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Quinta - 09 de Agosto de 2012 às 09:10
Por: Carolina Simiema

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Foto Pâmella facebook Goiás (Foto: Carolina Simiema/ G1)
Todos os dias a mãe vê fotos de Pâmella Munike em página de rede social  (Foto: Carolina Simiema/ G1)

 

Maria Aparecida Volpato, mãe da torcedora do Goiás Esporte Clube Pâmella Munike Volpato, de 17 anos, que morreu com um tiro na cabeça no ano passado, na Vila Mauá, em Goiânia, disse tentar, mas acredita que nunca será capaz de se recuperar da tragédia. Oito meses após o crime, em entrevista ao G1, ela revela que ainda não consegue visitar o túmulo onde Pâmella foi enterrada e que, diariamente, visita o perfil da filha no Facebook. Perdê-la, segundo ela, foi como se tivessem lhe tirado a própria vida: “Eles tiraram metade de mim. Fiquei sem vida agora. A saudade da Pâmella é muito grande. Todos os dias eu coloco uma foto dela no meu Facebook e escrevo alguma mensagem para ela. Além disso, também não vou ao cemitério desde o enterro dela", diz.

Se estivesse viva, Pâmella Munike teria completado 18 anos no dia 28 de julho. Maria Aparecida admite que, apesar de não ter raiva, ainda não conseguiu perdoar o assassino da filha. “Eu não o perdoo. Mas não tenho raiva mais. Eu não consigo ter raiva de ninguém. Se fosse a Pâmella, perdoaria. Foi a maior lição que ela deixou porque antes eu guardava mágoas, hoje não sou assim mais, mas perdoar é uma palavra forte ainda”, desabafa a mãe.
 

Pâmella Munike, torcedora do Goiás morta em novembro de 2011, em Goiânia (Foto: Arquivo pessoal)
Pâmella Munike, torcedora do Goiás morta em
novembro, em Goiânia (Foto: Arquivo pessoal)


 

A jovem fazia parte da torcida organizada do time esmeraldino, Força Jovem, e foi assassinada quando saía de uma festa, após o jogo entre o Goiás e o Vila Nova, no dia 6 de novembro. De acordo com informações da polícia, a garota estava na companhia do namorado e de dois primos, quando eles foram abordados por dois homens em uma moto. Segundo a polícia, o alvo dos disparos era o namorado dela, que teria se envolvido, minutos antes do crime, em uma briga entre torcidas rivais dos dois times. O rapaz não foi atingido.

Sonhos com a filha
A mãe diz que já foi consolada por Pâmella em sonho várias vezes: “Eu sonho muito com ela e sempre ela parece dizendo para eu parar de chorar, que ela está bem e que tudo isso aconteceu para unir ela ao Lucas Arantes [o jovem, que era da Sangue Colorado, torcida organizada do Vila Nova, também foi assassinado em junho de 2011 por brigas entre torcidas rivais]".

Pouca coisa mudou na rotina da família desde a morte da torcedora. O quarto de Pâmella, que é todo em verde e branco em homenagem ao time que torcia, continua o mesmo. “Tudo ficou do jeito que ela deixou, não quis mudar nada. É uma maneira de senti-la aqui comigo ainda. Na verdade, o que mudou é que hoje eu durmo na cama dela”, disse Maria Aparecida.

Ela afirma que tenta levar uma vida normal. Sair com a família e amigos voltou a fazer parte da rotina: “Eu saio, vou ao pagode. Reúno familiares e amigos em casa. Vou ao trabalho, mas sempre quando acordo e quando vou dormir a saudade bate, aí não tem jeito, me pego chorando. Sempre vai ter alguma comida, algum objeto que vai me lembrar dela. Às vezes, eu acordo pensando e durmo chorando”, confessa.

Para diminuir a saudade, Maria Aparecida conta que, às vezes, pega algumas roupas da filha para lavar ou arrumar nas gavetas. “Você sabe que um dia peguei todas as calcinhas dela e fui lavar, só para pensar que estou arrumando as coisas para ela, como fazia antes dela morrer”, revela.

Paixão pelo futebol
Por uma grande coincidência da vida, Maria Aparecida recebeu a notícia de que estava grávida de Pâmella em um dia 6 de novembro, mesma data que a filha morreu 17 anos depois. Ela nasceu com uma deficiência. Ela tinha uma doença chamada de útero bicorno e possuía só um rim.

Foto Pâmella caderno Goiás (Foto: Carolina Simiema/ G1)
Anotações feitas por Pâmella sobre o time
(Foto: Carolina Simiema/ G1)



 

De acordo com a mãe, a filha passou por vários tratamentos e iria fazer uma cirurgia para a correção do problema. “Por isso mesmo, a gente tinha uma atenção muito especial com ela. Ela era uma menina problemática nesse sentido. Inclusive, ela morreu em um domingo e na quarta-feira a gente iria levar os exames ao médico para podermos marcar uma cirurgia”, conta.

Além da doença, Pâmella se achava uma menina feia, magra demais. “O que deixava ela empolgada era esse Goiás dela. Queria engordar para poder se candidatar a musa do time”, conta sorrindo a mãe. A paixão pelo futebol nasceu de forma espontânea. “Todos na casa não eram tão ligados ao futebol como ela. O pai dela nem gostava tanto assim, veio dela mesmo”, lembra Maria Aparecida.

No quarto, fotos, mensagens, porta-retrato, canecas, roupas e acessórios têm o símbolo do Goiás. Os cadernos da estudante do 2º ano do ensino médio eram todos com dizeres sobre o time esmeraldino. Em um deles, a torcedora escreveu: “Dou minha vida por você, Goiás Esporte Clube”.

Até mesmo a casa da jovem é pintada de verde e branco: “Quando nós fomos pintar aqui ela praticamente nos obrigou a pintar nas cores do Goiás”, relembra Maria Aparecida, que conta sobre o casamento da filha e irmã mais velha de Pâmella: “A Pâmella foi madrinha de casamento da irmã e ela usou um vestido verde e ainda disse para eu usar também”, diverte-se a mãe.

Dou minha vida por você, Goiás"
Pâmella Munike

“Ela sempre foi apaixonada pelo Goiás, mas nunca havia se envolvido com brigas, não era aquele fanatismo sem limites”, descreveu Maria Aparecida sobre a paixão da filha pelo time esmeraldino.

De acordo com ela, Pâmella sempre gostou de ir aos jogos, de comprar roupas e de participar de tudo que envolvia o Goiás: “Ela me fazia comprar tudo que era do Goiás para ela e eu comprava, mas não sabia que isso ia gerar o que aconteceu. Para mim, era só uma menina encantada com o time”.

A preocupação veio depois de uma ameaça que Pâmella Munike teria recebido no colégio onde estudava. Segundo Walter Gonçalves Pereira, pai da jovem, a filha já havia sido ameaçada de morte por um torcedor do Vila Nova. “Ele era torcedor do Vila Nova e como ela era torcedora do Goiás ele disse que ia matá-la”, afirma.

Segundo o coordenador do colégio onde Pâmella estudava, Wesley França Martins, na ocasião, as medidas necessárias foram adotadas. “Chamamos o pessoal do Batalhão Escolar e eles registraram essa ocorrência. Os meninos falaram que não ia acontecer nada. Não há como confirmar que o assassinato tenha sido fruto dessa ameaça. Isso tem que ser investigado”, ressalta.

A partir daí, a mãe começou a se preocupar. “Eu a proibi de ir ao estádio e fiz ela prometer para mim que ia largar isso. Ela disse que sim”, lamenta. A preocupação aumentou ainda mais com a morte do jovem Lucas Arantes, também motivada por torcidas rivais. “Então, eu vi que o negócio estava sério. Se eu pudesse voltar atrás, jamais permitiria que a minha filha fizesse parte disso”.

Pâmella começou a namorar um jovem de 18 anos, também torcedor do Goiás. Segundo a mãe, a família gostava dele: “Era um menino calmo, tranquilo. A gente conhecia a família dele”, descreve Maria Aparecida. O namoro estava no início, mas a mãe sentia confiança no jovem para levá-la ao estádio para acompanhar os jogos do Goiás. “Ele levava e a trazia de volta aqui sempre direitinho, então achei que não tinha mais problemas”.

Foto Pâmella mural Goiás (Foto: Carolina Simiema/ G1)
Fotos da torcedora em um mural no quarto
(Foto: Carolina Simiema/ G1)



 

O crime
A mãe de Pâmella Munike conta que a filha, ao sair da festa que tinha ido com o namorado após o jogo entre Goiás e Vila Nova, pediu à mãe que fosse buscá-la. “No caminho, então, eu recebi uma ligação do meu sobrinho desesperado e mal conseguia falar, eu já sabia que era alguma coisa com a Pâmella e liguei no celular dela, mas não atendeu”, conta Maria Aparecida.

Ao chegar ao local da festa, a jovem já estava morta. “Foi uma sensação horrível, não deu tempo nem de socorrê-la”. Por isso, a mãe conta que nunca mais conseguiu passar novamente no local do crime. “Se eu tiver que ir em algum lugar por ali, eu prefiro mudar o caminho. É uma sensação horrível, parece que estou vivendo tudo de novo”, relata.

O pai da vítima, Walter Gonçalves, relata como foi encontrar a filha sem vida. “Ver ela daquele jeito foi a pior sensação do mundo, Eu queria estar no lugar dela, não queria ter presenciado aquilo”, declara. Ele acrescenta: “Perdi a coisa que eu mais amava no mundo por causa de futebol. Um filho tem que enterrar um pai e não um pai enterrar um filho”.

Segundo a polícia, a morte de Pâmella teria ligação com o assassinato do torcedor Lucas Arantes. O namorado dela apareceu em fotos em sites de relacionamento na internet ao lado de um caixão com as iniciais do vilanovense. Dois integrantes da Sangue Colorado decidiram matar o torcedor esmeraldino para vingar Lucas, mas acabaram atingindo a garota.

Bastante emocionada, Maria Aparecida falou também sobre uma característica da filha. Ela gostava de homenagear com fotos e mensagens em sua página de relacionamentos as pessoas mortas. “Mal sabíamos que agora ela é quem seria a homenageada. Eu gosto quando as pessoas fazem isso. Uma vez resolvi de repente ir em um jogo do Goiás, fui com minha outra filha, e lá eles levaram um pano gigante com a foto da Pâmella. Resolvi tatuar o nome dela no meu braço também e outras 16 pessoas, que eu sei, também fizeram isso”, relembra.

Suspeitos
Um mês após o crime, a polícia apresentou três suspeitos de terem participado da morte da torcedora. Dois dos rapazes são membros da torcida organizada do Vila Nova, a Sangue Colorado. Um terceiro jovem foi preso por posse ilegal da suposta arma do crime e de munições.

Após audiência, dois foram liberados. Segundo a delegada da Delegacia de Homicídios, Adriana Barros, ficou confirmada a participação de um deles. O caso já foi remetido para o Poder Judiciário. O suspeito está detido.

Foto Pâmella quarto Goiás (Foto: Carolina Simiema/ G1)
Mãe mostra objetos da filha no quarto, que é verde em homenagem ao Goiás (Foto: Carolina Simiema/ G1)




Fonte: Do G1 GO

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