em pequena escala é a maior fonte mundial de poluição do ar e da água com mercúrio. As emissões podem se espalhar de um continente a outro.
Partes da Indonésia, como a ilha turística de Lombok, possuem uma das mais altas contaminações por mercúrio do mundo. O país é um dos maiores países produtores de ouro. De acordo com pesquisadores e grupos ambientais, muitos garimpos ilegais são financiados por empresários residentes na capital, Jacarta, e protegidos por funcionários governamentais, soldados e policiais corruptos.
No vilarejo de Cisitu, caminhões descem estradas montanhosas carregados de sacos de minério de ouro garimpado em locais situados a entre uma e cinco horas de distância. O minério é vendido no local. A vila tem 1.621 famílias, e Yoyo Yohenda, líder local, estima que um terço delas tenha oficinas de fundo de quintal, conhecidas como "fábricas de bolas", que produzem ouro.
Uun Adang, 32, opera uma oficina desse tipo com seu marido. "Meu marido era garimpeiro, depois tivemos uma fábrica de bolas, mas agora apenas purificamos o ouro e o vendemos", contou, dizendo que eles usam ácido nítrico e outras substâncias químicas para queimar o mercúrio.
Os operadores das fábricas pagam cerca de 150 mil rupias, ou US$ 12,45, por saco de minério de ouro. Eles vendem a amálgama de ouro resultante para as oficinas de queima por metade do preço atual de mercado do ouro puro, pouco mais de US$ 39 o grama.
Em novembro, Uun, que está grávida de quatro meses e meio, concordou em dar uma amostra de seu cabelo a pesquisadores para que fosse feito um exame de mercúrio. A Organização Mundial de Saúde define o nível normal de mercúrio em uma parte por milhão. Uun apresentou 25,3 ppm.
Amostras de ar tiradas ao ar livre em vários pontos de Cisitu mostraram leituras de mercúrio de 5.000 a 50 mil nanogramas por metro cúbico. De acordo com diretrizes da OMS, as comunidades devem se preparar para abandonar os locais quando as leituras de mercúrio em espaços fechados chegam a entre mil e 10 mil nanogramas por metro cúbico.
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