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Meio Ambiente
Quinta - 18 de Março de 2021 às 13:39
Por: Joanice de Deus/Diário de Cuiabá

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Iberê Périssé/Projeto Solos
Não é possível prever se o Pantanal enfrentará outras secas severas nos próximos anos
Não é possível prever se o Pantanal enfrentará outras secas severas nos próximos anos

Em 2020, o Pantanal enfrentou a pior seca já registrada nos últimos 50 anos, em Mato Grosso.

A causa foi um fenômeno meteorológico natural similar ao que causou a crise hídrica no Estado de São Paulo, entre 2014 e 2016.

É o que revela um estudo realizado por pesquisadores, por meio de um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Os resultados foram publicados na revista "Frontiers in Water".

Maior planície de inundação contínua do mundo, o Pantanal se estende pelo vizinho Mato Grosso do Sul.

No ano passado, sofreu um dos períodos climáticos mais críticos de sua história com seca rigorosa associada à propagação recorde de incêndios florestais.

Para se ter uma ideia, o principal rio que abastece o ecossistema, o Paraguai, passou por um momento crítico com o nível do curso de água, atingido uma lâmina d'água de 54 centímetros, na região de Cáceres (225 km a Oeste de Cuiabá).

Além disso, as queimadas consumiram cerca de 30% do bioma pantaneiro e inúmeros animais morreram carbonizados.

“A seca recente no Pantanal foi causada por um fenômeno que chamamos de bloqueio meteorológico, caracterizado pelo surgimento de uma área de alta pressão que impediu a formação de chuva em toda a região do Centro-Oeste da América do Sul. Consequentemente, a temperatura ficou muito alta e a umidade relativa, muito baixa”, disse ,à Agência Fapesp, José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres (Cemaden) e coordenador do estudo.

A iniciativa faz parte do Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais e tem a parceria de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Eles, conforme informações da Agência de Notícias da Fapesp, usaram uma ampla gama de fontes de dados observacionais de hidrologia referentes ao nível do Rio Paraguai e também sobre chuva, clima e índices de teleconexões atmosféricas ou uma estimativa de como fenômenos climáticos extremos estão conectados para identificar mudanças na circulação de ventos.

Além disso, usaram informações sobre o uso da terra e empregaram índices derivados de fontes de sensoriamento para caracterizar o estresse hídrico e a seca no bioma.

"Com base nesse conjunto de dados, foi possível descrever a variabilidade interanual da precipitação, do fluxo do Rio Paraguai e variáveis relacionadas com a seca. As análises dos dados indicaram que uma complexa combinação de teleconexões hidroclimáticas esteve por trás da seca recente na região", informou.

O relatório aponta ainda que a falta de precipitações, entre os verões de 2019 e 2020 no bioma, está relacionada com a redução do transporte de ar quente e úmido do verão da Amazônia para a região.

Conforme Margengo, a combinação de falta de chuva com temperaturas altas e umidade relativa muito baixa levou ao aumento de risco de incêndios florestais.

Assim, o uso do fogo para limpar terreno para pecuária contribui para aumentar os focos de incêndio na região, que ficam mais difíceis de serem combatidos em razão da falta de chuvas.

“O fogo causado de um lado pelo ar mais quente e a falta de chuvas no Pantanal e de outro pelo queima de áreas para pecuária na região resultou no desastre ambiental que vimos no bioma”, reforçou.

A estiagem também não pode ser relacionada às mudanças climáticas globais porque é um evento meteorológico de causa natural, enquanto as alterações no clima são um processo de longo prazo.

Ainda segundo a Agência, não é possível prever se o Pantanal enfrentará outras secas severas nos próximos anos.

Mas, para que a situação não se repita, é preciso que as chuvas no bioma comecem e sejam abundantes no momento certo.

“Não adianta chover agora, em março, no fim da estação chuvosa, e depois entre dezembro deste ano e fevereiro de 2022, por exemplo. Dessa forma, a estação chuvosa fica comprometida e aumenta o risco de elevação de focos de incêndio no Pantanal”, completou.





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