Zé bolo flõ
Livro resgata a vida e a obra do poeta andarilho de Cuiabá José Inácio da Silva marcou época em Cuiabá; livro foi escrito pelo memorialista Francisco das Chagas Rocha
Um livro recém-lançado está resgatando a história de um personagem que marcou época em Cuiabá.
Intitulada “Zé Bolo Flô – Andarilho e Poeta Cuiabano”, a obra reúne registros e relatos da trajetória de José Inácio da Silva, cujo apelido hoje dá nome a um parque na Capital.
Escrito pelo memorialista Francisco das Chagas Rocha, de 50 anos, o livro descreve o personagem como “um Zé peregrino, um Zé meio louco, um Zé poeta. Era um cara com um semblante ingênuo e uma alegria contagiante”, diz o escritor.
Essa história não tem um registro exato de quando começou. Entretanto, ao longo dos anos 60, essa figura conquistou um espaço simbólico na memória da cidade.
Zé Bolo Flô cresceu sem os pais e estudou em um colégio de padres. Ainda jovem foi acometido por uma doença mental, que com o passar dos anos se manifestou de forma mais severa.
Um Zé peregrino, um Zé meio louco, um Zé poeta. Era um cara com um semblante ingênuo e uma alegria contagiante
“O que me marcou bastante na sua história é que ele se tornou diferente das outras pessoas que viviam como ele na rua. Ele era essa pessoa que compunha, que cantava, que era alegre”, conta o escritor.
O nome Zé Bolo Flô deriva de uma abreviação que se formou ao longo dos anos, e foi feita pela própria população.
“Quando ele era novo vendia bolo nas ruas e o formato desse bolo era o de uma flor. A criançada, quando o avistava de longe, já gritava: ‘Lá vem o Zé que vende o bolo parecido com uma flor’. Foram abreviando e virou Zé Bolo Flô”, conta.
“Nas marchinhas e carnavais de rua ele não era inserido. Ele não fazia parte daqueles blocos carnavalescos, mas por si só entrava na frente dos blocos”, aponta Francisco.
Essa conhecida figura popular morreu em 1983 após ser internado no Hospital Adauto Botelho.
Arquivo pessoal
Zé Bolo Flô em uma comemoração religiosa
Após a sua, morte ganhou espaço no Carnaval da Capital e as pessoas começaram a cantar suas marchinhas.
O historiador diz que o conteúdo de suas composições era ingênuo e alegre. “Ele falava de mulheres, do Carnaval, de Dom Aquino, de Cuiabá, coisas bem inocentes mesmo”.
Personagem ainda vivo na memória
Nas redes sociais, a notícia da publicação de uma biografia sobre Zé Bolo Flô movimentou os usuários. Muitos compartilharam suas recordações sobre o personagem.
“Quando era criança, sempre ouvia falar desse ícone de Cuiabá. Resgatar o passado é preservar a cultura de um povo para as futuras gerações”, diz uma das mensagens sobre a importância da obra.
O autor e sua obra
Esse é o primeiro livro produzido por Francisco e foi lançado virtualmente em 8 de abril, uma homenagem ao aniversário de Cuiabá.
A construção do material vem de longa data e é rica em detalhes. “Eu já catalogava as histórias dele há um certo tempo, desde a década de 90, mais ou menos”, diz Francisco.
Arquivo pessoal
Zé Bolo Flô em uma festa de santo
Apesar do interesse por um personagem tipicamente cuiabano, o escritor pode ser considerado um pau-rodado. Francisco nasceu em Cruzeta (RN) e chegou em Mato Grosso em 1986. Desde então coleciona relatos da História do Estado.
Com três décadas de pesquisa, Francisco é curador do maior acervo documental privado de Cuiabá. Na sua coleção ele reúne fotos, livros e outros documentos.
O memorialista também é administrador da página “Cuiabá de Antigamente”, que conta com mais de 130 mil membros no Facebook.
Para ele, o principal objetivo é manter a história viva para quem ainda está por vir.
“Eu resolvi fazer esse trabalho para que as gerações futuras tenham um registro palpável sobre Zé Bolo Flô. Com esse jeito simples de ser, ele deixou um legado na musicalidade e inspirou tanta gente a ouvir suas marchinhas, a tentar fazer sucesso com aquilo que ele produziu”, afirma sobre a contribuição do seu trabalho.
A pré-venda contou com 200 exemplares no valor de R$ 30 reais cada. Até o final do mês de abril os livros estarão em Cuiabá e serão entregues com uma dedicatória do escritor.
Comentários