Diz Moro
Bolsonaro não priorizou combate à corrupção
Em entrevista à revista Veja que chega às bancas neste fim de semana, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou que o governo Bolsonaro nunca priorizou o combate à corrupção e que vai apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) provas contra o presidente Jair Bolsonaro.
Na entrevista, Moro disse que não aceitará ser chamado de mentiroso, em reação ao pronunciamento feito por Bolsonaro na última sexta-feira (24/4), horas após Moro anunciar que sairia do governo por falta de autonomia na Polícia Federal.
“Sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do governo foram surgindo no decorrer da gestão. Começou com a transferência do Coaf para o Ministério da Economia. O governo não se movimentou para impedir a mudança. Depois, veio o projeto anticrime. O Ministério da Justiça trabalhou muito para que essa lei fosse aprovada, mas ela sofreu algumas modificações no Congresso que impactavam a capacidade das instituições de enfrentar a corrupção. Recordo que praticamente implorei ao presidente que vetasse a figura do juiz de garantias, mas não fui atendido”, reclamou Moro na entrevista, realizada na última quarta-feira (29/4), em Brasília, no apartamento do ex-juiz.
Questionado se possui provas de que Bolsonaro teria interferido politicamente na PF, Moro não respondeu e repetiu o que disse em seu pronunciamento do dia 24 de abril. “Não teria nenhum problema em substituir o diretor da PF Maurício Valeixo, desde que houvesse uma causa, uma insuficiência de desempenho, um erro grave por ele cometido ou por algum de seus subordinados. Isso faz parte da administração pública, mas, como não me foi apresentada nenhuma causa justificada, entendi que não poderia aceitar essa substituição e saí do governo”, disse.
Indagado pela revista sobre quais seriam as motivações políticas de Bolsonaro para interferir na PF, Moro também não respondeu e disse que prestará mais esclarecimentos adicionais apenas quando for instado pela Justiça. “As provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça solicitar”, afirmou a maior estrela da Operação Lava Jato.
Pinóquio
Ao desmentir Sergio Moro negando que tenha feito qualquer tentativa de interferência política na PF, Bolsonaro acusou o ex-ministro de contingenciar a demissão do ex-diretor da PF, Maurício Valeixo, à indicação de uma nomeação a ministro do STF, em novembro. Sobre isso, Moro comentou que não poderia admitir ser chamado de mentiroso publicamente. “Ele [Bolsonaro] sabe quem está falando a verdade. Não só ele. Existem ministros dentro do governo que conhecem toda essa situação e sabem quem está falando a verdade”, completou.
“Oportunista”
De mocinho a vilão em um dia, Moro passou a ser o principal alvo da militância virtual de Jair Bolsonaro. Nas redes sociais, ataques e acusações de que foi traidor e oportunista tomaram conta durante todos os últimos seis dias. “Venho sendo atacado também por parte das pessoas que o apoiam politicamente. Tudo o que estou fazendo é responder a essas agressões, às inverdades, às tentativas de atingir minha reputação”, afirmou Moro.
Aham, Claudia!
Considerado em várias pesquisas de opinião para as eleições presidenciais de 2022, Sergio Moro declarou à Veja que não deve ser candidato a nada e vai focar sua atuação realizando “um trabalho técnico no setor privado”.
“Não tenho nenhuma pretensão eleitoral. Não me filiei a partido algum. Nunca foi meu plano. Estou num nível de trabalho intenso desde 2014 [quando teve início a Operação Lava Jato]. Quero folga. E não quero pensar em política neste momento”, revelou o ex-ministro de Bolsonaro.
No final de seu pronunciamento do dia 24 de abril, Moro disse que ainda não tem nada previsto sobre trabalho. “Vou descansar um pouco. Vou procurar um emprego. Não fiquei rico na política nem na magistratura”, declarou ele.
Logo em seguida Moro disse uma frase que alimentou a esperança de quem quer vê-lo presidente do Brasil: “Onde quer que eu esteja, estarei disponível ao meu país”.
Antes de aceitar ser ministro da Justiça de Bolsonaro, Moro afirmou, em pelo menos sete entrevistas, que não entraria para a política. O levantamento foi feito pela agência de checagem de fatos Lupa.
Comentários