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Quinta - 04 de Dezembro de 2014 às 07:19

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Tony Ribeiro/MidiaNews
Evaldina Rainha da Silva, 66, diz que não sai de sua casa sem receber
Evaldina Rainha da Silva, 66, diz que não sai de sua casa sem receber

Os proprietários das casas localizadas sobre o Morro do Despraiado estão "indignados" com a possibilidade de a Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa) acionar a força policial para retirá-los do local.

Quatro moradores perderam a batalha judicial contra o Estado e terão suas casas demolidas para que a pasta dê continuidade às obras de contenção do morro. Outras cinco famílias já se mudaram do local.

Segundo relatos dos moradores, a secretaria quer eles deixem o local de "mãos vazias". Isso porque as indenizações ainda não foram recebidas pelos moradores.

"O que eles querem é que a gente saia correndo da casa sem recebermos o que merecemos. É uma falta de respeito com meus cabelos brancos" Conforme dona Evaldina Rainha da Silva, 66 anos, que mora na casa ao lado do morro juntamente com seu filho, as indenizações não foram pagas e não há previsão de quando isso vai acontecer, o que compromete a saída dos moradores.

“Moro aqui há quase 40 anos, e agora a Secopa ameaça usar a polícia para me tirar daqui. O que eles querem é que a gente saia correndo da casa sem recebermos o que merecemos. É uma falta de respeito com meus cabelos brancos”, disse.

A indenização de dona Evaldina está fixada em R$ 157 mil e seria usada para a compra de uma nova casa. “Enquanto eu não receber, eu não saio. Não tenho para onde ir”, lamentou.

Sem perigo

Questionada sobre o perigo de morar tão próxima ao morro que, no ano passado, cedeu com as fortes chuvas e comprometeu as casas de outros moradores, ela garante que não há perigo, apesar da Defesa Civil ter atestado o contrário.

"É conversa fiada. Se cair a minha casa, cai o prédio aqui em frente. Estamos todos em cima do mesmo morro."

“É conversa fiada. Se cair a minha casa, cai o prédio aqui em frente. Estamos todos em cima do mesmo morro. Se você olhar, a porta do prédio sai de frente com o morro, mas ninguém mexeu com eles. A minha casa está do lado do morro e o fundo do meu terreno nem chega perto de onde cedeu. Não tem perigo”, diz.

Segundo Evaldina, os únicos problemas estruturais que sua casa apresenta foram causados após o início das obras de corte na encosta do morro, realizados pela empresa PPO Pavimentação e Obras, responsável pela construção do muro de contenção de R$ 1,9 milhão.

“As máquinas da empresa estão rachando minha parede. Até antes de começarem a mexer aqui, não tinha rachadura nenhuma. Não tinha problema nem mesmo depois do barranco do lado cair. Mas por causa dessa construção aqui, até goteira minha casa passou a ter”, finaliza.

"Ação absurda"

A moradora Benedita da Silva Alves, 65 anos, que mora a quatro casas de distância do morro com mais 10 familiares, vê como absurda a tentativa da Secopa de acionar a polícia para retirar os moradores.

“É um desrespeito. Eles quererem que polícia venha aqui nos tirar. Nós somos uma família honesta, nós não queremos brigar. Aceitamos o valor da indenização sem nem pedir nada mais e agora nós queremos receber. Sem dinheiro não tem para onde eu ir. Minha família é grande, eu tenho netos, para onde eu vou?”, questionou.

Vizinha de moradoras já saiu de sua casa, antes mesmo de receber a indenização Ela lembra que quando o morro cedeu, a Secopa garantiu que seria construído um muro de arrimo e que a família poderia permanecer no local, mas quando teve ciência, já havia sido acionada judicialmente para sair da casa.

“Eu nem queria ir para Justiça. Eu queria fazer igual à vizinha, negociar, pegar o dinheiro e ir embora. Eu não tenho idade para passar por esse desespero. De repente, chega um oficial na sua casa falando que você tem 10 dias para sair. Depois, você descobre que querem por polícia para te tirar da casa que você construiu. É triste, é humilhante. Só Deus sabe o que eu tenho passado”, conta.

A indenização fixada no valor de R$ 281 mil também não foi recebida por dona Benedita, que diz que “agora precisa se apegar a Deus, porque nem na Justiça dá para confiar”.

Segundo Benedita, a moradora da casa ao lado deixou a área mesmo sem receber o valor da indenização. Hoje, o local está totalmente deteriorado, mas ainda não foi demolido pela Secopa.

“Ela saiu da casa sem receber, mas ela tinha lugar para ir. Se eu tivesse condições, eu também tinha ido embora. Já até achei uma casa boa pra comprar, longe daqui, mas cadê o dinheiro?”, perguntou.

De acordo com informações da Secopa, as indenizações foram depositadas em juízo no dia 9 de setembro e o valor ainda não foi liberado por decisão da Justiça.

Isso ocorre, segundo a pasta, porque os moradores não apresentaram todos os documentos solicitados pelo juízo da Quarta Vara de Fazenda Pública.

A Secopa esclarece que o que cabia à pasta já foi feito e a secretaria agora deve apenas cumprir a decisão da Justiça, de tomar posse dos terrenos para dar continuidade à obra.

Por enquanto, a Secopa continua realizando os serviços de cortes na encosta do morro para acabar com o deslizamento existente no local.





Fonte: Mídia News

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