Repórter News - reporternews.com.br
Ciência/Pesquisa
Sábado - 06 de Junho de 2020 às 06:36
Por: Bem Estar

    Imprimir


Uma parceria internacional entre cientistas realizou uma análise sobre a relação entre os coronavírus e os morcegos. No trabalho, o grupo analisa as sequências genéticas de 781 vírus da mesma família do Sars CoV-2. Segundo a revista "Science", mais de 30% deles não estavam descritos ainda na literatura.

A partir do estudo, os pesquisadores apontam que a hipótese principal é que o novo coronavírus seja derivado de um grupo de vírus originários de morcegos-ferradura.

Por que os morcegos, considerados possível fonte do coronavírus, transmitem tantas doenças

Isso porque, de acordo com os pesquisadores, há uma forte suspeita de que os morcegos sejam os responsáveis pela transmissão do coronavírus para os seres humanos - tanto no caso do Sars CoV-1, em 2002, quanto agora com o Sars CoV-2 causador da pandemia de 2020. Eles seriam uma espécie de "reservatório" da doença em constante transmissão.

A evolução e a diversidade da família coronavírus, no entanto, ainda não foi totalmente desvendada. Com análise estatística, mais a genética de todos os morcegos conhecidos até o momento e as centenas de amostras dos vírus, os pesquisadores tentaram ampliar o que sabemos sobre a transmissão entre espécies e a dispersão na China.

Eles não conseguiram confirmar a origem do Sars CoV-2. Entretanto, descobriram que há uma troca genética maior entre a família Rhinolophidae e, como meio crucial para a evolução da família coronavírus, está o gênero Rhinolophus.

Em entrevista à "Science", o autor do estudo, Peter Daszak, disse que "parece que, por pura má sorte filogeográfica, histórica e evolutiva, os Rhinolophus acabam sendo o principal reservatório de coronavírus relacionados à Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave)".

Estudo indica maior risco de morrer por Covid-19 em hipertensos e sugere manutenção de medicação

Vacina brasileira contra a Covid-19 entra em fase de testes em animais

"Em nossa análise filogenética, que inclui todos os coronavírus de morcegos conhecidos da China, descobrimos que o Sars CoV-2 é provavelmente derivado de um grupo de vírus originários de morcegos-ferradura (Rhinolophus spp.). A localização geográfica parece ser a província de Wuhan".

Junto à Daszk, outros 14 cientistas assinam o estudo. Entre eles, está a pesquisadora Shi Zheng-Li, especialista em morcegos pelo Instituo de Virologia de Wuhan. Foi ela que recebeu a primeira ligação do diretor do instituto chinês, ainda em dezembro, para contar que um novo vírus havia sido detectado em dois pacientes. Foi o início do que seria a pandemia de hoje.

Juntos, Daszk e Zheng-Li pesquisam a relação entre morcegos e coronavírus há duas décadas. Em outubro de 2013, na revista "Nature", um artigo da dupla já dizia: "Nossa descoberta de que morcegos portadores de SARS-CoV podem infectar diretamente seres humanos tem enormes implicações para medidas de controle de saúde pública".

Os dois pesquisadores seguiram capturando os morcegos e passando cotonetes para coleta de amostras. Juntaram fezes dos animais, o material genético e extraíram RNA para ampliar em laboratório. Eles construíram com o tempo uma árvore genealógica das espécies e, depois, com base no mapa genético viral, descobriram com a pandemia atual, em 2020, que um coronavírus encontrado nos Rhinolophus era 96,2% idêntico ao SARS CoV-2. Esse é o parente mais próximo já encontrado, de acordo com a "Science".

Por enquanto, não há um resultado sólido. O que o estudo mostra, de acordo com os autores, é a grande variedade de coronavírus existentes e como é difícil encontrar a "ponta do iceberg".

Cancelamento da verba pelo NIH

O grupo de pesquisadores de morcegos teve a verba cortada pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês). Depois disso, a EcoHealth Alliance, organização sem fins lucrativos dirigida por Daszk, recebeu milhões de dólares de doações e, então, a pesquisa seguiu.

O corte ocorreu em 24 de abril, quando o NIH informou que estava encerrando a concessão de verbas para os estudos de Daszk e Zheng-Li. O grupo de cientistas tinha renovado o contrato com o instituo americano em 2019. A justificativa para o corte: "a pesquisa não estava mais alinhada com as prioridades da agência".

O caso causou uma revolta entre pesquisadores americanos. A suspensão da verba pelo NIH ocorreu após políticos e parte da mídia dos Estados Unidos sugerirem, mesmo que sem provas, que o coronavírus havia surgido em um laboratório na cidade de Wuhan, "que empregaria uma virologista chinesa que recebe financiamento do instituto". Donald Trump foi questionado e disse: "Terminaremos com a doação rapidamente".

Com isso, 77 ganhadores do Nobel escreveram para o diretor do NIH, Francis Collins, e para o secretário de saúde e serviços humanos, Alex Azar, para que alguma medida fosse tomada e o apoio fosse mantido. Trinta e duas sociedades científicas também mandaram cartas pedindo transparência sobre os processos de decisão.





Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/436174/visualizar/