Pesquisa busca contribuir para o registro e preservação das línguas indígenas brasileiras
Foto por: Acervo Faculdade Intercultural Indígena
Oficinas com os Nambikwara, na aldeia Asa Branca, município de Comodoro
Um grupo linguístico extremamente complexo e diferenciado das línguas já registradas e catalogadas no Brasil ou mesmo na América Latina, assim são definidas as 16 variedades faladas pelo povo Nambiquara, habitantes originários da região Noroeste de Mato Grosso, em terras indígenas localizadas entre os municípios de Comodoro e Pontes e Lacerda.
As diferentes línguas pertencentes à família Nambiquara não se assemelham a nenhuma das cerca de 40 línguas indígenas oficiais de Mato Grosso. Para se ter uma ideia da complexidade da sua estrutura, os estudiosos consideram que no português falado no Brasil existem 12 vogais (A, E, I, O, U e suas variações). Já na língua Nambiquara, são 60 vogais e um número ainda não definido de consoantes.
“É uma língua isolada. Tem tipologia e estrutura distintas de todas ao outras línguas conhecidas. Esse comportamento linguístico ainda não é compreendido. É um cenário ideal, por exemplo, para se testar novas teorias linguísticas. Uma teoria só é universal quando pode ser aplicada de modo universal”, explicou o professor da Unemat Wellington Pedrosa Quintino, doutor em linguística e cordenador do projeto.
Prof. Wellington Pedrosa Quintino coordena projeto. Foto: Moisés Bandeira.
O povo Nambiquara é conhecido na história da etnologia brasileira por ter sido estudado pelo renomado antropólogo Claude Lévi-Strauss, na década de 1930. À época, o pesquisador francês coletou dados de diferentes culturas indígenas do Brasil.
De lá para cá, apesar dos avanços nos estudos de documentação das línguas indígenas, uma grande parte delas já foi extinta e outras correm sério risco de extinção. Isso se deve, principalmente, ao fato de serem línguas sem escrita alfabética e também à necessidade de seus falantes comunicarem-se em português com o não-índio. Essas línguas correm o risco de perderem sua função social sem serem repassadas às gerações mais jovens.
“Descrever aspectos das gramáticas dessas línguas é possibilitar o estabelecimento de relações entre elas, o que teria uma repercussão direta na produção de materiais didáticos específicos para cada grupo linguístico” disse Quintino.
Parceria com Universidades Estrangeiras
Contribuir para o registro e preservação das línguas indígenas brasileiras, com esse objetivo foi construída a parceria entre a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Fundação de Apoio ao Ensino Superior Público Estadual (Faespe) e Universidade de Estocolmo (Suécia), uma das maiores e mais prestigiadas instituições de Ensino Superior da Escandinávia.
O aporte financeiro da instituição sueca tem possibilitado o pagamento de bolsas para consultores nativos que guardam conhecimentos valiosos da língua, pesquisador sênior, viagens mensais da equipe a campo, pagamento de diárias e formação do próprio corpus da pesquisa (gravação em áudio, tratamento e arquivamento do material para análises).
A pesquisa tem um prazo inicial de dois anos, podendo ser prorrogada. O prazo é considerado pequeno, quando se lida com uma estrutura linguística tão complexa. Os resultados obtidos vão possibilitar a produção de materiais didáticos para a Educação Básica das escolas indígenas e publicação de um livro com coletâneas de artigos sobre a riqueza das variedades linguísticas de comunidade indígenas de diferentes países, dentre elas, Brasil, Austrália, Colômbia e México.
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