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Segunda - 30 de Maio de 2016 às 08:26
Por: Douglas Trielli - Mídia News

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Marcus Mesquita/MidiaNews
O líder de Governo na Assembleia, Wilson Santos, que defende mudanças para o enfrentamento da crise
O líder de Governo na Assembleia, Wilson Santos, que defende mudanças para o enfrentamento da crise

Estouro da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF); falta de dinheiro para reposição inflacionária e leis de carreira aprovadas nas últimas gestões; receita caindo por conta da recessão econômica.

Estes são alguns problemas enfrentados pela gestão do governador Pedro Taques (PSDB), que o deputado estadual Wilson Santos (PSDB) disse ser passível de solução por meio de um “sacrifício” de três grandes atores: o próprio Governo, o agronegócio e os servidores públicos.

“Defendo um pacto por Mato Grosso. Um pacto que exige sacrifícios. Dentro desse novo modelo, o Governo é uma parte. Eu não posso aceitar um Estado gastando em torno de 97% internamente. Esse Estado é um Estado irresponsável, maluco, criminoso. Nós precisamos destruir esse modelo de Estado que é nefasto, criminoso e injusto”, afirmou o parlamentar, em entrevista exclusiva ao MidiaNews.

Para Wilson, que é líder do Governo na Assembleia Legislativa, Taques precisa, ainda, mudar metodologia e até gestores de algumas secretarias e autarquias. Entre elas, o Intermat (Instituto de Terras de Mato Grosso).

Ele disse ser preciso misturar o secretariado chamado de “técnico” com o “político”.

Ainda na entrevista, o tucano afirmou que a Operação Rêmora, que investiga fraudes na Secretaria de Educação (Seduc), não afetou a imagem do governador Pedro Taques.

Ele também defendeu que o PSDB tenha candidatura própria na Capital.

“O PSDB municipal está sofrendo da síndrome de vira-lata. A história do PSDB em Cuiabá, as realizações do partido, os quadros que possui, não permitem discutir apenas a vice. E, pelo andar da carruagem, pela condução, vai ter dificuldade até de garantir essa vice”, disse.

Confira os principais trechos da entrevista com Wilson Santos:

Passados um ano e meio, o governador está consciente da necessidade de fazer alterações no secretariado e já está analisando com critérios

MidiaNews – O governador Pedro Taques revelou, na última semana, estar disposto a dar uma incrementada em termos políticos em seu secretariado. Há a necessidade de alterações, após as escolhas “técnicas”?

Wilson Santos – Até tecnicamente, haveria necessidade de fazer algumas alterações. É normal que isso aconteça sempre ao final do primeiro ano. Basta pegar um histórico dos ex-governadores Silval Barbosa, Blairo Maggi, Dante de Oliveira, Jaime Campos, Carlos Bezerra, Júlio Campos. Foi comum esse freio de arrumação, um reajuste no secretariado. Passados um ano e meio, o governador está consciente da necessidade de fazer alterações no secretariado, e já está analisando com critérios.

MidiaNews – O caminho é um tom mais político ao secretariado?

Wilson Santos – É um misto. O técnico tem sempre que existir, mas para subsidiar as decisões do secretário político. Mas também não se pode mais tomar decisões só levando em conta o aspecto político, tem que levar em consideração o aspecto técnico, porque este é duradouro. Agora, a habilidade em tomar a decisão, o momento de tomá-la e a intensidade com que vai tomá-la, tem que ter o perfil político.

MidiaNews – O senhor acredita que os secretários do Governo têm uma visão preconceituosa ou distorcida em relação à classe politica?

Wilson Santos – Não. Não há essa visão preconceituosa. Até porque não deu tempo para que isso exista. Agora, o secretariado é de perfil exclusivamente técnico. Um perfil técnico que leva um tempo para adquirir uma cultura política. O ideal é um secretariado que tenha conhecimentos técnicos, mas com habilidade política. Mas não é fácil encontrar. Agora, não há preconceito. Há, sim, um aprendizado.

MidiaNews – Mas, não está demorando demais para esse secretariado amadurecer politicamente?

Marcus Mesquita/MidiaNews

Wilson Santos

"O técnico tem sempre que existir, mas para subsidiar as decisões do secretário político"

Wilson Santos – Já houve um amadurecimento. Tem secretário que chegou pedra bruta, mas já está polido. Mas não concordo em dizer que há uma visão preconceituosa em relação aos políticos. O que há é uma inexperiência política, necessidade de um traquejo político. E isso vem a ser adquirido com o tempo. Temos hoje secretários habilidosíssimos. Por exemplo: o Seneri Paludo [Desenvolvimento Econômico], Marco Marrafon [Educação], Permínio Pinto [Ex-Educação], Paulo Taques [Casa Civil], Suelme Evangelista [Agricultura Familiar]. São secretários que não tiveram nenhum atrito com os políticos. São secretários tecnicamente bons e politicamente habilitados. Mas foram escolhas que levaram em consideração especialmente o perfil técnico.

MidiaNews – Alguns deputados apontaram, ao longo dos últimos meses, algumas secretarias e autarquias que estariam “travadas”. Entre elas, Intermat, Sema, Infraestrutura. Como o senhor analisa essas críticas? Há problemas no andamento das pastas?

Wilson Santos – Há, sim, reclamações intensas sobre determinados setores do Governo. O governador reconhece e está decidido a fazer mudanças de metodologia, de gerentes, de gestão. O Intermat é um caso desses. Passou um ano e meio de gestão e não expedimos um único título. E o governador sabe disso e vai fazer as mudanças necessárias. O desafio é coadunar a investigação policial com a gestão. Trocar pneu andando. Ao mesmo tempo em que se investiga, que se audita, tem que ter gestão. E o governador está consciente disso e vai fazer alterações na metodologia da gestão e, em alguns, casos fazer mudanças no próprio gestor.

O ideal é um secretariado que tenha conhecimentos técnicos, mas com habilidade política. Mas não é fácil encontrar

MidiaNews – Essa falta de resultados é por conta dos gestores?

Wilson Santos – Não só os gestores, mas há muita coisa que foi deixada como armadilha. Por exemplo, portarias, decretos que tornaram o trâmite mais lento, que complicaram a gestão. Então, não é só o gestor, tem que fazer muitas desamarras para que a coisa ganhe velocidade.

MidiaNews – Um ano não foi suficiente para isso?

Wilson Santos – Não foi. Às vezes, se passam quatro anos e não se consegue avançar em determinados assuntos. Não é fácil. Nós somos reféns de uma burocracia secular, herdada da metrópole portuguesa. E, em tempos de denúncia para todos os lados, em tempos de prisões, processos, estão todos cuidadosos, demorados. E isso leva a uma celeridade menor. Mas não só na área pública.

MidiaNews – Os secretários têm medo do governador Pedro Taques?

Wilson Santos – Não. Os secretários têm respeito ao Pedro Taques. E é preciso entender que nessa primeira metade da gestão ele cumpriu com seu mote de campanha: a promessa de uma gestão dura no combate à corrupção, austera, investigativa. Ele dizia na campanha: ‘Não vou roubar, não vou deixar roubar e vou punir quem roubar’. Esse foi o chavão da campanha eleitoral e é o carro-chefe da gestão dele. Ele está cumprindo isso rigorosamente. Criou dois instrumentos importantes como o Cira [Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos] e também o Gabinete de Transparência e Combate à Corrupção. Então, não há medo, mas, sim respeito ao governador e à história do procurador Pedro Taques.

Marcus Mesquita/MidiaNews

Wilson Santos

"Há, sim, reclamações intensas sobre determinados setores do Governo. O governador reconhece e está decidido a fazer mudanças"

MidiaNews – Mas esse tom do primeiro ano não impôs um medo nos servidores, sendo um dos motivos da falta de andamento de algumas secretarias?

Wilson Santos – Acho que impôs o que deve ser imposto: a coisa pública deve ser sagrada. Terminou a farra que existiu ao longo de vários governos. Acabou essa farra de tratar dinheiro público como se fosse privado. Claro, o cuidado do servidor aumenta e a velocidade diminui, e temos visto isso na prática.

MidiaNews – O senhor acredita que um secretariado mais político traria a celeridade necessária ao Governo?

Wilson Santos – Tudo tem seu tempo. O governador ainda goza de altíssima popularidade, como nenhum outro governador gozou após 17 meses de gestão. Todas as pesquisas indicam isso. O governador Pedro Taques teve a mais longa lua de mel dos últimos governos. Essa semana, fomos a Poconé e é impressionante a quantidade de selfies, abraços, pessoas gritando o seu nome, buzinando. Estou há 30 anos na vida pública e nunca vi um governador gozar de um prestígio popular como esse.

MidiaNews – Mesmo com a máquina parada, protestos e diante de uma possível greve?

Wilson Santos – A máquina não está parada. A máquina está 100% funcionando. Agora, com mais cautela, mais rigor. Tem uma frase que diz: ‘Se você tem pressa, vá devagar’. Há processos que não podem ser resolvidos a toque de caixa. Por exemplo, a questão das ambulâncias, que demorou a sair, mas saiu para uma das melhores empresas do mundo, a Mercedes-Benz. Se tivéssemos dado a urgência que agentes políticos exigiam, não teríamos conseguido uma indústria tão renomada e com a longevidade maior do que seus concorrentes. Foi preciso cautela, cuidado, perícia, para se chegar a uma licitação sem denúncias. Então, não tem nada parado. O que aparentemente está parado é porque está em procedimento interno.

Marcus Mesquita/MidiaNews

Wilson Santos

"O governador ainda goza de altíssima popularidade, como nenhum outro governador gozou após 17 meses de gestão"

MidiaNews – Então, a lua de mel do governador com a população ainda não acabou?

Wilson Santos – Eu achava que havia acabado. Mas andei com ele pelo interior e fiquei impressionado. E já andei com muitos governadores. Fiquei impressionado com o prestígio e popularidade perante a sociedade. Há algumas semanas, eu achava que havia acabado a lua de mel, mas agora tenho dúvidas.

MidiaNews – Como o senhor analisa este primeiro ano da gestão Pedro Taques?

Wilson Santos – Correto. Um primeiro ano impecável. Fez o que prometeu na campanha, diminuindo o tamanho do Estado. Ainda não é o ideal, temos que diminuir ainda mais a máquina, para gastar mais com o cidadão.

MidiaNews – Um deputado da base disse, recentemente, in off, que a vontade de muitos deputados era “moer o governador”, por não haver uma interlocução, um diálogo e um carinho no tratamento. Existe isso mesmo?

Wilson Santos – Discordo. A atual legislatura tem sido parceira do Governo Pedro Taques. E ele também é parceiro da Assembleia. Construiu uma relação republicana, perfeita. Uma relação que a sociedade exige. Não tem toma lá, dá cá. Acontece que durante décadas, a Assembleia teve uma relação com o Executivo muito diferente. O Pedro colocou ordem nessa relação.

Comunicação é decisiva e não pode ser tratada como política de Governo, mas, sim como política de Estado. E o governador está passando a ter essa noção.

MidiaNews – Mas é uma relação que estava estremecida. No último jantar entre Governo e Assembleia, houve diversas críticas...

Wilson Santos – Esse jantar foi um pedido que fiz em janeiro para que pudéssemos, periodicamente, encontrar a base parlamentar e o secretariado. É claro que há divergências, como há em qualquer casamento. Mas é no rodapé. Na essência, na substância, a relação é republicana, de respeito. E isso se demonstra pelo volume de mensagens que o Governo mandou e que foram quase todas aprovadas por unanimidade. Inclusive, com apoio da oposição.

MidiaNews – Qual é o grande problema do Governo Pedro Taques, em sua visão?

Wilson Santos – É a Comunicação. Não o secretário, que é da nova safra e muito bom no que faz. Mas o problema é que, desde novembro do ano passado, estamos em uma relação precária com os veículos de comunicação. O Governo, quando assumiu, continuou o contrato da gestão anterior com as agências até novembro. Acabou o contrato e, de lá para cá, só vivemos de emergencial. E isso tornou precária a relação com os veículos. O Governo está muito prejudicado na sua Comunicação. Nos próximos dias, creio, saia uma definição sobre essa licitação da Comunicação. Depois, passaremos a ter uma relação com a sociedade, através da mídia, mais intensa. Esse foi um erro que tive na minha gestão como prefeito de Cuiabá: não dava a importância que hoje sei que a Comunicação tem. Comunicação é decisiva e não pode ser tratada como política de Governo, mas, sim como política de Estado. E o governador está passando a ter essa noção. Antes não tinha, mas a vida ensina.

Não posso aceitar um Estado gastando em torno de 97% para dentro. Esse é um Estado irresponsável, nefasto, criminoso

MidiaNews – A receita do Estado tem sido um dos fatores que o Governo alega ter problemas atualmente. Além disso, as leis de carreiras aprovadas em gestões passadas também aumentaram os gastos com a folha salarial. Como o senhor tem acompanhado essas discussões? Qual seria a saída?

Wilson Santos – Defendo um pacto por Mato Grosso. Um pacto que exige sacrifícios. O primeiro é do próprio Governo, na máquina pública, que tem que diminuir de tamanho. Segundo, do setor produtivo que está capitalizado, que é o agronegócio. E terceiro dos próprios servidores, que estão com salários em dia, e tem uma boa média salarial.

Dentro desse novo modelo, o Governo é uma parte. Eu não posso aceitar um Estado gastando em torno de 97% para dentro, com pagamento de dívidas, custeio da máquina, salários, encargos sociais. Isso, não peço benção ao Pedro Taques, não peço benção ao meu partido, não peço benção a ninguém. É minha convicção em 30 anos de vida pública. Esse Estado é um Estado irresponsável, maluco, criminoso. E enquanto eu estiver na vida pública, vou enfrentar esse Estado. Independente de quem o governe, vou enfrentar de onde eu estiver.

Nenhuma vaia vai calar a minha voz. Nós precisamos destruir esse modelo de Estado que é nefasto, criminoso, injusto. Esse Estado que só aplica 3% na sociedade é um monstro. Por isso, ninguém está satisfeito com ele. O servidor não está satisfeito, o produtor não está satisfeito, o industrial, o comerciante, o profissional liberal, os excluídos, ninguém está satisfeito com esse Estado. É preciso enfrentá-lo. E estou em uma idade que o medo já diminuiu muito. Só tenho medo da mão de Deus. Estou perfeitamente identificado com a minha consciência e acho que posso, de maneira muito pequena, dar a contribuição para a construção de um novo Estado para Mato Grosso. Sei que isso não se faz do dia para a noite, mas estou consciente do meu papel de semeador. Vou jogar sementes. Nem todas terão êxito, mas, quem sabe, algumas conseguirão.

MidiaNews – Então, propõe um tripé para sair desse momento de crise?

Wilson Santos – Sim. Governo, produtores e servidores. Chegou o momento de fazermos um pacto por Mato Grosso. É aquilo que John Kennedy respondeu quando perguntado o que os Estados Unidos poderia fazer pelo cidadão, “Faça o inverso, o que você pode fazer pelos Estados Unidos?”. Então, o que nós podemos fazer por Mato Grosso? E quem tem que dar o exemplo, começar primeiro, é o Governo. E ele já fez isso, quando fez a primeira etapa da reforma administrativa. Agora, vem a segunda, com extinção de secretarias, fusão de pastas, extinção das áreas indiretas. Então, se esses três atores derem um passo atrás para o Estado, não tenho dúvida de que atravessaremos essa crise e sairemos mais forte.

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Wilson Santos

"Defendo um pacto por Mato Grosso. Um pacto que exige sacrifícios. O primeiro é do próprio Governo"

MidiaNews – Mas o setor produtivo não tem se mostrado disposto a contribuir...

Wilson Santos – Não tenho essa impressão. Li a carta aberta da Aprosoja, de bom nível, respeitável. A mim não causou surpresa, porque eles já tinham me passado esse posicionamento. Mas não sinto uma radicalização. Sinto que há espaço para conversar. E a minha proposta é uma compensação tributária provisória sobre as commodities agrícolas e minerais. Esse provisório poderia variar de cinco a oito anos.

Nós faríamos um novo fundo. Não limitaríamos a exportação. Poderia continuar 100% livre e desta forma não tocaríamos na Lei Kandir. E a minha proposta, que não está acabada, não passa pelo ICMS. Esses dois pontos estão definidos. O que falta definir é o tempo de tributação e o valor fixo, em real, para cada commodity. Cada uma teria um indicador, por exemplo, por saca da soja, o metro cúbico da madeira, algodão, diamante, etc. Na soja, a minha proposta seria de R$ 2 por saca, e R$ 0,75 por saco de milho. As outras commodities ainda não foram definidas. Mas à medida que o setor encontrar algum tipo de crise, esse valor pode ser flexibilizado.

Essa proposta está sendo construída com muito cuidado. Até porque não podemos matar a galinha dos ovos de ouro. Reconheço a legalidade da capitalização do setor, a honestidade com que trabalharam. Mas estou determinado e vejo que o setor tem plena condição de colaborar.

MidiaNews – A receita do Estado pode aumentar com essa taxação das commodities. E o Governo passa por um momento de dificuldade em relação ao caixa. O senhor acredita que o governador Pedro Taques está receoso em aceitar essa proposta de taxação porque parte da campanha dele foi bancada por empresários do setor do agronegócio?

Marcus Mesquita/MidiaNews

Wilson Santos

"O agronegócio está satisfeito com Pedro Taques. E quem pôs dinheiro na campanha achando que ele não faria um Governo republicano, não o conhecia"

Wilson Santos – O agronegócio está satisfeito com o Governo Pedro Taques, ao acabar com a malandragem e corrupção no Estado. Conheço o Pedro e acho que isso não vai intimidá-lo. E quem pôs dinheiro na campanha do Pedro achando que ele não faria um governo republicano, não o conhecia. No primeiro ano, por exemplo, ele asfaltou e restaurou quase 600 km a um preço 60% menor que o Governo Silval Barbosa. Está tocando o programa Pró-Estradas em mais de 50 frentes, vai lançar um programa de novas pontes. E é isso que o produtor que investiu nele esperava. E isso está recebendo.

MidiaNews – A campanha dele foi milionária. Esses investidores não influenciam na gestão do governador?

Wilson Santos – Têm direito a opinião, são consultados e estão recebendo como moeda de troca asfalto, pontes, serviços de qualidade. É um Governo austero, que aplica cada centavo com rigor.

E a minha também foi quase milionária. Gastei mais de R$ 800 mil. Milhão hoje não está chamando tanto a atenção. Eu fiz a campanha a pé, casa por casa, extremamente franciscana e, ainda assim, gastei R$ 800 mil. Calcule uma campanha para governador, que percorre 141 municípios. Mas temos que mudar essa fonte de financiamento. Defendo que empresário nunca mais banque a campanha de ninguém, porque é aí que está o gênese da corrupção. Financiamento tem que ser, exclusivamente, público.

MidiaNews – Com relação aos servidores, o senhor propõe congelamento dos salários?

Wilson Santos – Não. O que proponho é um crescimento rigorosamente proporcional às condições econômicas e financeiras do Estado. Mas está havendo a renegociação das dívidas dos Estados. O Governo Federal sinaliza com a possibilidade de aceitar uma proposta de moratória, por até dois anos, mas impõem condicionantes como a não concessão de reajustes. E o Estado não é uma ilha, participa de uma federação. Mato Grosso não está sozinho nisso. São 25 Estados que anunciaram reajuste zero.

Quem não está preparado para receber vaia, também não está para os aplausos

MidiaNews – Não teme que o Judiciário obrigue o Governo a pagar a Revisão Geral Anual (RGA)?

Wilson Santos – Têm diversas interpretações no Judiciário. Há magistrados que entendem que deve, sim, pagar, mesmo ultrapassando a Lei de responsabilidade Fiscal (LRF). Mas há também os que pensam o contrário, que não pode ser concedido se ferir a LRF e desequilibrar a situação econômica-financeira do Estado. São diversas cabeças, diversas interpretações. O Executivo não quer ir buscar a arbitragem do Poder Judiciário. Acha que dá para se entender com o servidor até o último momento.

MidiaNews – Quais seriam as consequências de uma decisão judicial mandando o Governo pagar a RGA?

Wilson Santos – O Governo vai recorrer às instâncias superiores. Caso isso aconteça em nível estadual, vamos buscar guarida jurisdicional em nível federal.

MidiaNews – O senhor fez sua carreira defendendo causas populares. Como foi ser vaiado em plena Assembleia Legislativa?

Wilson Santos – Toda experiência tem seu lado positivo. Você tem que saber tirar o lado bom de cada coisa, mesmo ela sendo indigesta, amarga. Eu sou comedor voraz de jiló. Não foi a primeira vez que fui vaiado, já me vaiaram enquanto prefeito. É da rotina do homem público. Quem não está preparado para receber vaia, também não está para os aplausos. Como tenho experiência, e sou amigo do tempo, sei que tudo isso será revertido. Já vi muitos serem vaiados no início e aplaudidos no final, e vice-versa. E, felizmente, essa intensidade de vaia, aconteceu no momento da minha maturidade. Porque a vaia é o aplauso de quem não gostou. E quando você vem para a vida pública, tem que saber que está sujeito a tudo. Se não quer passar por constrangimentos dessa natureza, fique na vida privada. E outras vaias virão, mas não respondo no mesmo nível, respeito, me curvo a elas, mas não mudo minhas convicções. Tem convicções minhas que nem o governador irá mudar.

Marcus Mesquita/MidiaNews

Wilson Santos

"Não pedi para estar líder, mas não deixo a liderança enquanto o Governo do Pedro estiver nesse momento difícil. Ele pode ficar sozinho, mas estarei com ele"

MidiaNews – O senhor disse, nesta semana, na Assembleia, que vai colocar com orgulho no currículo ter sido líder do Governo em momentos difíceis. Mas não teme que esses enfrentamentos o reprovem nas próximas eleições?

Wilson Santos – Não tenho nenhum receio de ser amanhã reprovado nas urnas. Até porque não nasci na política. Sou professor, e bem avaliado, bacharel em direito, e a qualquer momento posso me tornar advogado, tenho diversas opções de vida. Não há vida apenas no meio político. Já trabalhei mais de 10 anos na iniciativa privada, com excelentes resultados. Já disputei 12 eleições, perdi duas. E não vou trair a minha consciência. Tem muita gente vivendo em uma zona de conforto e não quer dar sua contribuição ao Estado. Mas eu não tenho receio de tocar em dogmas, tabus, e de enfrentar gente grande neste Estado. Medo, somente da mão de Deus.

Por isso, tenho orgulho em ser líder. Líder só para receber aplausos, tapinha nas costas, isso todos querem. Mas a liderança se faz em momentos trágicos, difíceis e antagônicos. Não pedi para estar líder, mas não deixo a liderança enquanto o governo do Pedro estiver nesse momento difícil. Ele pode ficar sozinho, mas estarei com ele. Enquanto ele precisar para fazer essa travessia, conte comigo. Não abandono companheiro na estrada. Teve vários momentos que quis deixar a liderança, mas agora faço questão de ficar.

MidiaNews – No ano passado, ventilou-se na imprensa que o senhor estaria disposto a deixar a Liderança do Governo.

Acho que o PSDB municipal está sofrendo da síndrome de vira-lata. A história do PSDB em Cuiabá não permite discutir apenas a vice

Wilson Santos – Era um momento tranquilo. Encerrei o ano com todas as matérias aprovadas, como LDO, LOA, PPA, novo Fethab. Ou seja, encerrei o ano redondinho e pedi para sair. Mas ele pediu para que ficasse. O que me comoveu foi que ele disse que teríamos um ano difícil e que precisava de mim na Assembleia. Aquela frase foi muito forte para mim, vi ali um homem sincero. Porque ele poderia ter dourado a pílula, mas, não. Então, quanto mais dificuldade, eu não saio. Mas, claro, talvez chegue o momento em que eu não seja útil ao Governo. Mas enquanto ele entender que sou útil, estarei lá. E eu não sou filho de pai assombrado.

MidiaNews – A Operação Rêmora não manchou a imagem do Governo e o discurso do governador de combate à corrupção?

Wilson Santos – De forma nenhuma. Não quebrou o discurso e nem quebrará. Até porque esse assunto não está encerrado, a operação Rêmora não está enterrada. A sociedade está observando o comportamento do governador em relação a esse caso. Eu fiz uma observação em plenário, que acabou virando chacota, mas é verdade: até no céu existiu corrupção. Nos livros de Gênesis, Ezequiel, Apocalipse, na Bíblia Sagrada, tem todo o processo de expulsão do anjo Lúcifer do céu. O Papa Francisco remodelou toda gestão do Banco do Vaticano, porque foi roubado pelos bispos e arcebispos que o dirigiam. Nos governos federais, do Brasil, houve corrupção, mesma coisa nos governos estaduais. Então, todos em sã consciência sabiam que haveria corrupção no Governo Pedro Taques. Mas a sociedade está aguardando ele punir quem roubou. Ele já fez uma limpa na secretaria. O secretário Permínio foi digno e entregou o cargo no primeiro dia, para não obstruir as investigações. E haverá mais? Acho que haverá mais. São 98 mil servidores e onde há ser humano, há o pecado, há o erro.

MidiaNews – Pelo fato de esse escândalo ter ocorrido na Educação, em uma pasta comandada pelo PSDB, o partido ficou chamuscado para as eleições municipais deste ano?

Wilson Santos – A eleição municipal é outra história. Acho que o PSDB municipal está sofrendo da síndrome de vira-lata. A história do PSDB em Cuiabá, as realizações do partido, quadros que possui, não permite ao PSDB discutir apenas a vice. E pelo andar da carruagem, pela condução, vai ter dificuldade até de garantir essa vice. Eu continuo firme defendendo a candidatura própria do partido. O PSDB tem estatura para ter uma candidatura, levá-la ao segundo turno e vencer as eleições de Cuiabá. E vai se arrepender se fizer essa aliança. O futuro vai mostrar.

MidiaNews – Quais nomes o PSDB teria para as eleições?

Marcus Mesquita/MidiaNews

Wilson Santos

"O PSDB tem estatura para ter uma candidatura, levá-la ao segundo turno e vencer as eleições de Cuiabá. E vai se arrepender se fizer essa aliança"

Wilson Santos – Temos o ex-presidente da OAB, Ussiel Tavares, o Luiz Carlos Nigro [secretário-adjunto de Turismo], o vereador Maurélio Ribeiro, o presidente da Assembleia, Guilherme Maluf, o empresário Dorileo Leal [dono do Grupo Gazeta de Comunicação], e o ex-prefeito de Cuiabá, Roberto França. O que não faltam são nomes. Nomes novos, experientes, sem mácula. E o partido vai abrir mão de uma candidatura dessas? Então, sou contra discutir vice. Já disse para não me chamarem para discutir vice, porque não participo dessa síndrome de vira-lata. E sei que vão se arrepender de fazer essa aliança.

MidiaNews – Tirando alguns, não acha que são nomes de pouca expressão para uma disputa pela Prefeitura de Cuiabá?

Wilson Santos – Em princípio, pode ser, mas já vi gente começar com 2% em Mato Grosso e ganhar eleição em primeiro turno. Já vi isso correr também nacionalmente.

MidiaNews – Esse posicionamento contra o PSDB na vice do prefeito Mauro Mendes tem algum tipo de questão pessoal? Existe algum ranço do senhor contra o atual prefeito?

Wilson Santos – Não. Eu não tenho nenhum problema com o Mauro Mendes. Votei nele. Votei no Guilherme no primeiro turno, em 2012, no segundo turno ele [Mauro Mendes] me ligou, pediu meu voto. Votei e ainda fiz campanha para ele no segundo turno. Liberei a minha base. Então, não tenho nada de ordem pessoal. Acho que o Mauro fez um Governo razoável, que vem melhorando na reta final com a parceria com o Pedro Taques. Onde o encontro, cumprimento, fui recebido por ele em 2014, tenho feito emendas para Cuiabá. O que eu faço é política e time que não disputa campeonato, perde torcida. Partido que não disputa eleição, diminui. Não tenho nada contra o Mauro, mas tenho 100% a favor do PSDB.





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