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Politica Brasil
Sexta - 19 de Janeiro de 2018 às 09:45
Por: Folha de S. Paulo

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Lula e Celso Amorim assistem à performance de artistas durante encontro com apoiadores, militantes e intelectuais na Casa de Portugal, em São Paulo
Lula e Celso Amorim assistem à performance de artistas durante encontro com apoiadores, militantes e intelectuais na Casa de Portugal, em São Paulo

Em ato com artistas e intelectuais na Casa de Portugal, em São Paulo, nesta quinta-feira (18), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que está muito mais sereno do que aqueles de toga que podem condená-lo a prisão e tirá-lo da eleição.

Uma semana antes de seu julgamento no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, o petista criticou o juiz Sérgio Moro, que o condenou a nove anos e seis meses de prisão pelo caso do tríplex, e os magistrados que poderão ratificar ou não a decisão de primeira instância.

"Confesso a vocês que duvido que juízes que já me julgaram e que vão me julgar estejam neste momento com a tranquilidade que eu estou. Estou com a tranquilidade dos justos, dos inocentes. Eu sei que não cometi crime."

Mais uma vez, Lula criticou os agentes responsáveis pela Lava Jato.

"Defendo um MP forte. Mas quem participa de uma instituição forte tem que ser uma pessoa com competência. não pode ser uma pessoa volúvel. Não pode ser uma pessoa que aprendeu a empinar pipa no ventilador", disse.

No discurso, Lula relatou a pergunta que fez ao juiz Sérgio Moro durante seu depoimento em Curitiba: se poderia chegar em casa e dizer aos netos que tinha sido ouvido por um juiz justo. "Ele [Moro] vacilou", disse Lula.

Sobre os desembargadores que julgarão seu recurso no dia 24, Lula disse que não os conhece, mas a única coisa que pede é que leiam as peças de acusação e defesa. "Não posso ser condenado por um crime que não cometi".

O ex-presidente afirmou ainda que, mesmo condenado, sua tranquilidade vai continuar. "Vou viajar pelo país", declarou. "Estou disposto a enfrentá-los."

O ex-presidente afirmou que o "processo de criminalização do PT" foi propulsionado nos anos 2000, auge do mensalão. "Em 2015, tinha muita gente que não acreditava no impeachment, achavam que era coisa do passado. O que aconteceu? Eles estavam preparando uma fórmula. Inventaram uma tal de pedalada [fiscal], sem provar a pedalada", disse, relembrando a destituição de sua sucessora, Dilma Rousseff.

Segundo Lula, passaram a atacar o governo como nunca antes na história deste país. "Hoje consigo entender que eles resolveram fazer uma cirurgia no Brasil. Passaram a vender para a sociedade que o Brasil tinha uma doença grave chamada PT, Dilma, e era preciso tirar essa doença do Brasil."

Para Lula, "o povo brasileiro somente agora está acordando da anestesia" a que foi submetido, e o "desmonte dos direitos trabalhistas" cumpriu seu papel nesse despertar.

O ex-presidente ainda falou da eleição e disse que "se o PT quiser, estarei candidato aconteça o que acontecer".

Artistas

Os artistas foram enfileirados em cadeiras atrás de Lula. Da literatura: Raduan Nassar, Alice Ruiz. Da música: Odair José, Ana Cañas, Edgard Scandurra, Leci Brandão, Thaíde. Dos palcos e do audiovisual: Laís Bodanzky, Ailton Graça, Maria Casadevall, Celso Frateschi.

Depois de Lula, tratado como "dono da festa" e "grande sedutor de plateias", o político mais ovacionado foi o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

Dirigentes petistas presentes: Gleisi Hoffmann, Aloizio Mercadante, Alexandre Padilha, Luiz Dulci, Carlos Zarattini, Eduardo Suplicy, José Américo.

"Não adianta tirar o melhor jogador de campo, fazer gol sem goleiro", afirmou Haddad sobre as tentativas, segundo ele, de ganhar uma eleição "sem legitimidade".

Líder do MTST e cortejado pelo PSOL como possível presidenciável, Guilherme Boulos saiu em defesa de Lula: "Quando o Judiciário se mete a fazer política, não se pode falar em democracia. [...] Você já foi absolvido pelo tribunal da história".

Presidente do PT, Hoffmann voltou à carga contra o desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, que preside o TRF-4, tribunal que julgará o petista em segunda instância. "Vai pra Brasília dizer que tem medinho, que corre risco."

Em reunião com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, e com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, Flores relatou ameaças que a corte estaria sofrendo às vésperas do julgamento. No sábado (13), o vice-presidente do PT Alexandre Padilha já havia sugerido que o desembargador estava "se fazendo de vítima".

No telão, um vídeo trazia mensagem do linguista Noam Chomsky, que afirmou: "Todas as evidências mostram que Lula é a figura mais popular do Brasil".

Até Cristiano Zanin, um dos advogados de Lula, foi tratado como popstar, ao discursar ao som de "fiu-fiu" sobre o processo do cliente, que seria repleto de "ilegalidades".

A noite começou com "...primeiramente, fora Temer", saudação comum entre detratores do presidente que assumiu após o impeachment da petista Dilma Rousseff, em 2016.

Lula entrou no palco após "um cafezinho", ladeado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann (de camisa estampada com o rosto do homenageado), e por seu ex-ministro Celso Amorim. A vocalista trans Raquel Virginia, da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, completou a primeira fila, só com quatro cadeiras –vermelhas, assim como a iluminação, como a camisa do protagonista do evento.

Os discursos vieram polvilhados com expressões que acusavam "golpistas" de cometerem "suicídio democrático" e um "nefasto atentado à democracia", além de uma citação à escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie ("golpes sempre levam a mais golpes").

Primeiro ato: um número de dança em que dois bailarinos se beijavam enquanto faziam sua coreografia, com cambalhotas e sem qualquer trilha sonora, em frente à cadeira do ex-presidente —que ria e comentava a apresentação no ouvido de Gleisi e Amorim. Mais tarde, declarou: "Tem gente que pode ter ficado horrorizado com a performance, eu achei inusitado".

Ana Cañas cantou, a capela, "O Bêbado e o Equilibrista", música de João Bosco e Aldir Blanc imortalizada na voz de Elis Regina.

"Viva as travestis! Viva as mulheres negras!", bradaram as cantoras trans da Bahias e a Cozinha Mineira antes de interpretarem, junto com Cañas, "Velha Roupa Colorida", na qual Belchior falava do passado como "uma roupa que não me serve mais" e "de uma nova mudança que em breve vai acontecer".

Finalizou segurando Lula pela mão e cantando o verso final: "Sabe que o show de todo artista tem que continuar".

Odair José falou minutos depois de uma nova letra sua, que diz assim: "O presente está tentando pegar o futuro e levar para o passado".

Gustavo Mendes, que faz um cover de Dilma, disse que citaria "a grande filósofa contemporânea" e evocou uma música da cantora sertaneja Marilia Mendonça: "Ai, que saudade do meu ex".

Em breve, o humorista falou que o Brasil sofreu um golpe para que colocassem no poder "um homem que tem dificuldade de fazer xixi, mas faz cagada o tempo todo", em alusão a problemas urológicos de Michel Temer.

Antes de discursar, Lula convocou um "companheiro que não quer falar" e puxou pelo braço Raduan Nassar, notoriamente avesso a aparições públicas, mas que tem aberto exceções para participar de atos pró-PT.

"Eu voto no Lula, com certeza", o autor de "Lavoura Arcaica" se resumiu a dizer.





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