PRESIDENCIÁVEL
Bolsonaro não destina emendas para Angra dos Reis há uma década Deputado mantém empregada uma servidora de seu gabinete na cidade fluminense desde 2003
Há uma década o presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ) não destina emendas parlamentares para a cidade de Angra dos Reis, onde mantém empregada desde 2003 uma servidora de seu gabinete.
Os mapas eleitorais do Estado mostram ainda que o município da região da Costa Verde fluminense não figura como uma base eleitoral do deputado.
Bolsonaro mantém há mais de 20 anos uma casa de veraneio na pequena Vila Histórica de Mambucaba, distante 50 quilômetros do centro de Angra.
A Folha revelou na quinta-feira (11) que o deputado usa verba da Câmara para empregar Walderice Santos da Conceição, 49, sua vizinha de casa de praia, que trabalha numa loja de açaí.
O marido dela, Edenilson Garcia, ajuda a manter a casa de Bolsonaro na ausência do deputado -é apontado como caseiro do imóvel por moradores do local.
O presidenciável afirmou em entrevista que Wal, como é conhecida, tem como função reportar a ele ou a seu chefe de gabinete "qualquer problema na região".
"Ela faz o que todo comissionado faz. Qualquer problema na região ela entra em contato com o chefe de gabinete. [Relata] Uma carência da prefeitura, em que como parlamentar posso apresentar uma emenda", disse ele.
Segundo dados da Câmara dos Deputados e do "Siga Brasil", do Senado Federal, o presidenciável apresentou apenas três emendas para Angra dos Reis desde 2003, ano em que Wal ingressou no gabinete do deputado. Duas ocorreram neste primeiro ano e a última, em 2008.
Duas delas referem-se a demandas do próprio distrito de Mambucaba, de cerca de 1.200 habitantes, onde ele mantém sua casa.
Em 2003, Bolsonaro destinou R$ 250 mil para a captação e tratamento de água com colocação de dutos e reservatórios. Cinco anos depois, ele solicitou R$ 150 mil para obra emergencial na Igreja Nossa Senhora do Rosário, localizada no distrito.
A reportagem não conseguiu confirmar nesta segunda (15) se as emendas foram executadas pelo governo federal.
Na entrevista, Bolsonaro disse que não promoveu a funcionária porque "perdeu o interesse" na região. "Não tenho obra nenhuma em Angra."
Todos os 513 deputados têm o direito de apresentar até 25 emendas ao orçamento do próximo ano destinando até R$ 15 milhões a municípios de todo o país. Em geral, os parlamentares utilizam a verba para atender suas bases eleitorais.
Bolsonaro também mantém funcionários na capital -onde estão concentrados seus eleitores- e Resende, cidade do Sul Fluminense com grande contingente militar em razão da presença da Academia Militar das Agulhas Negras.
Resende, onde o deputado declarou manter três funcionários, é beneficiada por emendas do presidenciável praticamente todo ano.
O resultado eleitoral do presidenciável na cidade do Sul Fluminense sempre foi acima da média em suas eleições. Enquanto a cidade tem 0,7% dos eleitores do Estado, Bolsonaro garantiu ali mais de 1% de sua votação total.
Já em Angra a situação se inverte. Enquanto o município reúne 1% do eleitorado do Estado, o deputado tem na região menos de 0,5% dos votos que acumula.
Nem mesmo Edenilson Garcia, marido de Wal, testou seu desempenho eleitoral em Angra. Ele concorreu ao cargo de vereador em Barra Mansa, mas não teve sucesso.
Pessoas ouvidas pela reportagem no pequeno vilarejo, que tem cerca de 1.200 habitantes, disseram não saber que Wal era paga com dinheiro da Câmara.
Outro lado
A assessoria de imprensa de Bolsonaro afirmou que "o deputado tem a liberdade de contratar e exonerar quem ele quiser", no Estado do Rio de Janeiro, "na hora que achar melhor e no momento que achar oportuno".
Sobre as emendas para Angra, a assessoria afirmou que o deputado só responderá perguntas da Folha formuladas pessoalmente, em conversa gravada.
Em entrevista não agendada, na semana passada (a reportagem o encontrou em Mambucaba, durante apuração), Bolsonaro negou que Wal seja funcionária fantasma. Nas redes sociais, afirmou que a "Wal Açaí" pertence à irmã dela, que se chama Luciana.
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