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Internacional
Quarta - 13 de Maio de 2015 às 09:43

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O fotógrafo brasileiro Gabriel Chaim, que cobria a guerra da Síria e foi detido na fronteira do país com a Turquia na última terça-feira (5) por cruzá-la ilegalmente, chegou na manhã desta quarta-feira (13) em São Paulo, após ficar em prisões nas cidades turcas de Sanliurfa e Ancara. Detido com outros dois fotógrafos estrangeiros, Chaim foi deportado pelas autoridades turcas.


"Meu trabalho não terminou", disse o fotógrafo. "Quero só saber os melhores caminhos, ver como entrar por outro país, e não pela Turquia."

Chaim disse que não tem medo. "O perigo faz parte [...] Se você não vai [para a zona de conflito], ninguém fica sabendo. Tem que ter o doido pra ir".

Assim que chegou em São Paulo, o fotógrafo foi direto para casa encontrar a família.

Em relato ao G1, Chaim deu detalhes sobre o lugar onde ficou detido desde a última sexta-feira (8) na capital turca, em um prédio de um órgão ligado ao ministério do interior da Turquia. Ele contou que dividiu a cela com cerca de 40 membros do grupo terrorista Estado Islâmico (EI).

“Essa prisão é para pessoas que tentam cruzar a fronteira. Tinha só uma cela feminina e outra masculina, cada uma com cerca de 100 pessoas. Lá dentro tinha iraniano, afegão, gente de toda a região”, disse.

“O pessoal do Estado Islâmico ficava de um lado. Todo mundo tinha muito medo deles. Quando eles iam fazer oração, cinco vezes por dia, todo mundo ficava em silêncio, a TV era desligada. Foi um inferno”, completou.

Chaim diz que foi levado à cela de madrugada, junto com o fotógrafo alemão que também foi detido com ele. “Logo que entramos os outros presos quiseram saber de onde a gente era e falaram para tomar cuidado, para não falar que tínhamos estado na Síria porque tinha gente do EI lá dentro. Naquela hora eles estavam dormindo”, diz.

Segundo o fotógrafo, o fato de ele ser brasileiro contou a seu favor. “Os iranianos logo nos puxaram para o lado deles para nos proteger. Eu já fui ao Irã, e também tem o lance de times de futebol”, afirma.

Crianças e bebês de colo

O brasileiro também contou que havia várias crianças junto com os adultos. “Eles detêm a pessoa e colocam a família toda junto. As crianças de até 4 anos ficavam na ala feminina. Tinha até bebês de colo. De 5 anos para cima ficavam na nossa. Tinha um engenheiro que foi preso tentando fugir da Síria e que estava lá com os sete filhos”, conta.

Segundo Chaim, havia briga por comida dentro da cela. “A gente recebia só duas alimentações por dia: dois pães velhos com manteiga no café da manhã e um pouquinho de arroz frio com carne umas 5h da tarde”, conta.

Chaim elogiou o tratamento recebido da Embaixada Brasileira no período, relatando que o cônsul no país o visitou e deu assistência durante o processo.

O brasileiro diz que agora só quer deixar a Turquia e que a detenção deixou "mais forte". "Isso tudo me deixa com mais vontade de seguir em frente, de continuar o meu trabalho, de mostrar a vida dessas pessoas que estão presas em seu próprio território”, afirma.

Cobertura de guerra

Gabriel Chaim é especializado em fotografar e filmar áreas de conflito e crise. O brasileiro estava documentando o conflito em Kobane, cidade síria próxima à fronteira com a Turquia, quando foi detido no dia 5 de maio, ao tentar entrar em território turco.

Esta é a quarta vez que ele viaja à Síria desde o início da guerra civil no país, que já dura quatro anos e deixou mais de 210 mil mortos.

Além da guerra síria, Chaim fez coberturas como freelancer no Iraque, no Irã, na Faixa de Gaza e no Egito. Já teve trabalhos veiculados pelo G1 e por programas da TV Globo como "Fantástico" e "Profissão Repórter", além de em veículos estrangeiros como a rede americana CNN e o jornal inglês "The Guardian".





Fonte: G1

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