Coronavírus
Presidente reconhece que Judiciário vive "escolha de Sofia" e cita abalo emociona
Com mais de 100 pessoas com aguardando uma vaga em UTIs em Mato Grosso, muitas famílias recorrem à Justiça buscando garantir atendimento aos doentes vítimas da Covid-19. Sem leitos disponíveis, os juízes acabam se vendo numa situação onde a decisão implica na difícil “escolha de Sofia”. Isso porque vão ajudar a "escolher" quem vai ter direito ao leito. Enquanto isso, alguns podem morrer esperando a vaga.
A presidente do Tribunal de Justiça, Maria Helena Gargaglione Póvoas, revela que os colegas do Judiciário têm apresentado abalos emocionais diante do quadro.
“O juiz, ao decidir sobre esses casos, se emociona. Isso não é fragilidade, é humanidade, é emoção e só um psicopata não tem emoções”
Presidente do TJ, Maria Helena“Assim como um médico lacrimeja os olhos quando falam da situação precária da saúde, pois tem que escolher quem vai viver ou morrer, o juiz também ao decidir na situação, se emociona e isso não é fragilidade, é humanidade. Isso é emoção de um ser humano, só um psicopata não tem emoções”, conta.
Há quase 1 ano desde o primeiro caso de Covid em MT, já foram mais de 6.330 vítimas fatais e o sistema de saúde está colapsado. A lotação das UTI está no seu limite há mais de uma semana e o número de casos só aumenta. Segundo último boletim, divulgado neste sábado (13), das 271.765 pessoas infectadas, 469 estão em UTIs, 480 em enfermarias públicas e outras 12.237 em isolamento domiciliar. Até agora, 251.394 se recuperaram.
Reprodução/TV Globo
Há mais de uma semana a lotação de UTIs em Mato Grosso passa de 100%
“Todos somos pessoas que, de alguma forma, já perdemos familiares e amigos próximos. Essa pandemia não começou hoje e já temos um ano lutando”, lamenta a desembargadora.
Em todo o país, o caos nos hospitais tem levado também à sobrecarga de processos judiciais. A situação no Rio Grande do Sul, levou o desembargador João Barcelos de Souza Junior a negar o pedido de paciente com Covid-19 que tentava conseguir um leito. Ele lamentou e justificou que não tem “o poder de modificar a realidade fática da grave situação que se instaurou e que, infelizmente, salvo algum milagre, piorará nos próximos dias".
A presidente do Tribunal de Justiça também comenta o embate no Judiciário para se "abrir ou fechar" atividades econômicas. Ressalta a angústia do Judiciário em buscar a melhor decisão.
“Estamos vivendo diante uma situação em que todos estamos temerosos não só com o quadro que se apesenta, mas também com a decisão que temos que tomar. O médico sem saber quem vai viver ou morrer. O juiz, se acata um decreto que determina a abertura do comércio, pode estar jogando a população numa situação pior. Se ele fala que não pode abrir, causa um problema econômico também muito sério. Estamos todos em um barco bastante confuso”, conclui Maria Helena.
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