Gabrielli e Cerveró receberam antes perguntas da CPI, diz revista Ex-presidente e ex-diretor da Petrobras tiveram acesso a 'gabarito', diz 'Veja'. PSDB diz que vai acionar a Justiça; estatal não se manifestou sobre o caso.
O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró tiveram acesso a perguntas que seriam feitas por senadores antes de depor na CPI da Petrobras, segundo reportagem publicada na edição desta semana da revista "Veja".
A publicação afirma ter tido acesso a um vídeo com 20 minutos de duração no qual aparecem o chefe do escritório da estatal em Brasília, José Eduardo Barrocas, o advogado da empresa Bruno Ferreira e uma terceira pessoa não identificada conversando sobre as perguntas que seriam formuladas, sobre quem as elaborou e sobre quem deveria recebê-las.
A CPI foi aberta em maio no Senado para investigar as suspeitas de superfaturamento na compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006, pela Petrobras, ao custo de US$ 1,3 bilhão, e as denúncias de que houve desvio de recursos na construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.
Segundo a revista, Barrocas diz a Ferreira que as perguntas enviadas a Cerveró, que depôs no dia 22 de maio, foram elaboradas por um assessor do líder do governo no Senado, um assessor da liderança do PT no Senado e um servidor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.
De acordo com a reportagem, antes de seu depoimento, em 20 de maio, Gabrielli também recebeu o "gabarito" – documento com perguntas e respostas, que, segundo a revista, também teria sido repassado à atual presidente da Petrobras, Graça Foster. As perguntas teriam sido passadas a Gabrielli pelo senador José Pimentel (PT-CE), relator da CPI no Senado.
A revista "Veja" não identifica quais são as perguntas que foram antecipadas ou o conteúdo das respostas. No vídeo, os participantes da reunião se referem a essa relação como "gabarito", para ser usado nas sessões da CPI pelos depoentes.
Ao Jornal Nacional, o advogado de Nestor Cerveró confirmou a participação do cliente em um curso de "media training" à convite da Petrobras, mas afirmou que o ex-diretor da estatal não recebeu nenhuma pergunta antecipadamente.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Petrobras afirmou que só vai se pronunciar sobre o caso após avaliar as informaçõs publicadas na revista. A assessoria da liderança do PT no Senado disse que os assessores não vão se manifestar sobre a reportagem.
De acordo com a reportagem, Sérgio Gabrielli, Barrocas e Bruno Ferreira não quiseram comentar o assunto, e a Petrobras declarou colaborar com os trabalhos da CPI. O senador José Pimentel, segundo a revista, negou ter enviado a depoentes as perguntas que seriam feitas por parlamentares durante as sessões.
O G1 também ligou para o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e para o relator, senador José Pimentel (PT-CE), mas eles não foram localizados. A assessoria de Pimentel, por sua vez, disse que ele vai analisar a denúncia para depois se posicionar.
Por meio de sua assessoria, a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência disse que não iria se manifestar sobre a denúncia.
PSDB
Ainda neste sábado, lideranças do PSDB reagiram à revelação, dizendo que vão acionar o Conselho de Ética e o Ministério Público para investigar o caso.
No Rio Grande do Sul, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB e candidato à Presidência da República, disse que "as denúncias são um absurdo" e que o partido vai acionar o Judiciário e o Conselho de Ética.
"Hoje a denúncia que uma revista nacional traz é extremamente grave. Servidores da Petrobras, servidores públicos, enganando a sociedade brasileira, fazendo uma grande encenação", disse.
Em nota, o coordenador jurídico da campanha de Aécio, Carlos Sampaio, disse que houve ato de improbidade administrativa por parte dos servidores do Executivo, da Petrobras e do Senado que supostamente formularam as perguntas encaminhadas à CPI.
Por meio de sua assessoria, o líder do partido na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), disse que pedirá o afastamento do relator da CPI, José Pimentel (PT-CE). Ele sustenta que os próprios investigados na CPI podem ser processados por falso testemunho.
Na CPI do Senado, o PSDB possui apenas um integrante. Antes do início dos trabalhos, a oposição deixou vagos cargos a que tinha direito para se concentrar na CPI Mista da Petrobras, que reúne deputados e senadores.
Questionado sobre o assunto em visita ao interior de São Paulo, o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, voltou a atacar a atual gestão da Petrobras e disse que "a verdade sempre vai vencer do marketing".
"Não vai se conseguir numa democracia, com os meios de comunicação livres, com os órgãos de fiscalização ativados para fazer o seu papel, esconder os erros. Os erros vão ser revelados, quem errou deve pagar, que for inocente, tem que ser inocentado e a gente tem que salvar a Petrobras da situação que meteram ela", afirmou.
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