Queimadas aumentam poluição inalável principalmente à noite, mostra estudo da UFMT
Um estudo realizado pelo professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Rodrigo Marques mostra que as queimadas que acontecem em outros municípios aumentam a quantidade de partículas inaláveis no ar até mesmo em Cuiabá. A maior concentração desta poluição acontece à noite, devido à inversão térmica.
Em 2019, Mato grosso foi o estado líder em queimadas em comparação com o ano anterior, segundo dados do Instituto Centro de Vida (ICV), com base na plataforma do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Neste ano, os focos estão crescendo, e o fogo no Pantanal ainda não foi controlado.
A pesquisa do professor foi realizada em 2019, e mostrou que as queimadas provocadas durante o período de seca influenciam para que a concentração de material particulado inalável em Cuiabá seja acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), influenciando negativamente no tempo da capital e na saúde física da população.
Na época, o objetivo era verificar se se as queimadas ocorridas no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães poderiam afetar as concentrações do poluente em Cuiabá. Durante a noite, por conta da inversão térmica, foram encontradas concentrações de poluição chegando a 86,3 µg/m³, com uma média diária de 70,1 µg/m³, sendo que o recomendado pela OMS é que não supere 50 µg/m³. Dos 27 dias amostrados, entre 8 de setembro e 2 de outubro, seis dias não atendiam às recomendações. É necessário ressaltar que as altas concentrações também são causadas pelas queimadas que ocorrem em Cuiabá.
“No período noturno a concentração é maior por conta da inversão térmica, que é comum nos períodos secos e forma uma camada de ar frio próxima da superfície que impede a dispersão dos poluentes. Essas inversões prendem a fumaça e funcionam como se fossem uma tampa. Assim, forma-se uma névoa que não é de umidade, mas sim de fumaça”, explica o professor.
Segundo o docente, em Cuiabá as queimadas são as maiores responsáveis pela emissão de partículas que causam danos à saúde da população e, na região, elas ocorrem em um período em que as condições meteorológicas são as mais favoráveis para o acúmulo de poluentes, quando há escassez de chuvas. Desta forma, aumentam as concentrações de material particulado inalável, podendo provocar problemas respiratórios, cardíacos, renais e neurológicos, além de baixa defesa imunológica.
“A não incidência de chuvas propicia um maior acúmulo de partículas, assim, durante a estação seca as concentrações se elevam e a intensidade das queimadas está diretamente relacionada com a maior ou menor concentração de poluição”, destaca. De acordo com o docente, entre outubro e abril são verificadas baixas concentrações de partículas, caindo para 20 µg/m³, pois cerca de 90% das chuvas ocorrem neste período, o que facilita a dispersão dos poluentes na atmosfera e dificulta as queimadas.
De acordo com informações da assessoria de imprensa da UFMT, levando em consideração o atual período de seca na região e a pandemia do novo coronavírus e suas consequências para o sistema respiratório da população, “é extremamente importante que as pessoas entendam que não se deve realizar queimadas. Quando observo as características e comorbidades da Covid-19 fica claro que a fumaça pode contribuir para um aumento da gravidade dos casos, incluindo no crescimento do número de óbitos”, finaliza o professor.
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