Raio X permite ler pergaminho do século I queimado por vulcão Pergaminhos foram achados em 1752 em biblioteca devastada pela lava. Técnica de tomografia computadorizada de raios X permitiu leitura.
Pergaminho antigo coberto em material vulcânico é exibido na Biblioteca Nacional de Nápoles, na Itália: pesquisadores conseguiram ler o que estava escrito por técnica de raio X (Foto: AP Photo/Salvatore Laporta)
Pesquisadores italianos conseguiram decifrar, graças a aparelhos de raio X, um papiro do século I que foi queimado na erupção do vulcão Vesúvio que arrasou as cidades romanas de Pompéia e Herculano, conforme publicou em sua mais recente edição a revista "Nature Communications".
Cientistas do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália (CNR) revelaram pela primeira vez os segredos de um dos vários papiros enrolados que em 1752 apareceram em uma antiga biblioteca devastada pela lava. Uma imagem tridimensional do interior dos rolos, obtida graças a uma técnica utilizada habitualmente em procedimentos médicos, permitiu distinguir o relevo da tinta que se conserva sobre o material queimado, que chegou a suportar temperaturas superiores a 300ºC.
David Blank, professor da Universidade da Califórnia, usa seu laptop para estudar um papiro antigo da Biblioteca Nacional de Nápoles (Foto: AP Photo/Salvatore Laporta)
De acordo com os cientistas, há semelhanças entre esses textos escritos em grego e outro já conhecido do filósofo Filodemo, por isso poderia ser ele também o autor deste pergaminho. Seu conteúdo permanecia em grande parte desconhecido desde o século XVIII, quando arqueólogos encontraram os pergaminhos na única biblioteca da Antiguidade que tinha sido preservada, localizada em uma vila na cidade de Herculano, cidade destruída, assim como Pompeia, quando o vulcão entrou em erupção no ano 79 d.C.
A extrema fragilidade dos rolos, quase totalmente queimados, tornava impossível manuseá-los sem quebrá-los, por isso foi necessário esperar novas técnicas que utilizam raios X para começar a lê-los sem alterar seu estado. Uma das dificuldades que os cientistas enfrentavam era conseguir com que seus instrumentos distinguissem entre o material vegetal do papel e a tinta de carvão utilizada para escrever nele.
Foto mostra um dos pergaminhos que os cientistas
conseguiram decifrar por meio de técnica de raio X
(Foto: AP Photo/NPG, Emmanuel Brun)
Graças a uma técnica de tomografia computadorizada de raios X que permite medir a velocidade à qual a radiação se propaga no interior de um composto determinado foi possível diferenciar ambas as substâncias.
Até este momento, apenas pequenos pedaços tinham sido decifrados com a ajuda de câmera de infravermelho. Os trabalhos foram suspensos por conta do dano irreparável que os rolos sofriam.
Desde que foram encontrados, há mais de dois séculos e meio, vários cientistas tentaram achar um modo de desenrolar os documentos queimados sem destrui-lo.
O pesquisador Vito Mocella, responsável pelo estudo, explicou à "BBC" que o fato de a tinta não ter penetrado nas fibras do papiro, mas ter ficado na superfície, permitiu aos cientistas distinguir as letras através de seus instrumentos "como se estivessem em alto-relevo".
Segundo Mocella, a ideia de decifrar os rolos com estes equipamentos veio durante uma visita ao Laboratório Europeu de Radiação Sincrotron, em Grenoble, na França, que participou do estudo.
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