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Cultura
Quarta - 29 de Junho de 2016 às 16:56
Por: Edição: Luana Lourenço/​Vinícius Lisboa - Enviado Especial

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A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começa hoje (29) com participação recorde de mulheres entre os autores convidados, orçamento menor e tributos à poeta Ana Cristina César, a homenageada desta edição. O evento termina no domingo (3).

Ana Cristina César, ou Ana C., foi destaque na geração da Poesia Marginal, um grupo de poetas que distribuía suas obras de forma caseira na década de 1970, quando era forte a repressão da ditadura militar. Além da poesia, a autora trabalhou com crítica e tradução literária e foi responsável pela tradução de Emily Dickson e Katherine Mansfield.

“Todos os poetas da geração mais nova, essa geração toda tem a marca da Ana Cristina. A gente tem mesas com vários poetas contemporâneos, e todos são grandes leitores dela. A obra dela está pulsando na literatura brasileira atualmente”, disse o curador da Flip, Paulo Werneck.

A abertura terá a presença de um amigo da autora, o também poeta Armando Freitas Filho, escolhido pela família de Ana C. como o curador de sua obra e responsável pela organização póstuma de suas obras, após a morte dela, em 1983.

Freitas Filho foi retratado no documentário Manter a Linha da Cordilheira sem o Desmaio da Planície, de Walter Carvalho. O cineasta também participará da primeira mesa do festival, hoje, às 19h. Às 19h45, o documentário será exibido, e, às 21h45, um sarau celebrará a poesia marginal dos anos 1970 e as novas vertentes da poesia contemporânea. A atração será conduzida pela atriz-MC Roberta Estrela D'Alva, reconhecida por sua atuação na cultura hip hop e na luta contra o racismo.

Na Flip mais feminina em 14 edições, outro destaque será a vencedora do prêmio Nobel de Literatura de 2015, Svetlana Aleksiévich, nascida na União Soviética em 1948, em uma cidade que hoje pertence à Ucrânia. Em sua obra, a autora aborda o desmonte da URSS a partir da história oral de protagonistas célebres ou anônimos.

Mais mulheres

O palco principal da Flip 2016 terá 17 autoras convidadas, seis a mais que em 2015, e quase o dobro de 2014, quando nove mulheres foram convidadas especiais. Segundo Werneck, a mudança ocorreu a partir de questionamentos de ativistas feministas. Os homens continuam sendo maioria entre os autores, 22 no total, entre eles Irvine Welsh, autor de Trainspotting, obra adaptada em um clássico do cinema de mesmo nome e também considerada um clássico da contracultura. O escocês participará da última mesa de amanhã (30), com Bill Clegg, um ex-dependente químico que se tornou agente literário e escritor nos Estados Unidos.

Também amanhã, o jornalista Caco Barcellos, autor de Abusado, e o americano Misha Glenny, que escreveu a biografia do ex-chefe do tráfico da Rocinha, Nem, contarão os bastidores e experiências sobre biografar dois conhecidos narcotraficantes brasileiros. Um dos eventos mais procurados durante a venda de ingressos da Flip foi o que reunirá o biógrafo de Clarice Lispector, Benjamin Moser, e Heloisa Buarque de Holanda. Os dois conversarão no sábado na mesa De Clarice a Ana C. e discutirão o que há em comum entre os leitores das duas autoras.

Em um ano de orçamento menor e dificuldades financeiras em todo o país, Paulo Werneck comemora o fato de a Flip conseguir preservar sua programação. “O que me impressiona é que, em um ano tão difícil, a Flip tenha conseguido fazer tanto. Tem uma força muito grande de captação.”





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