Partidos pressionam por indicações para o segundo escalão do governo Aliados como PMDB e PP avaliam ter perdido espaço no primeiro escalão. Planalto avisou que não permitirá 'porteira fechada' em indicações.
Após a definição do primeiro escalão do governo, partidos da base aliada pressionam o governo para obter a indicação de apadrinhados para os cargos do chamado "segundo escalão" – em estatais, secretarias, departamentos e autarquias.
Partidos como PMDB, PP e PTB reclamam de perda de espaço na montagem do primeiro escalão (ministérios) e esperam compensação na indicação dos ocupantes do segundo.
Apesar das pressões, o Planalto já avisou aos aliados que as indicações não seguirão a lógica da chamada "porteira fechada", pela qual um partido, após assumir o comando de um ministério, indica automaticamente os diretores das estatais e autarquias vinculadas à pasta.
No último dia 2, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), principal conselheiro político da presidente Dilma Rousseff no ministério, conversou sobre o assunto com o vice-presidente Michel Temer e lideranças do PMDB. A Temer e caciques do partido, como os senadores Renan Calheiros (AL) e Eunício Oliveira (CE), Mercadante avisou que a intenção de Dilma não é a montagem do primeiro escalão com "porteira fechada" para o segundo.
Mercadante repassou ao ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais), responsável pela articulação política, a tarefa de receber líderes e presidentes de partidos para ouvir as sugestões para o segundo escalão. Vargas fará o primeiro "filtro" das indicações. Os nomes aprovados por ele serão discutidos com Mercadante e levados, posteriormente, à presidente Dilma. Na última quinta (8), Pepe Vargas disse que o Planalto adotará três critérios para a escolha do segundo escalão: capacidade de gestão, histórico de probidade e equilíbrio entre os partidos que compõem o governo. O G1 apurou que outros dois critérios também serão levados em conta: força política e aceitação do corpo técnico do órgão.
PMDB
O PMDB, principal partido aliado, aumentou sua cota de ministérios em relação ao primeiro mandato de Dilma, passando de cinco para seis (Agricultura, Minas e Energia, Turismo, Pesca Aviação Civil e Portos), mas, por considerar que mesmo assim perdeu força, reivindica cargos da Infraero (ligada à Aviação Civil), na Embratur (Ministério do Turismo), e também pretende manter a chefia do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) e de outras instituições com peso na região Nordeste, como a Companhia do Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e o Banco do Nordeste (BNB).
No Senado, a bancada do PMDB está representada na Esplanada dos Ministérios por Helder Barbalho (Pesca) e pelos senadores Kátia Abreu (Agricultura) e Eduardo Braga (Minas e Energia). Peemedebistas reclamam, porém, que os nomes de Kátia Abreu e de Barbalho – filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) – não passaram pelo crivo dos senadores.
"Kátia e Barbalho são escolhas dela (Dilma Rousseff). Nada passou na bancada, esse é o problema", afirmou um integrante da cúpula do PMDB que preferiu não se identificar. Além da insatisfação com os nomes, a bancada reclama do peso das pastas, como Pesca e Aviação Civil, com baixo orçamento e "pequena expressão política".
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi o porta-voz da insatisfação dos senadores durante o encontro do último dia 2. Na ocasião, ele reclamou do "enfraquecimento político" do PMDB e deu início às negociações pelos cargos de segundo escalão, segundo apurou o G1.
Ao G1, um deputado do PMDB afirmou, sob a condição de anonimato, que a avaliação interna da conversa com Mercadante no Jaburu foi "ruim" e o sentimento entre os presentes, diz, foi de "frustração". Na avaliação deste parlamentar, o PMDB aguardava uma "compensação".
"O PMDB demonstrou aos interlocutores da presidenta Dilma o nosso descontentamento. Logicamente, mostrou também que queria ter uma participação mais efetiva no governo, não necessariamente em número, mas em qualidade. O PMDB está com seis ministérios que, se juntar todos, não dá o Ministério das Cidades", disse.
O deputado disse também que o PMDB perdeu espaço no governo e espera receber cargos "importantes" no segundo escalão. "O PMDB não faz parte da equipe econômica do governo, não está no núcleo político do Palácio do Planalto. A expectativa do partido é justamente que no segundo escalão o partido não tenha papel periférico", completou.
PP
Ao G1, o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) avaliou que a legenda também perdeu espaço no governo. Até o fim do primeiro mandato de Dilma, o partido comandava o Ministério das Cidades – um dos mais cobiçados da Esplanada pelo orçamento bilionário – e, com a indicação de Gilberto Kassab para a pasta, o PP passou a comandar a Integração Nacional.
Na avaliação de Goergen, o PP deve ter prioridade nas indicações para o segundo escalão. Segundo ele, com a tranferência do partido para a Integração Nacional e a escolha do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab para ministro das Cidades, o prestígio maior ficou com o PSD.
"O PP perdeu espaço no governo, não tenha dúvidas. Isso está posto. Mas eu até acho que o Ministério da Integração foi uma saída honrosa para algo que poderia ter sido ainda pior. […] Imagino que, com a forma de sucessão no Ministério das Cidades, o que aconteceu foi que o prestígio ficou com o Kassab", disse.
PR
Ao assumir o comando da pasta na semana passada, o novo ministro Antônio Carlos Rodrigues afirmou que indicará técnicos para comandar o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Valec, estatal responsável pelas ferrovias federais.
Para o deputado Luciano Castro (PR-RR), a situação da presidente é "delicada" em razão da pressão que os partidos aliados fazem pelas indicações para o segundo escalão. Ao G1, ele afirmou que "algumas pessoas" levaram as declarações do ministro "ao pé da letra", mas é preciso avaliar que os perfis políticos não podem ser excluídos.
"Eu acho que é natural os partidos não quererem só ter o ministro, mas, também, uma partipação na gestão do ministério. Não basta apenas ter o ministro", disse. Na avaliação do parlamentar, é "natural" a exigência dos partidos pelos cargos do segundo escalão e que critérios sejam estabelecidos, como capacidade técnica e força política.
PTB
Nos bastidores, o PTB também tem articulado para ampliar o espaço no segundo mandato de Dilma, com nomeações para cargos de direção nas estatais.
A legenda foi contemplada com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, ocupada pelo senador Armando Monteiro Neto (PE), mas quer mais, segundo o líder da bancada na Câmara, Jovair Arantes (GO).
Atualmente, a sigla detém os comandos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, e da Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão que regula o mercado de seguros.
"Estamos discutindo esse perfil [atual] e esperamos algum acréscimo, um avanço nessa situação", disse. Na avaliação dele, a participação do partido no governo passado foi pequena e, diante do apoio à petista na campanha eleitoral, merece mais.
"Na administração passada, achamos que foi muito pouco, limitado o espaço", afirma o líder petebista, que preferiu não citar quais estatais o partido deseja comandar.
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