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Nacional
Quinta - 14 de Agosto de 2014 às 12:53

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Na semana em que Antônio Carlos Rodrigues Silva Júnior, acusado de matar Renata e Roberta Yoshifusa vai a julgamento, o pai Nelson Yoshifusa se lembra do dia do assassinato de suas duas filhas. Elas foram mortas dentro de casa em novembro de 2011, em Mogi das Cruzes. "Se um vizinho não tivesse chegado, ao se assustar com os meus gritos quando encontrei as meninas, é provável que o Júnior tivesse me matado também", diz Nelson Yoshifusa, se referindo ao acusado. Também conhecido como Tartaruga, ele está preso e deve ser julgado nesta quinta-feira (14), em Mogi.


Na noite do dia 11 de novembro de 2011, Renata de Cássia Yoshifusa, de 21 anos, e Roberta Yuri Yoshifusa, de 16 anos, foram mortas a facadas. O crime ocorreu na casa da família, no bairro Vila Oliveira, área nobre de Mogi das Cruzes. Foi o pai das meninas, Nelson Yoshifusa, que as encontrou mortas na cozinha.

11/11/2011
Nelson se lembra que a família tinha planos de mudar de casa e dias antes do crime decidiram começar a procurar uma nova casa para morar. "Nós queríamos uma casa que tivesse uma garagem maior, para que a Renata pudesse ter um carro também", se lembra Nelson. Renata tinha 21 anos e era estudante de direito. "Naquele dia acordei cedo e a imobiliária me ligou dizendo que havia algumas pessoas interessadas na nossa casa e também sugeriu que a gente fosse conhecer uma outra casa que se adequava ao nosso perfil. Marcamos para às 18h30", se lembra.
Segundo ele, como a casa em que moravam precisava de alguns reparos, Nelson ligou para Tartaruga, a quem chamava de Júnior, para pedir que fizesse alguns pequenos reparos. "Liguei para o Júnior e combinei que ele iria lá em casa naquela dia. Nós conhecíamos ele há anos e sempre o chamávamos para esses reparos e pinturas na casa", disse. "Sempre fui perfeccionista e queria deixar minha casa perfeita para quem viesse vê-la para comprar", se lembra.

À tarde, Rita Yoshifusa, esposa de Nelson e mãe das meninas, encontrou com Nelson na imobiliária. "Minha esposa disse para o Júnior ficar com as meninas, que depois nós levaríamos ele para a faculdade à noite", explica. "Ainda liguei lá em casa quando cheguei na imobiliária, a Renata atendeu e disse que a mãe tinha acabado de sair", disse o pai, se lembrando da última vez que falou com uma das filhas.

"Ficamos na imobiliária por 40 ou 50 minutos no máximo e como estávamos em dois carros, minha esposa parou para abastecer e eu fui na frente", diz Nelson. Chegando em casa, o pai conta que ao parar o carro na garagem, viu o pintor sentado nos degraus que levavam à entrada da sala. "Ele estava cheio de sangue e a primeira coisa que pensei foi que ele tinha saído de casa por algum motivo, e acabou sendo atropelado ou sofrera algum acidente", diz.
Nelson diz que o pintor estava com o telefone na mão e parecia falar com a polícia. "Ele ainda me deu o telefone e pediu para eu falar o número da casa para a outra pessoa, eu falei, e eles desligaram", se lembra. O pai, em seguida, quis saber o que acontecera. "Ele estava quieto, e só disse 'vai ver as meninas'. Achei estranho porque ele tinha muito sangue, mas não estava ferido, não vi ferimentos. Mas na hora não me atentei. Entrei em casa e vi muito sangue também espalhado pela sala, no sofá, e também no caminho para a cozinha. Até então, eu achei que era sangue dele", diz.

O pai entrou em casa e quando olhou melhor para a cozinha, se lembra de ter visto os pés de uma das filhas em cima da mesa. "Comecei a tremer. Entrei na cozinha e vi a Roberta nua no chão, olhei adiante e vi a Renata nua em cima da mesa. As duas cobertas de sangue e bem machucadas", lamenta. "Comecei a gritar, eu gritava e pedia para a Renata falar comigo. Dizia 'Renata fala comigo, pelo amor de Deus.' Um vizinho me disse que eu gritava tanto que as casas tremiam. Ele chegou logo depois. Se ele não chegasse, tenho certeza que o Júnior teria me matado também".

“Ele me ligou desesperado assim que chegou em casa. Foi uma ligação rápida, no máximo 2 minutos. A única coisa que falava era que as filhas tinham sido assassinadas. Fui correndo para lá e quando cheguei vi aquela cena chocante”, diz Francisco Del Poente, delegado e amigo de Nelson, que ajudou nas investigações.

Dias seguintes

No dia seguinte, Antônio Carlos Rodrigues Silva Júnior, de 30 anos, confessou o crime à polícia. "Ele demonstrou ser uma pessoa fria, e em nenhum momento pareceu arrependido”, conta Del Poente.

Além de esfaquear as jovens, o pintor também é acusado de estuprá-las. Laudos comprovaram a violência sexual. Antes de confessar o crime, o acusado deu uma primeira versão: a de que a casa havia sido invadida por três homens. Ele mostrou cortes no corpo para provar a luta corporal com os criminosos. A tese, no entanto, foi descartada pela polícia. Tartaruga está preso no Centro de Detenção Provisória de Mogi das Cruzes desde o crime. O júri popular deve acontecer nesta quinta-feira (14), no Fórum de Mogi das Cruzes.

Dois anos e oito meses após o crime, Nelson Yoshifusa retorna a Mogi das Cruzes, de onde saiu para morar no Nordeste. "Saímos da cidade por recomendação médica, mas para Mogi nós não voltamos mais. Aqui, em qualquer lugar da cidade eu me lembro delas. É muito desagradável. Quando passar o julgamento a gente vê se volta para [o estado de] São Paulo", diz. "Minha vontade é de desistir. Mas sei que a gente não pode desistir"

'Juntando caquinhos'

"A gente tenta juntar os caquinhos, mas além da dificuldade de perdemos as duas, enfrentamos também problemas materiais. Você se vê sem casa, sem nada. Tivemos que sair de Mogi das Cruzes. Para mim, nada mais tem sabor", afirma. "Mas temos que nos adaptar a tudo. Sempre fico pensando, como é que um sujeito conseguiu fazer tudo isso conosco?", lamenta.

Com lágrimas nos olhos, Nelson se lembra de como era a família antes de tudo acontecer. "Posso dizer que foi um privilégio ter elas como filhas, nossa família era muito unida e elas eram metade do nosso corpo. A Renata queria ser juíza estava estudando para isso. A Roberta, ainda estava na dúvida, mas ela só tinha 16 anos".

"Nossa família era muito unida. Eu nunca vou me esquecer das férias que nós íamos para o Nordeste. Todos, todos os momentos que vivemos foram lindos e maravilhosos", diz sorrindo emocionado. "Dizem que a dor ameniza com o tempo, mas até agora, não amenizou nada".





Fonte: G1

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