Queimadas: Recorde olímpico Em menos de um mês de período de proibição, Mato Grosso já registrou 4.841 focos de calor, 203% a mais do que 2015
Desde o início do período proibitivo das queimadas, entre os dias 15 de julho e 07 de agosto deste ano, Mato Grosso já registrou 4.841 focos de calor, distribuídos, na grande maioria, entre áreas indígenas (23%) e propriedades rurais (65%).
O número já é 203% maior que o mesmo período de 2015, quando houve 1.598 ocorrências em todo o Estado. A situação preocupa o Corpo de Bombeiros (CB), que não descarta, inclusive, solicitar o apoio da Força Nacional, caso seja necessário para o combate às chamas.
De acordo com o comandante do Batalhão de Emergências Ambientais, coronel Paulo Barroso, atualmente o CB dispõe de uma estrutura composta por 166 bombeiros e 32 brigadistas civis, além do suporte de 45 viaturas, duas aeronaves de combate a incêndios florestais e do helicóptero do Ciopaer, disponível para apoio logístico e transporte da tropa.
“Temos o aporte do Corpo de Bombeiros e, se for necessário, nós temos já um contato para acionar a Força Nacional. Estamos no início do período proibitivo e não chegamos ainda nem na primeira quinzena de agosto. Temos praticamente dois meses para percorrer. Os prognósticos não são favoráveis e, do jeito que estão crescendo os índices de foco de calor, tudo indica que podemos ter um desastre em razão dos incêndios florestais. Por essa razão, temos o contato direto com Brasília para acionar, se necessário, a Força nacional para nos apoiar”, disse.
Porém, ele afirma que nada será suficiente se a população não colaborar.
“Para se ter uma ideia, no dia 04 de agosto tivemos o recorde deste ano (até o momento), quando foram registrados 867 focos de calor no mesmo dia. Nessa quantidade, não há equipamento e nem bombeiros suficientes para apagar os incêndios. Só a população do Estado que pode ajudar”, solicitou.
CENÁRIO ALARMANTE – Para Barroso, o cenário assustador e alarmante. “A explicação que nós temos é que o clima contribuiu, mas o principal ator desse cenário é o homem, que vive no campo e está fazendo o uso do fogo equivocadamente e deliberadamente e a população urbana que está ateando fogo nos terrenos baldios, o que não pode ser feito por força de lei”, lamentou.
Já desde o dia 1º de janeiro deste ano até 7 de agosto, foram 12.706 focos, contra 7.262 no mesmo período do ano passado. O número representa 75% de aumento. Dentre os focos de calor – que se refere a fogo acima de 47ºC em área de 900m² – estima-se que entre 70% e 80% são incêndios.
Além da condição climática que favorece as queimadas, este ano ainda tem o agravante de o fenômeno El Niño, que deixa a seca mais intensa, principalmente na Região Amazônica. Segundo dados do CB, Cuiabá está há 46 dias sem chover. Mas a estiagem é mais longa ainda em municípios como Novo Santo Antônio, no Araguaia, onde não há precipitação há 90 dias.
INVESTIMENTO – Desde 2012, o Corpo de Bombeiros recebeu investimento de R$ 16 milhões, oriundos do Fundo da Amazônia e do Governo do Estado para o combate aos incêndios florestais.
Para se ter ideia dos prejuízos financeiros e ambientais, nos últimos dias houve uma grave ocorrência na reserva indígena próxima ao Rio Formoso, em Tangará da Serra (240 quilômetros de Cuiabá), onde o combate exigiu a presença de bombeiros, 24 índios da brigada indígena e de uma aeronave do Ciopaer.
Já para este ano, o CB tem agendadas quatro perícias, mas a meta é realizar 30 até o fim do período proibitivo. Uma delas já foi feita no Parque Massairo Okamura. No ano passado foram feitas nove perícias, que constataram que as causas das queimadas têm origem na ação humana.
“A falta de precipitação ajuda no surgimento de incêndios, mas o principal agente é o homem. O homem do campo e urbano. Precisamos que a população se conscientize urgentemente”, reforçou o coronel Paulo Barroso.
Utilizar fogo para limpeza e manejo é crime passível de 6 meses a 4 anos de prisão, com multas podendo variar entre R$ 1 mil e R$ 7,5 mil, a depender de quantos hectares foram atingidos. Para denunciar incêndio em área urbana o cidadão pode ligar no 193. Já em áreas rurais, o telefone é o 0800-647-73-63.
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