Dirceu ataca "burguesia", nega fuga e se diz pronto para julgamento

Réu do julgamento do mensalão, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu se declarou preparado para qualquer resultado do Supremo Tribunal Federal. "Eu não tenho razão para estar deprimido. Eu tenho objetivos, metas, sonhos. Eu acordo às seis da manhã todos os dias. Recebo o resumo das notícias que a equipe do meu blog envia. Gasto duas ou três horas lendo toda a imprensa brasileira, no iPad e no meu laptop. Depois, escrevo artigos para o blog. A burguesia acorda tarde. Eu saí da cama faz tempo e estou morrendo de fome", disse o político à coluna da jornalista Mônica Bergamo, publicada na Folha de S. Paulo desta segunda-feira. Incomodado com os rumores de que fugiria do Brasil, rechaçou a possibilidade: "Saí na década de 60 porque fui expulso do país. Cassaram a minha nacionalidade. Eu era um apátrida, não podia viajar. Quem me impedia de voltar era a ditadura militar. E mesmo assim eu voltei para o Brasil, duas vezes, colocando a minha própria vida em risco. Eu iria embora agora? O PT tem defeitos. Mas se tem algo que não conhecemos no PT é a palavra covardia. A chance de eu fugir do Brasil é nenhuma. Zero".

O escritor Fernando Morais, o produtor Luiz Carlos Barreto e o líder do MST, João Pedro Stédile, estão entre os amigos que visitam Dirceu rotineiramente. O ex-presidente Lula liga um dia sim, um dia não, para saber como ele está. "Não me falta companhia", declarou. O ex-ministro negou, porém, que já tenha conversado com Lula sobre a possibilidade de ser preso: "isso não aconteceu. Não é que não tem prova no processo contra mim. Eu fiz a contraprova. Eu sou inocente. Eu confio na Justiça. Em sete anos desde que estourou o escândalo, eu não tive a presunção da inocência. Por que vou ter a ilusão de que isso vai ocorrer, mesmo que eu seja considerado inocente pelo Supremo? Eu fui cassado pela Câmara dos Deputados em 2005 sem provas. De lá para cá, eu sofri um linchamento como corrupto e quadrilheiro. Eu estou preparado para qualquer resultado", disse. "Isso daí (o resultado do julgamento) vai demorar dois meses para acontecer. Vou ser julgado por corrupção ativa no fim do mês ou no começo de outubro. Em mais quatro semanas, serei julgado por quadrilha. Por que vou sofrer por antecipação? Na hora em que acontecer, vou ver o que fazer", acrescentou o réu, que só dará entrevista sobre o mérito do caso depois do julgamento e não quer comentar a hipótese de o publicitário Marcos Valério, já condenado à prisão por vários crimes, fazer novas revelações sobre o caso se for preso: "o advogado desmentiu declarações que Valério teria dado a terceiros acusando o ex-presidente Lula de participar do esquema. Não tenho o que comentar".