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Segunda - 07 de Outubro de 2019 às 08:13
Por: Allan Pereira/RD News

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Itallon Lourenço, psicólogo, vê machismo
Itallon Lourenço, psicólogo, vê machismo

Explodiu, esta semana, em Cuiabá, um caso de suposta importunação sexual, estupro e ameaça, envolvendo o jornalista Leonardo Heitor, de 38 anos. Pelo menos 20 mulheres, da cidade e também de Vitória (ES), onde morou por um tempo, se dizem vítimas de abordagens insistentes, usando inclusive um perfil fake. Segundo as vítimas, o jornalista mandava diversas vezes fotos de um pênis, afirmando ser dele e medir 24 centímetros, tamanho acima da média do homem brasileiro. Vítimas registraram boletim de ocorrência em massa.

Exposto, o acusado pediu desculpas públicas, afirmando que elas é que se sentiram assediadas e que não tinha a intenção de incomodar. Nega veementemente que tenha estuprado qualquer uma delas e que jamais as ameaçou. No entanto, ainda terá que dar explicações à polícia e ao Judiciário.

Mas por que os homens se veem no direito de importunar mulheres com pornografia, cantadas indelicadas, convites mil vezes negado? O psicólogo Itallon Lourenço afirma que o machismo faz com que eles as tratem como objetos. Sendo assim, podem agir de forma truculenta sem culpa. O sistema de dominação cultural permite comportamentos vetados pelo Código Penal.

“É o que se chama de masculinidade tóxica. Essa masculinidade que se impõe a partir da violência e a partir da negação do outro, em que você não se mostra o macho-alfa do lugar, é visto como homossexual, como menos homem”, comenta o psicólogo.

Itallon conta que, ao olhar a mulher como objeto, o homem a desumaniza, ou seja, anula sua condição humana e sua a existência.

É o que se chama de masculinidade tóxica. Essa masculinidade que se impõe a partir da violência e a partir da negação do outro, em que você não se mostra o macho-alfa do lugar, é visto como homossexual, como menos homem

Psicólogo Itallon

“Tem uma questão da autoridade também, dele se impor como macho, achar que a mulher tem o dever de agir como ele quer”, explica. Isto é o que permite as violências, como assédio, importunação sexual, agressão e outros crimes.

Ambos perdem

A masculinidade tóxica ou machismo não é bom nem para eles nem para elas. Homens morrem mais e as mulheres são violentadas. Homens também matam mais e também os que mais se suicidam.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 13,4 mil casos foram registrados em 2016. Deste total, 10,2 mil é homens, o que representa 76%.

Não é doença, é cultural

Itallon desvincula o machismo de patologias. “É cultural”, enfatiza. Sendo assim, nenhum remédio cura essa "infecção". Ver o agressor como um doente é atribuir um significado individual a um problema que é coletivo e social.

Aprende-se em casa a ser machista. “Uma série de atitudes são ensinados desde criança que, para serem identificados como homens e mulheres, precisam se enquadrar em uma série de comportamentos”, aponta. Os meninos são obrigados a demonstrar virilidade e não as fragilidades. O que também os desumaniza.

"Nós somos todos seres humanos. Quando o homem não tem possibilidade de exercer esses sentimentos e atitudes, acabam construindo sua forma de ver o mundo por meio da violência”.

Machismo em pauta

Arquivo Pessoal

Itallon Lourenço reunião sobre machismo

Homens reunidos para falar sobre machismo, violência e saúde mental

Desde 2018, Itallon desenvolve um trabalho social com adolescentes e adultos para falar sobre machismo, saúde mental, violência contra a mulher e de gênero. O objetivo é a conscientização sobre como o machismo afeta homens e mulheres em nossa sociedade.

“Falo sobre como os homens são ensinados a se comportar, desde criança, de forma violenta e autoritária. E, o quanto isso vem, com o tempo, construindo personalidades violentas”.

Itallon conta que propôs uma atividade aos rapazes de apontar sentimentos bons e negativos que tinham dificuldade de falar. Mas, por alguma razão particular, eles não se sentiam confortáveis ou encontravam abertura para externá-los. “Os principais foram medo e amor”.

Para o psicólogo, eles não conseguem externalizar o amor ou medo, com suas angústias, sofrimentos ou tristezas, para não serem visto como frágeis. Para eles, do contrário, seriam menos homens. “A masculinidade impede que sintam. Ficam muito acuados para demonstrar afeto e dizer que amam – não só à esposa, mas ao filho, amigo ou primo. O homem precisa a todo o momento ser o mais masculino possível para ser aceito e respeitado”.

Precisam, neste processo de desconstrução do machismo, entender que não significa não e aprender a respeitar a negativa da mulher.

Buscar ajuda

Quando o machismo forjar um abusador, com inclinação para agredir frequentemente, física ou psicologicamente, a orientação é que busque ajuda terapeutica. A terapia é uma forma de atendimento individual. A UFMT, Unic e Univag prestam este serviço gratuitamente ou por preço simbólico.





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